Dia 7

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Boa leitura!

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Eu acordo de um sonho esquisito e engraçado. Eu e Eddie vivamos no nosso próprio musical e, como em um musical, nós cantávamos uma música atrás da outra. E, sem motivo aparente, nós nos vestíamos como os Power Rangers. As músicas eram sobre coisas aleatórias e bobas, como café da manhã, e durante o sonho as letras pareciam ótimas, mas agora acordado, eu percebo serem horrorosas ("Pão quente, leite frio, tudo isso é o que me faz feliz! Fe-liz!, veja bem).

Quando abro os olhos eu percebo que estava sorrindo. Provavelmente eu estava sorrindo enquanto dormia. Se o Eddie viu isso espero que tenha achado fofo e não bizarro. Tenho vontade de contar o sonho pra ele, até cantar a música, mas sinto um nó na garganta.

O cobertor que pendurei na janela ontem tinha despencado e agora entrava feixes de luz pela janela. Consigo ver as partículas de poeira e fico meio hipnotizado por ela durante alguns segundos. Acho engraçado como a poeira está sempre no ar, mas a gente só consegue vê-las de verdade quando entra um feixe de luz. Elas são como eu. Só que ao contrário. Porque eu só me mostro no escuro, entendeu? E também porque eu não passo despercebido momento nenhum. 

Ok, ok, essa foi a pior metáfora do mundo. Vamos em frente.

Quando olho para o lado vejo que Eddie já estava acordado, lendo A escolha dos três. Ele parece concentrado na história, mas quando percebe que eu acordei, sem tirar os olhos do livro, ele diz as primeiras palavras do dia.

-Bom dia, Rich.

-Bom dia, Eddie.

Só agora me dou conta que eu o chamo pelo apelido desde sempre, até quando a gente perdeu a intimidade.

E lá vamos nós de novo. Eu não sei o que dizer, tenho vontade me enrolar no cobertor pra sempre e fingir que não existo. Fico repassando a voz da Maryam na minha cabeça repetidamente dizendo que o meu desafio da semana é falar com o garoto. Penso em possíveis assuntos para falar com ele ("Dormiu bem?", "Esfriou ou é impressão minha?" e "O livro está bom?), mas não falo nada disso. Porque eu estou cansado de ficar sem saber o que falar e sentir o peso de uma tonelada de palavras entaladas na minha garganta. Estou cansado de ser que nem uma partícula de poeira dançando no quarto, sem nem sequer ser notado (é ofícial, eu desisto dessa coisa de poeira, não faz sentido).

E então, para quebrar o silêncio, eu digo a verdade. Porque quem diz a verdade sempre alcança coisas boas. Acho que foi minha mãe que disse isso uma vez. Ou o Dumbledore.

-Minha psicóloga passa pra mim alguns desafios semanais às vezes. E eu sei que você disse que não quer se meter, mas, adivinha só, meu desafio da semana é conversar com você. Uma conversa normal, sem edredom na janela. E eu não quero que pareça que eu estou implorando "Por favor, fala comigo, peloamordedeuuuuus", mas, eu meio que estou - digo, tudo de uma vez só, olhando fixamente para o teto torcendo para que ele não ache tão ridículo como eu estou achando.

Eddie começa a rir a partir do momento que eu disse "Por favor, fala comigo, peloamordedeuuuuus" porque eu faço uma voz engraçadinha.

-Legal essa coisa de desafio. Ela faz isso sempre? Tem recompensas? - ele pergunta, interessado.

-Não tem recompensas - respondo, pensando pela primeira vez na possibilidade de ter prêmios. Vou sugerir isso na próxima sessão. - Mas se você me ajudar eu te dou um prêmio.

"Um beijo ardente e apaixonado", penso.

-Belê, eu ajudo. O que tem que fazer? - fala, fechando o livro e sentando na cama para me ver melhor.

Quinze Dias - Reddie (BL)Onde histórias criam vida. Descubra agora