A Família Sanderson

Capítulo 1: O Irmão que Regressa

A mansão Sanderson era um local excelente para se viver. Era essa a opinião da maior parte das pessoas que conhecia a mansão, fosse pessoalmente, por terem ido a alguma reunião ou a uma festa naquele local ou por terem visto fotografias nalguma revista ou mesmo quando iam a passar na rua. A mansão ficava situada numa colina, afastada do centro da cidade. Tinha três pisos, era pintada de branco, com portadas azuis escuras. Tinha um terraço enorme no último andar, uma piscina larga, com um escorrega, um campo de ténis, uma garagem com espaço para vários carros e um jardim muito bem cuidado.

Era, efetivamente, uma mansão espantosa, não só por fora, mas também por dentro. E o custo de a manter também era bastante elevado, mas a mansão tinha a história da família marcada nela, portanto não havia qualquer ideia de se desfazerem dela. Fora ali que os três irmãos Sanderson tinham sido criados. O pai deles, Ross Sanderson, expandira a empresa que o pai dele lhe tinha deixado. Tornara a Sanderson Electronics numa marca conhecida em todo o país, com várias lojas. E depois da sua morte, há três anos atrás, a empresa ficara para os três filhos.

Cole, Ford e Ryker eram parecidos fisicamente, no sentido de que eram todos altos e tinham cabelo castanho. Com os olhos, no entanto, era diferente. Cole tinha os olhos cinzentos do pai, Ford tinha olhos castanhos, como a mãe e Ryker tinha olhos de um verde brilhante, como folhas de uma árvore. Fora a mãe que lhos passara, sendo a segunda esposa de Ross Sanderson e fazendo de Ryker meio irmão de Cole e Ford. A nível de personalidade, os três irmãos eram bastante diferentes. Depois da morte do pai, Cole assumira o papel de presidente da empresa, continuando o legado. Ford focara-se em escrever, que era a sua paixão e lançara um livro. Ryker pegara em todo o dinheiro e abandonara a mansão, decidindo ir viver a sua vida para longe.

E o tempo passara. Três anos. O mundo mudara, mas a mansão nem por isso. Naquela manhã, Cole acordou cedo, como era costume. Era mais um dia de trabalho e ele tinha uma empresa para gerir. Ainda que tivesse sido criado para ser o sucessor do pai, isso não queria dizer que o trabalho fosse fácil. Cole sentou-se na cama, com o cabelo despenteado e ainda sonolento. Olhou para o lado. A sua esposa, Celine, ainda estava a dormir profundamente. O seu cabelo loiro espalhava-se pela almofada e Cole estendeu uma mão, tocando-lhe. Depois, respirou fundo. Estava na altura de se levantar.

Dirigiu-se à casa de banho, por uma porta de ligação e tomou um duche rápido. Ao regressar ao quarto, vestiu-se, com um fato completo azul escuro e uma camisa branca. Fitou o armário com as gravatas penduradas, pensando sobre qual delas devia escolher. Tinha sempre dificuldades em escolher a gravata. Quando achava que a escolha era óbvia, havia alguém que lhe apontava que a gravata não condizia. Enquanto estava a olhar para o armário, não reparou que a sua esposa tinha acordado e se tinha sentado na cama.

- Escolhe a azul clara, com as riscas azuis escuras – disse Celine. O marido virou-se, olhando-a e sorriu-lhe. Celine sorriu-lhe de volta, mostrando uma fila de dentes muito brancos e perfeitos. – Bom dia, querido.

- Bom dia, amor – disse Cole, pegando na gravata que a esposa lhe indicara.

- Quem me dera que pudesses ficar mais um pouco comigo, aqui – disse Celine, mas sabia que não era possível.

Naquele dia, Cole ia ter uma reunião importante, logo de manhã e já falara nisso. Por vezes ficava a trabalhar em casa, no seu escritório particular na mansão, mas naquele dia não seria assim. A jovem mulher levantou-se da cama e aproximou-se do marido. Ela vestia uma camisa de dormir fina e cor-de-rosa, que lhe chegava quase até aos pés. O marido já colocara a gravata à volta do pescoço e ela ajudou-o a dar o nó e colocar a gravata de forma correta.

- Depois da reunião e de tratar do que tenho a tratar, virei almoçar aqui, contigo – prometeu Cole. Puxou a esposa para um beijo. Estavam casados há dois anos e Cole achava que a esposa era a melhor coisa que tinha na sua vida, mesmo melhor do que o dinheiro ou a empresa.