Dia 5

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Boa leitura!

1

Acordo com a voz de Eddie falando baixinho com alguém no telefone. Eu não quero interromper a conversa então finjo que ainda estou dormindo. Sei que é errado ouvir a conversa dos outros, mas eu estou com muito sono para pensar numa saída.

-Sim, mãe! Eu já disse, eu tô tomando banho todo dia, a comida é boa e eu vou ter roupa limpa até vocês voltarem - sua voz tinha um certo tom de irritação.

A ligação não está no viva-voz, mas ainda assim eu consigo ouvir sua voz. Não consigo entender tudo o que ela está falando mas eu consigo perceber que ela está irritada. Ela sempre foi desse tipo. Do tipo que grita.

-Tudo bem, tudo bem. Assim que a Beverly acordar eu peço pra ela ligar pra senhora. Mas, sério, não precisa disso, eu não sou crian... - ele é interrompido pela mãe que continuava falando sem parar.

De repente, ela diz algo que faz Eddie soltar um suspiro longo e impaciente. Aparentemente, ela também ouviu porque alguns segundos, ele está se explicando.

-Não, mãe, eu não estou bufando. Olha, está cedo. A gente se fala mais tarde. Está tudo bem! Aproveite a viagem e, se quiser falar comigo, manda mensagem! - e, sem se preocupar mais em sussurrar, diz: - Não precisa ligar! - e, desliga a ligação.

Em algum momento eu simplesmente desisti de fingir estar dormindo, e quando percebo, Eddie está me olhando para mim e eu estou olhando para o teto.

-Desculpa se te acordei - Eddie se desculpa. - Ela quis me ligar porque, segundo ela, se não ouvir minha voz pode muito bem ser um sequestrador que pegou meu celular e me obrigou a mandar mensagens - ele dá uma risadinha, mas eu consigo perceber que ele está bem nervoso.

-Relaxa, eu já estava meio acordado - eu digo. - Minha mãe também é assim. Me manda mil mensagens quando eu não estou por perto. Você devia ter visto quando ela descobriu os emojis!

Eddie solta uma haha alta e eu me sinto um mentiroso cara de pau, porque é óbvio que isso não é verdade (tirando a parte dos emojis, minha mãe sempre acha apropriado mandar toda a cartela de emojis). Ela nunca me manda mensagens de preocupação porque a) ela não é assim e b) eu sou um bicho do mato que nunca sai de casa. Mas por algum motivo, eu acho que se eu apontar os erros da minha mãe, o Eddie vai gostar um pouco mais da mãe dele. Eu sei que não tem nexo, mas na minha cabeça faz sentido, então me deixa.

-Coisa de mãe - Eddie diz, suspiros.

-Ai, ai - eu digo sem a mínima ideia de como continuar a conversa.

E, então, passamos um bom tempo em silêncio mexendo nos nossos celulares, e eu fico me perguntando como que as pessoas se livravam desses silêncios antes dos aparelhos.

2

Depois dos sábados que minha mãe faz bolo, terças-feiras são meus dias favoritos porque são os dias que eu converso com a Maryam. Algumas semanas depois de eu ter me assumido, minha mãe sugeriu que eu começasse a fazer terapia. De início eu achei que minha mãe estava tentando me "curar" ou achasse que eu sou maluco.

Ela, pacientemente, me explicou que terapia não é coisa de maluco.

-Aliás, muita gente fica maluca justamente por falta de terapia - ela falou no dia.

Tenho sessões semanais com a Maryam, e conversar com ela sempre me faz estupidamente bem que quase fico doidinho pra chegar terça. Terapia não é como um remédio de gripe que você toma num dia e no outro você está melhor ou curado e nem nunca vai ser assim. É um longo processo que depende que você tenha uma mente aberta. Lembro que na minha primeira sessão eu pensei que a Maryam me daria uma receita de bolo de como ter a vida perfeita e feliz e que eu sairia de lá lindo e musculosinho. Eu era muito idiota mesmo. Mas, creia em mim quando eu digo que, se não fosse por causa da minha terapeuta essa história teria muito mais autodepreciação e drama. Talvez eu até piorasse, se é que me entende.

Quinze Dias - Reddie (BL)Onde histórias criam vida. Descubra agora