1. Cassiopeia

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   Quando Cassiopeia era pequena, ela achou na biblioteca o que era hoje seu livro favorito. Ele era sobre uma garota que era condenada a viver o mesmo dia várias vezes. Cassie nunca viu aquilo como uma maldição, ela sempre gostou da previsibilidade de ter uma rotina, como ela tinha na Academia. Ela sempre gostou de estar preparada para o que quer que estivesse por vir.

E ela odiava quando sua rotina era quebrada.

   Ela estava no jardim quando aconteceu: um dos empregados entregou uma carta dizendo que ela deveria ir para a sala da Diretora imediatamente. O pânico que ela sentiu quando foi chamada para a sala da Diretora era completamente válido. Sim, ela costumava ver a diretora uma vez por semana para tomar um chá e dedurar certos alunos, mas nunca nesse horário. O Domo já estava ajustado para parecer um céu escuro, e os alunos estavam em sua maioria na sala de jantar. Por que a Diretora iria querer falar com ela na hora em que os corredores estariam vazios e ninguém poderia ver nada ao olhar pela janela se não por motivos ruins?

   Ela formou um punho com a mão esquerda e enterrou a unha do seu polegar no lado do seu dedo indicador, esperando que a dor a acalmasse. Não era o bastante para sangrar, ou deixar uma marca que demoraria a sair: marcas causavam rumores, e isso era o que ela menos precisava no seu último ano naquele lugar fodido.

   É claro, ela não precisaria se preocupar tanto se ela não fizesse tanta merda. O título de Melhor Aluna que ela lutou com seu corpo e alma para merecer dava para ela uma coleira mais frouxa do que a dos outros, ela seria idiota se não aproveitasse a oportunidade, mas se ela fosse pega indo tão longe como ela estava indo...

   Bem, uma coleira frouxa ainda é uma coleira. Ela sempre podia ser puxada de volta e reajustada caso necessário, mas no seu caso, ela temia que o reajuste a matasse.

   Ela só desfez o seu punho após bater na porta.

  Ela assumiu o personagem que ela construiu durante seus dezoito anos ao entrar. Aquela versão dela estava calma e vestia um sorriso simpático. Cassiopeia, a aluna prodígio e nada mais.

   Mas seu personagem foi deixado de lado por pânico ao perceber que a Diretora não estava sozinha. Ela sentiu seus olhos se arregalem por um segundo, mas rapidamente os corrigiu.

   De frente para a Diretora e sua mesa, estava sentada uma garota.

   Cassie não a reconhecia, o que não fez nada para diminuir sua agitação. Ela morava na Academia desde que nasceu, fez de tudo para conhecer todos os seus alunos e funcionários nos últimos quatro anos. Ela deveria conhecer todos ali.

   — Cassiopeia- a Diretora chamou- eu te chamei até aqui para se juntar a nós, não para ficar parada na entrada, querida.

   Engolindo em seco, ela andou até elas, fez uma reverência para a Diretora e se sentou na cadeira que sobrou, oferecendo um sorriso e um aceno de cabeça para a garota ao seu lado.

   Ela notou o uniforme vermelho com duas linhas brancas nos ombros, que indicavam um membro de baixo escalão da Guarda Real. O nariz dela era inclinado levemente para a direita, como se ele tivesse sido quebrado uma vez e nunca colocado no lugar como deveria. Ela deveria ser da patrulha da noite e deveria ter visto ela. Como ela foi idiota-

   Não, se ela fosse ser expulsa ou punida, a Diretora não anunciaria antes. Provavelmente.

   Ao mesmo tempo que ela parecia ser da Guarda, ela sorriso leve, o tipo de sorriso falso de "é uma honra está aqui" que todos na Academia carregavam, e sua postura era reta e impecável. Baseado nisso e em como o seu cabelo cacheado estava muito bem tratado, ela poderia ser uma nobre, mas estava muito cedo ainda, e ela parecia ser nova demais para isso. Talvez ela fosse um Legado?

Sangue e SeivaOnde histórias criam vida. Descubra agora