Cassiopeia estava mostrando todos os milhões de cômodos daquele lugar, mas Amira não conseguiria prestar atenção se sua vida dependesse disso, o que, honestamente, poderia ser o caso. Mas aquele lugar era enorme, e pensar em ideias para conseguir sair dali já era trabalhoso o suficiente, e ela com certeza precisaria daquilo, se ela quisesse passar seus achados para alguém de fora. A porta principal estava obviamente fechada, com um Guarda em cada canto, e o jardim no pátio dos fundos era cercado por um muro bem alto.
Quando elas estavam no primeiro andar, no qual as crianças ficavam, Cassiopeia explicou que as janelas não eram feitas para abrir. Ela disse que era por medo de as crianças acidentalmente saírem andando a noite e Amira quase riu já que, mesmo que elas fizessem isso, não haveria muito para onde ir. Aquele lugar era um verdadeiro forte, ninguém conseguiria entrar ou sair sem que ninguém importante soubesse.Seus planos de espionagem estavam se desfazendo na sua frente. Um espião que não consegue passar informações era a mesma coisa que nada. Talvez se ela saísse correndo rápido o bastante e pulasse da janela do seu quarto ela conseguiria impulso o bastante para ultrapassar o muro, mas será que suas pernas eram fortes o bastante para não quebrarem na queda?
—... E você não está prestando atenção em absolutamente nada do que eu estou falando- Cassiopeia disse.
— Perdão?
— Perdão? Eu estou perdendo meu tempo aqui - ela suspirou- Quer saber, foda-se. Você já viu boa parte do lugar e eu duvido que você vá se lembrar de metade. Pelo menos nós perdemos boa parte da aula de história, então valeu a pena. Eu odeio aquele cara.
Amira levantou uma sobrancelha.
— Aulas?
— Sim, aulas, sabe? Com livros, e pessoas que se especializaram em certas coisas falando sobre essas coisas, que teoricamente serão úteis nas nossas carreiras como nobres, mas eu duvido que eu precise saber como o primeiro rei chegou ao poder para ser dona de um latifúndio... Por que você está sorrindo?
— Eu nunca tive uma aula antes. Quer dizer, meio que com...- Amira ficou desesperada quando ela percebeu que, não apenas ela estava falando da sua vida antes da Academia, como ela ia piorar tudo dizendo "com meus pais". Ela cobriu a boca com as mãos.
Cassiopeia sorriu.
— Ah, ela fala.
— O que eu quis dizer é que eu passei boa parte da minha vida fazendo pesquisas sozinha- Aquilo era verdade. Ela passava horas debruçada sobre volumes e mais volumes de livros antigos sobre o corpo humano- Eu fico muito feliz de que agora, eu tenho profissionais treinados para me ensinar.
Ela preferiria ter seus pais de volta, mas ter acesso a especialistas não era algo ruim.
— Você falou do seu passado! Você está finalmente se abrindo comigo?- a voz de Cassiopeia era encharcada de falsa simpatia.
— Por favor, saber que eu não tive aulas não vai te dar nenhuma vantagem.
Amira percebeu tarde demais que ela tinha saído do personagem. Cassie pareceu não notar.
— Você está atrás de uma vantagem, Amira?
— Por que eu estaria?
— Todos aqui estão.
As duas ficaram em silêncio, até Cassiopeia fazer a pior pergunta possível.
— Você é uma espiã, Amira?
Que tipo de pergunta de merda era aquela?
E pior: o que ela poderia responder. Sim a traria problemas, mas um não depois de alguns segundos não era muito melhor. Então ela decidiu falar a verdade.
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Sangue e Seiva
FantasiAmira não deveria existir. Não era sua culpa, claro, seus pais sabiam que nobres não podiam ter filhos. Mas o culpado pouco importava. Eles foram pegos e Amira foi enviada para Academia, onde crianças escolhidas eram treinadas para entrar para a nob...