Capítulo 7

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P.O.V Mickey Milkovich

Ele quase me beijou! E eu quase deixei... Isso que é o pior, por um momento eu vi aqueles olhos verdes e senti vontade de me deixar levar, de deixar ele me beijar e ver o que acontecia. Mas no último momento, a minha consciência voltou e eu me dei conta do que estava prestes a fazer.

— Mickey? - Iggy perguntou assim que me viu passar pela sala, mas o meu silêncio foi o suficiente para indicar que eu não queria conversar com ninguém hoje.

Entrei no meu quarto, pensando na noite de hoje e em como eu tinha me divertido com o Gallagher. Por mais que eu tentasse negar, não conseguia, porque por mais idiota que o ruivo fosse, ele era estupidamente ridículo de um jeito que me fazia sentir vontade de continuar por perto, de saber qual seria a próxima surpresa, o próximo presente maluco ou a próxima piada besta que ele faria. Tragicamente, eu me dei conta, de que não sentia apenas uma atração física por Gallagher, o que já seria ruim o suficiente! Mas não, eu estava gostando da companhia dele e pior, eu quero passar mais tempo com ele.. era como se ele fosse alguém... especial.

Assim que essa palavra surgiu na minha mente, uma lembrança tomou conta de mim e eu ouvi a voz da minha mãe naquele dia. Eu era pequeno, tinha tido um pesadelo depois do dia horrível na casa dos Milkoviches e depois que  Terry saiu, eu tomei coragem e fui atrás dela, querendo sentir ao menos algum conforto, saber que ela estava bem e que poderíamos passar um tempo juntos.

— Mãe? - Eu me lembro de ter perguntado na época, sentindo medo pelo silêncio opressor depois de tanto barulho e gritaria.

Naquele dia, eu achei minha mãe sentada no sofá, com hematomas que já eram característicos da casa Milkovich. Ela, eu, Iggy e até mesmo Mandy, nos piores dias, tinham elas no corpo, mas as marcas da minha mãe eram sempre as piores.

Mesmo assim, eu tinha ficado feliz ao ver que os olhos dela não estavam vidrados e dava pra ver que ela não tava entupida de droga.

— Vem cá, Mikhailo. - Ela tinha falado assim que me viu e eu corri pro colo dela, preocupado, esperando que meu abraço fosse suficiente para levar todo o mal que machucava ela embora.

Eu lembro dela me abraçando forte naquele dia, me contando histórias com a voz suave dela e me falando sobre a lição dessas histórias. Ela falava sobre casais que se amavam e beijos que eram uma forma de manifestação desse amor e eu ficava confuso, porque nunca vi nada disso na relação dela com Terry.

Olhando as coisas hoje em dia, eu me pergunto se essas histórias não era mais pro consolo dela do que pro meu, talvez era a forma dela tentar fantasiar sóbria sobre uma vida que ela jamais teria ao lado daquele monstro. Os meus pensamentos continuam correndo e eu só lembro daquela frase que ela me dizia:

"Beijo é um presente que se dá a uma pessoa especial, Mikhailo, e isso ninguém pode arrancar de você."

Por mais idiota que fosse, eu segui esse conselho e nunca beijei alguém, entre becos sujos eu encontrava caras dispostos a foderem escondidos sem revelar nada a ninguém, mas eu nunca senti vontade de beijá-los.

Eu olhei pro buquê de maconha que aquele idiota ruivo havia me dado e eu lembrei da sensação que senti há pouco tempo atrás, porque eu queria aquele beijo, porque eu sabia que ele não era igual à aqueles caras dos becos, mas ao mesmo tempo, eu não conseguia dar aquele beijo, principalmente com aquele fantasma de Terry sempre rondando a minha cabeça.

— Mickey? - Eu ouvi a voz de Mandy na porta e dei de cara com ela perto da porta me olhando e parecendo confusa.

— O que você quer, Mandy? Hoje eu não tô afim de conversa. - Ela pareceu entender que eu estava realmente nervoso, porque querendo ou não, Mandy era a pessoa que mais me conhecia atualmente, mais até que Iggy, porque estávamos lá juntos passando por toda a merda do nosso pai que nos olhava como se tivéssemos cometido um crime ao parecer mais com nossa mãe do que com ele. Depois que ela morreu tudo virou um inferno e era como se o ódio de Terry se multiplicasse ainda mais.

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