A Família Sanderson

Capítulo 3: O Motorista e o Amante

Tadeo Mendonza tivera uma infância complicada. Era o filho mais velho de uma família de quatro irmãos. O pai bebia e era violento, a mãe estava sempre doente com isto ou com aquilo. Aos dezasseis anos, Tadeo já tinha começado a tentar trabalhar. A ideia era ter um emprego de algumas horas, mas envolvera-se numa luta na escola e fora expulso. Em casa, o pai batera-lhe até o deixar inconsciente. Tadeo acabara por aprender coisas que não devia.

O bairro onde vivia não era propriamente um local repleto de pessoas honestas. Aprendera a roubar carteiras sem ser apanhado. Aprendera a conseguir abrir fechaduras com diversos tipos de objetos. Aprendera outras coisas desonestas e acabara por cometer um erro, quando assaltara uma casa. A polícia levara-o, mas como não tinha cadastro, acabou com uma pena suspensa. O pai voltou a bater-lhe e Tadeo decidiu sair de casa, de uma vez por todas, ainda que isso significasse deixar os irmãos e a mãe para trás.

Ficara sem lugar onde viver, mas encontrara um quarto malcheiroso e frio numa pensão de quinta categoria. E fizera coisas de que se orgulhava ainda menos do que andar a roubar. Vendera o corpo, a homens e mulheres. Quando conseguira finalmente algum dinheiro, mudara-se e arranjara um emprego num restaurante de fast-food. Tinha mudado de emprego várias vezes, tanto por não gostar dos empregos, mas por vezes por ser despedido por mau comportamento.

E o tempo passara. Tadeo sempre achara que merecia mais na vida. Fora motorista para uma família rica e vira como viviam. Não era justo que eles tivessem tanto. O que tinham feito para merecer fama e fortuna, enquanto ele não tinha nada? Mas o emprego também não durara muito tempo. Fora há alguns meses atrás, que conhecera uma pessoa que tivera impacto sobre a sua vida e era por esse motivo que ele ali estava, a trabalhar para a família Sanderson.

A noite já se abatera sobre a cidade e Tadeo recolhera à sua casa, por cima da garagem. O local tinha espaço limitado, mas visto não estar dentro da mansão, tinha privacidade. Podia dizer que era dos melhores locais onde já vivera, o que era um testamento em como a sua vida tivera muitas coisas em falta. Cole Sanderson tinha a mesma idade que ele e sempre tivera luxo. Era por coisas assim que Tadeo se sentia revoltado. Ouviu-se uma batida na porta e Tadeo foi abrir. Sorriu ligeiramente e deixou Ryker entrar.

- Estava a pensar se irias aparecer ou não – disse o motorista. Olhou então com atenção para Ryker, vendo o seu olho negro. – O que se passou?

- Foi o meu irmão Cole. Envolvemo-nos numa briga – respondeu Ryker, movendo-se para junto de um sofá e sentando-se. A entrada da casa dava logo para a sala e ao fundo havia a cozinha. – Mas não penses que ele me bateu e eu me fiquei. Ele ficou pior do que eu.

- Achas que foi boa ideia fazeres isso? – perguntou Tadeo, erguendo uma sobrancelha. Acabou por se sentar no sofá, junto do mais novo dos Sanderson. Desconhecia que Ryker estava a exagerar, pois Cole ficara muito menos afetado pela briga do que ele.

- Posso dizer-te que me soube muito bem lutar contra ele. Queriam obrigar-me a ir trabalhar, para permanecer aqui na mansão. Como recusei, foi-me dito que não vou ficar com acesso a nada, nem a comida. Já viste isto?

- Ora, estão a tentar controlar-te, o que não é algo que me surpreenda, realmente. Não devias ter entrado em conflito. Se tivesses cedido...

- Tu não conheces os meus irmãos ou a forma como eu lido com eles. Se eu simplesmente tivesse baixado a cabeça, eles iriam desconfiar de alguma coisa, porque seria muito incaracterístico da minha parte. O conflito era inevitável... bom, não a parte física, mas não importa – disse Ryker, encolhendo os ombros. Tirando o facto de ter ficado com um olho negro, as coisas não tinham corrido realmente fora do que ele pensara. – A partir de agora, as coisas podem mudar, para melhor.

- E estás a pensar fazer isso de que maneira? – perguntou Tadeo. Agarrou num maço de cigarros que tinha em cima de uma mesinha e num isqueiro, acendendo um dos cigarros. – Os teus irmãos devem ter ficado contra ti.