Dia 3

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Boa leitura!

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Já passa de meio-dia quando eu acordo. Dois dias de férias e eu já ferrei meu horário de sono. Quando eu saio do quarto, procuro minha mãe e o Eddie, mas não encontro ninguém. Nosso apartamento é pequeno então eu consigo olhar tudo rapidamente. Enquanto eu ligava para minha mãe eu penso na possibilidade de "sequestro", "abdução alienígena" e "apocalipse zumbi".

Quando eu ligo, cai direto na caixa postal. Provavelmente ela está sem bateria por ter jogado Candy Crush antes de dormir. Penso em ligar para o Eddie, mas eu não tenho o número dele. Entro em desespero, imagina? Ter que negociar a vida da minha mãe com um sequestrador. Ou pior, ter que negociar a raça humana com alienígenas que provavelmente não falam a minha língua.

Eu fico desesperado andando de lado pro outro, com a esperança de que a minha mãe e Eddie vão pular de trás dos móveis gritando "surpresa!!" a qualquer momento. Logo sinto meu estômago roncando e me sinto um monstro por estar com fome nesse momento. Mesmo assim, eu vou procurar comida na cozinha. Quando eu chego na cozinha, vejo um bilhete na geladeira, e isso faz meu coração se acalmar.

    Richie,
    Não consegui te acordar de jeito nenhum! Levei o Eddie para o shopping comigo.
    Tem comida pra você no micro-ondas. Só esquentar!
    Te amo!  ❤

E logo abaixo, numa letra que eu não reconheço, está escrito:

OBRIGADO PELO LIVRO! ;)

Três palavras e uma piscadinha. Pelo menos eu chuto que é uma piscadinha. Não dá pra afirmar porque a letra do Eddie é meio feia (ninguém é perfeito). Então entre acreditar que é uma piscadinha ou entre acreditar que é só um ponto de exclamação feio, eu prefiro crer que é uma piscadinha. Uma piscadinha e eu não paro de sorrir. Pelo jeito que eu estou sorrindo parece que ele me deu um abraço e um vale-beijo. Mas não. Foram três palavras e uma piscadinha.

A piscadinha é algo bom, certo? É um emote ou carinha de flerte. Deve significar que ele me perdoou. Que ele está disposto a me dar uma chance e também está agradecido pelo livro. Essa possibilidade me dá tanta empolgação que eu até me esqueço que eu tenho de comer. 

Balanço a minha cabeça para acordar desse sonho onde Eddie FLERTA comigo e vou esquentar meu almoço. Como enquanto observava os minutos passarem no relógio do micro-ondas. O relógio estava três horas atrasado, mas nem eu, nem minha mãe nos lembramos de arrumar isso.

Eu tenho o dia inteiro, então eu poderia muito bem gastar esse tempo em meus projetos pessoais. Mas eu realmente sou a pior pessoa no quesito projetos pessoais.

Já tentei escrever uma história em quadrinhos que se passava numa escola. Na minha escola. Uma explosão num laboratório fictício (porque minha escola não tem verba nem para dar alguma coisa além de cream creaker e suco de merenda, imagina ter um laboratório) deu superpoderes para os meus professores. Os meus favoritos eram heróis e os que eu menos gostava eram vilões. Mas eu desisti porque: a) eu definitivamente não sei desenhar e b) nunca poderia ser publicado por causa do conteúdo altamente ofensivo sobre o meu professor de física.

Depois que eu percebi que eu era uma negação em desenhar, decidi transformar minhas angústias e minhas viagens em pequenos contos. Eu gostei do resultado, tanto que até decidi publica-las. Eu criei um blog, publiquei elas, porém ninguém leu. Desisti desse projeto também.

Eu sempre fui fã de rock e os sub-gêneros, e pá, então eu decidi aprender a tocar guitarra. Minha mãe não deixou porque aparentemente guitarra é muito mais caro que violão, sendo o que ela me comprou. Eu fazia aulas com o sr. Luís, que é um aposentado da vizinhança que dá aulas de música. Passei a dois meses aprendendo (tentando aprender, na verdade), mas na primeira aula eu já sabia que não ia dar nada certo. Eu não tenho nenhum ritmo. Não consigo tocar violão, bater palmas ou assobiar.

Quinze Dias - Reddie (BL)Onde histórias criam vida. Descubra agora