Dia 9

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Boa leitura!

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Nas férias meio que todo dia é sábado, mas quando eu acordo e sinto o cheiro de bolo eu percebo que é oficialmente sábado.

-Hoje o bolo veio mais cedo - minha mãe avisa quando eu chego na cozinha.

A mesa está posta pela metade. Uma metade com uma toalha de mesa xadrez verde clarinho com bolo de laranja fresquinho, chá de hibisco, leite e café. Já do outro lado tinha um monte de bugigangas de pintura.

-Cadê o Eddie? - pergunto, forçando um tom casual. Quando acordei o colchão dele já estava deserto.

-Ele saiu. Tá no corredor do prédio. Acho que ficou sem graça de atender a mãe dele na minha frente - ela explica, enquanto me entregava um prato com bolo e um copo de leite.

-A mãe dele é maluca - digo, em um tom casual.

-Todas nós somos, Richard. É como um código genético. É praticamente impossível não ficar maluco depois de um ser humano sair de você por um buraco do tamanho de uma mangueira de chuveiro - ela diz e solta uma haha.

Minha boca está cheia de bolo e uns farelos de bolo escapam da minha boca. Nesse momento, Eddie entra no apartamento respirando fundo, como se tentasse se acalmar.

-Minha mãe é maluca! - ele diz.

E eu jogo um olhar que dizia "Não te avisei?" para a minha mãe.

-O que foi dessa vez? - pergunto, com a boca ainda cheia de bolo.

-Ainda sobre o Bill - Eddie diz enchendo uma caneca de café.

-O que tem ele? - minha mãe pergunta curiosa.

-Minha mãe odeia ele - Eddie explica.

-Mas ele é tão bonzinho - minha mãe diz. Boazinha ou bonzinho é o adjetivo favorito da minha mãe.

-Porque ele é bi - eu digo, porque Eddie fica meio sem graça de falar sobre essas coisas com a minha mãe depois da pérola "Eu quase fui lésbica na faculdade".

Minha mãe revira os olhos tanto que eu tenho medo dos olhos dela ficarem presos pra trás da cabeça. Ela odeia gente preconceituosa, mas também sei que ela não vai falar nada que possa ofender a mãe do Eddie.

-Eu sei que um dia ela vai entender - ela diz, fazendo carinho no ombro de Eddie.

-Eu espero que sim, dona Beverly.

-Pelo amor de deus, não me chama de dona. Pode me chamar só de Beverly.

-Só Beverly eu acho muito sério - ele diz.

-Eu acho fofinho quando as crianças da ONG te chamam de tia Bev- eu digo.

Minha mãe abre um sorriso.

-Tia Bev eu gosto.

-Então... tia Bev - Eddie diz, prolongando as palavras sem motivo necessário. - Hoje vamos ver o Bill de novo e, se a minha mãe te perguntar, pode dizer que não sabe de nada? - ele pede, com rostinho de cão abandonado.

Minha mãe olha para o teto para pensar no assunto.

-Vamos fingir que eu realmente não sei de nada, tudo bem? Podem sair porque vocês já são grandinhos, voltem a hora que quiserem, mas pelo amor de Jesus Cristo, não faça uma tatuagem, não perca um membro muito menos morra num acidente! Eu não quero ter que explicar essas coisas pra sua mãe depois.

-Pode deixar! - Eddie diz, dando um beijo de agradecimento na bochecha da minha mãe. - Só não posso garantir nada sobre a tatuagem, viu tia Bev.

-Se for escondida, não tem muito problema - ela diz, dando uma piscadinha e aponta para a virilha dele. Meu Deus mãe, tenha limites.

Quinze Dias - Reddie (BL)Onde histórias criam vida. Descubra agora