Dia I

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Boa leitura!

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-Pode entrar, pode entrar! - minha mãe diz enquanto puxava Eddie para dentro e arrumava a franja do garoto. Minha mãe não conhece a palavra limites.

Eu esperava que ele viesse com a mãe e uma lista enorme de recomendações. Mas pelo contrário, ele está aqui, sozinho.

-Meus pais pegaram o voo para o Chile de manhã - ele se explica para a minha mãe.

Acho que os dois já tiveram uns bons dois minutos de conversa enquanto eu estou aqui, parado, observando. Fazendo o possível para suar menos, não vomitar ou cair no chão porque minhas pernas estão bambas (maldita seja ansiedade!). Ah, e eu ainda tenho que parecer normal.

-Ajuda ele com a mala, filho! - minha mãe diz, estralando os dedos em frente ao meu rosto, me fazendo voltar para a realidade.

Uma realidade cujo eu estou levando para o meu quarto uma mala de rodinhas com estampa de oncinha gigante e cheia de roupas do meu vizinho gato que, por sinal, vai passar os próximos quinze dias aqui. Comigo. Respiro fundo enquanto deixo a mala no canto, entre o armário e a escrivaninha. E então respiro fundo mais uma vez, isso faz com que o tremelique passe um pouco e a vontade de vomitar um pouco mais.

-Desculpa o exagero da mala. Coisa da minha mãe - Eddie diz, surgindo do nada na porta do meu quarto e me dando um susto de leve, que eu tento disfarçar com um sorriso amarelo.

Eu não digo nada, porque não sei o que dizer. Quero mostrar que eu sou engraçado, mas das quatro piadas que vem à minha mente, duas exigem um entendimento vasto de Hora de Aventura, uma iria ofender a mãe dele e a outra era meio errada de fazer.

-Meninos! Almoço! - minha mãe grita, me salvando dessa situação constrangedora.

-Vou tomar um banho e já vou! - grito de volta, correndo para o banheiro e deixando para trás. 

Quando entro no banheiro, consigo finalmente respirar aliviado. O banho me relaxa e aqui eu sou capaz de pensar tranquilamente, algo que é praticamente impossível com o Eddie perto de mim. Eu sou profissional em fingir ser outra coisa para agradar alguém E também sou agradável de estar perto(eu acho). No fim, ele é só como qualquer outra visita.

É só eu fingir que é a tia-avó Letícia, que sempre vem no feriado dos finados para visitar o túmulo do marido dela que morreu, e já aproveita para passar uma semana aqui direto. A tia Letícia sempre coloca coentro na comida e não gosta que eu fique quieto em casa, provavelmente Eddie não vai fazer nada disso, então vai ser ainda mais fácil.

Quando saio do banho, já estou mais tranquilo, é só mais uma daquelas vezes que eu "deixei a ansiedade vencer" digamos assim, simplificando, eu só fiz drama por nada e vai ser super-hiper-mega tranquilo. Chega até ser engraçado, eu consigo até rir de mim mesmo, mas não vou rir, se não vou parecer doido. Quando vou me vestir eu me toco que eu não trouxe nenhuma roupa limpa. Aqui no banheiro só há um monte de roupa suada.

Preciso pensar rápido, não quero que o Eddie pense que eu estou demorando no banheiro, porque todo mundo sabe que se um garoto da minha idade demora muito no banheiro provavelmente ele tá batendo punheta. Eu definitivamente não quero isso.

Coloco a orelha na porta para ouvir o que se passava do lado de fora. Ouço minha mãe conversando na cozinha. Eddie está almoçando. Dá para eu atravessar correndo até meu quarto sem me virem. Eu me enrolo na minha toalha do Homem-Aranha (por ser a primeira que eu achei), coloco a música de Missão Impossível na minha cabeça e vou ao meu quarto em passos longos e rápidos.

Quinze Dias - Reddie (BL)Onde histórias criam vida. Descubra agora