Dia 4

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Boa leitura!

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Acordo com a luz sol entrando pela janela e a primeira coisa que eu percebo é o ronco do Eddie. Na verdade, chamar de ronco é meter muito o louco. Tá mais pra um ronronado do que um ronco, sendo honesto. Ele não dorme de boca aberta. Na verdade, a boca dele está fechada quase num sorriso (eu acho que, no fundo ele sabe que eu tô observando ele), enquanto eu tô com uma daquelas casquinhas de baba seca na bochecha, o cabelo todo embolado parecendo um ninho de rato e uma das minhas meias foi para o escambau. Eu esfrego a mão no rosto a fim de tirar as casquinhas e tento arrumar meu cabelo. Ele não pode me ver assim.

-Bom dia - Eddie diz meio grogue e com a cara mal-humorada.

Eu começo a suar (novidade) frio porque eu não sei como agir. Ontem eu fui muito bem, mas agora é totalmente diferente. Porque as luzes não estão mais apagadas.

Mesmo que Eddie não esteja me olhando a presença dele faz com que eu me sinta observado. Eu já estou acostumado com os outros olhares e também que se foda esses outros olhares, mas os dele. Eu nunca vou me acostumar com isso. Até porque, quem se acostuma com um olhar que faz parecer que você foi atingido por um raio laser e que seus órgãos estão derretendo dentro de você? De uma forma boa, mas esquisita pra caralho.

-Como é bom dormir numa cama de verdade de novo! - Eddie fala, já que nem ao bom dia eu respondi.

-Que bom - respondo simplista e também parecendo um cuzão sem mãe, mas é o máximo que eu consigo dizer agora.

Eddie desiste de manter qualquer diálogo comigo e começa a trocar mensagens com alguém mais interessante que eu. No caso qualquer pessoa mesmo. Na verdade, qualquer ser vivo é mais interessante que eu.

Não temos tempo para gastar nesse silêncio até ele ficar insustentável porque minha mãe bate na porta, entra e falando alto toda apressada.

-Richie, hoje é dia de ONG e eu me esqueci completamente, portanto não tem almoço feito para vocês. Compra qualquer coisa pronta no mercado! - avisa rapidamente e joga uma nota de cinquenta reais na minha cara.

No começo do ano minha mãe começou um trabalho voluntário numa ONG que ajuda uma comunidade carente aqui da cidade. Ela vai para lá toda segunda-feira e dá uma aula de artes para crianças carentes de todas as idades. Aula, na verdade é um rótulo bem errado de pôr, porque não tem provas, nem lição de casa, nem nenhuma dessas merdas ai. Minha mãe só leva seus materiais e ajuda as crianças a fazerem qualquer tipo de trabalho que eles quiserem. Pinturas a mão, esculturas, colagens, fotografias, uma penca de coisas, sendo honesto. Eles sempre aprendem coisas novas e minha mãe diz que gosta de ensinar que faz com que ela se sinta bem.

Penso rápido nas minhas opções; minha mãe vai pra ONG e normalmente só volta a noite e eu sou obrigado a ficar sozinho em casa com o Eddie sem trocar uma palavra com ele, o que eu não acho que vou aguentar, ou eu vou com ela, tenho um dia diferente, pra variar, e ajudo ela com as crianças. A resposta é óbvia.

-Posso ir com você? - pergunto, torcendo para um sim, antes que ela saia do quarto correndo.

-Mas e o Eddie? 

-Oi! - ele fala, finalmente tirando os olhos do celular, ele provavelmente tá alheio sobre tudo que a gente tá falando. - Bom dia, dona Beverly! O quê que tem eu? - pergunta. Eu falei. Totalmente alheio.

-Bom dia, querido. Estou indo para a ONG. Eu dou aula de artes toda segunda para um grupo de crianças maravilh...

-Eu topo! - ele fala antes mesmo da minha mãe terminar a frase. Ele tá tão animado para não passar o dia inteiro sozinho comigo.

Quinze Dias - Reddie (BL)Onde histórias criam vida. Descubra agora