Entre o distintivo e o coração.

62- pov: Liz Carter.

— Bom dia. — Falei ao levantar o olhar e ver Jacob entrar na sala de descanso, onde eu passei a maior parte da noite.

— Bom dia, passou a noite aqui? — Ele perguntou me olhando.

— Sim. — Falei passando as pontas dos dedos na testa.

— E se resolveu com a chefe? — Foi sua pergunta.

— Não tem o que resolver. — Falei guardando meu celular no bolso.

— Vocês que são família que se resolvam. — Ele deu de ombros pegando uma água no mini freezer e sentando na cadeira a minha frente.

— O que ela falou com você? — Perguntei.

— Nada além do esperado.. que não queria que eu escondesse algo dela. — Ele bebeu um gole da água.

— Ela disse que não iria perder tempo comigo. — Engoli seco lembrando.

— Foi no calor do momento. O que fizemos foi errado, você sabe né?

— Precisamos falar disso? — O fitei.

— Você que sabe, chefia. — Ele concordou e levantou.

A manhã só foi recheada de papéis, relatórios e mais papéis.

Antes do almoço, tivemos uma reunião com o vice comissário sobre novas propostas de segurança.
Confesso que minha mente não estava presente, e que não ouvi muita coisa que foi dita, o que sei que pode me prejudicar.
Quando sai da sala de reuniões, fui até minha mesa e ao levantar o olhar eu a vi, de novo.

— Oi... — Ouvi, mais uma vez, a voz inconfundível da Katherine.

— O que veio fazer aqui? O caso já está encerrado. — Falei juntando as pastas da minha mesa tentando evitar olhar pra ela.

— Liz.. — Ela tocou no meu braço devagar. — Podemos conversar? Por favor.

— Eu estou ocupada. — Menti.

— Eu sei, eu quero falar com você, te falar o que eu sinto, me dá uma chance, vai ser rápido. — Ela disse com a voz suave.

— Tudo bem. — Concordei lembrando de quando eu disse pro meu pai que queria perdoa-lá e lembrando que não dormi nada a noite porqueu também só pensava nela.

Meu olhar se cruzou com o de Jacob que abaixou a cabeça quando passamos.

Caminhei até a sacada da delegacia. Ela caminhou devagar atrás de mim e quando parei, ela ficou a minha frente.
Seus olhos são tão parecidos com os meus, parecia que eu estava vendo minha versão do futuro.
Isso quer dizer que ela é muito bonita, seu olhar era triste, mas as expressões reais, sua pele branca com marcas da idade.

— Eu sei que eu apareci de repente da última vez, eu sempre quis saber como você é, a mulher que você se tornou. E te ver assim realizada me deixa aliviada. — Ela respirou fundo.  — Ver como você lidou com o caso da Anne, me trouxe conforto naquele momento difícil.

Algo me trazia confiança em sua voz, me fazendo olhar em seus olhos, a encarando de verdade pela primeira vez e ouvindo atentamente.

— Eu engravidei jovem, o seu pai sempre me ajudou, seus avós nos deram apoio. Foram muitas coisas que me levaram aquilo. Mas eu não conseguia viver aquela vida, eu nunca tive coragem de contar o que passei no pós parto. Eu fazia acompanhamento psiquiátrico, eu tive depressão. Eu lutei sozinha, eu sei que.. eles teriam me ajudado, eu só não queria ser um fardo pro seu pai ou até pra você. Nunca foi culpa sua, nem dele, chegou uma hora que eu não conseguia mais ser forte, eu não conseguia ser uma mãe. — Sua fala estendida fez meu coração palpitar como se fosse sair pela boca.