Dia 8

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Boa leitura!

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Umas das coisas que mais me estressam na sociedade é gente que não te conhece puxando assunto sobre o clima. Esfriou, né? Vai chover, né? E esse calor, menina?

Mas, nesse caso em que nos encontramos agora, eu preciso ser esse tipo de pessoa. Porque não tem como eu ignorar o fato de eu ter dormido ontem praticamente congelado e ter acordado na décima quinta camada do inferno de tão quente. O sol entra através da minha janela logo cedo e queima a minha cara de um jeito que não dá para continuar dormindo.

Quando acordo, Eddie não estava mais no quarto. Eu me levanto com o ânimo de alguém que acordou dentro de um forno de pizza, e quando chego na sala, me deparo com Eddie e minha mãe estirados no sofá florido, cada um com um copo de limonada na mão e o ventilador de teto ligado sem fazer muita diferença.

-Menino, que calor é esse? - minha mãe pergunta.

Eu solto um gemido preguiçoso porque é a única coisa que eu consigo pensar nessa situação.

A TV está ligada no jornal matinal e um jornalista estava dizendo que esse era um dos dias de inverno mais quentes do estado desde 1996, eu acho. Pego um copo de limonada na cozinha e, quando eu volto para a sala, me sento no chão porque parece geladinho. E também porque é impossível sentar no sofá sem encostar no sofá sem encontrar no Eddie e na minha mãe ao mesmo tempo. Misturar a minha suadeira excessiva, com estar muito perto do Eddie e um calor de 38° definitivamente não é uma boa ideia. O gelo que eu coloquei na minha limonada derrete em dois segundos.

Por alguns minutos, nós ficamos em silêncio, focados na TV e soltando suspiros ocasionais. O âncora do jornal chama uma matéria sobre o que fazer com os seus filhos durante as férias escolares, e o conteúdo é o mesmo de sempre. Colônia de férias, cinema, banho de mangueira. Mas nessa última parte, meu coração para de bater. Porque a TV estava mostrando umas crianças molhadas e se divertindo. E Eddie abre um sorriso largo, como quem tem a maior ideia do mundo. E eu sinto meu suor escorrer ainda mais porque sei exatamente as próximas palavras que irão sair pela boca dele.

-Vamos para a piscina? - ele diz.

Na verdade, ele grita.

Minha mãe se engasga com a limonada porque ela me conhece. Eu não vou para a piscina em hipótese alguma. Mas por um segundo ela esquece disso e decide ignorar completamente a minha liberdade de escolha. 

-Olha, Eddie, hoje eu tenho muito trabalho acumulado, não posso nem pensar em diversão, aliás, eu já devia estar na frente de uma tela com pincéis e tinta no cabelo. Mas vocês dois estão de férias, aproveitem o dia!

E depois de soltar essa bomba, ela dá dois tapinhas no meu ombro, se levanta e vai embora. 

Eddie se levanta também.

E eu acabo me levantando porque não faz sentido ficar sentado sozinho no chão da sala. Mas considerando que a minha segunda opção é ir para a piscina, eu prefiro ficar no chão.

O nível de empolgação do Eddie é comparável ao meu nível de desespero. Ele corre para a cozinha e eu vou atrás (eu queria mais limonada).

-Posso chamar meus amigos? - pergunta, dando pulinhos como uma criança.

-Que amigos? - minha mãe pergunta de forma curiosa não desconfiada.

-O Bill, que o Richie conheceu ontem, e o namorado dele, Stan. Espero que não tenha problema. Quer dizer...

-Gays? - minha mãe grita com a voz aterrorizada, fingindo surpresa. Então, solta uma haha e completa: - Não tem problema nenhum. Sabe, eu mesmo quase já fui gay na época da faculdade - eu tenho que explicar que não é lá muito normal dizer essas coisas.

Quinze Dias - Reddie (BL)Onde histórias criam vida. Descubra agora