7. Cassiopeia

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   Cassiopeia abriu os olhos depois do que pareciam horas.

  Quando ela começou a fazer isso, ela gastava muito tempo inutilmente encarando o nada, já que o maldito toque de recolher estava conectado com todas as luzes da Academia, tornando o lugar escuro demais para fazer qualquer outra coisa, além de fazer com que ela morresse de privação de sono no dia seguinte. Com o tempo, ela aprendeu a se condicionar a acordar no meio da noite, tarde o bastante para que todos dentro da Academia estivessem dormindo e ela não fosse pega.
Ela olhou para o lado. Amira ainda estava dormindo e Cassie foi grata. Sair ficaria tão mais difícil com uma colega de quarto para evitar, o mínimo que ela poderia fazer era não acordar, depois de todo estresse que ela causou. Cassie precisava de um tempo só para ela agora mais do que nunca.
Ela andou na ponta dos pés, evitando até mesmo pegar sapatos com medo de a porta do armário fazer barulho demais (ela se xingou quando percebeu que deveria ter deixado uma roupa e seu tênis em algum lugar acessível) e saiu na ponta do pé, de pijama e descalça.

Depois da aula de etiqueta, tinha ficado claro que ela precisava de um escape antes de fazer uma merda ainda maior. Cassie estava descontando sua raiva acumulada por anos na novata, mas ter consciência disso não tornava o comportamento menos tentador, e agora ela estava agindo como uma idiota. Derrubar ela com a Diretora olhando, o que ela estava pensando? Anos de bajulação e boas notas a salvaram ali e nada mais. Ela poderia estar com um "ato de violência" embaixo do seu nome em sua ficha e todo trabalho que ela teve durante anos seria em vão.

Cassiopeia precisava fazer alguma coisa que tirasse seu foco de tudo, pelo menos por um tempo, para que ela pudesse só existir sem ter que se preocupar por alguns minutos, ou horas, se ela tivesse sorte. Sem suas roupas seria mais difícil, mas ela ainda teria uma ótima opção para se contentar com.

Ela desceu a escada, indo em direção a uma sala que não estava sendo ocupada, e continuaria caso não houvesse escutado um som atrás dela.

Passos.

Ela mudou sua rota sem parar. Parar seria suspeito, mostraria que ela sabia que estava sendo observada. Provavelmente era Órion, com quem ela esbarrava às vezes mesmo com todos os seus cuidados e o tamanho gigantesco da Academia. Ele adorava se meter na vida dela, e aquela não era a primeira vez que ele tentava a seguir. Ele acabaria com ela em um segundo se tivesse a chance— como todos os outros ali— mas ela não daria a oportunidade

Ela seguiu até a cozinha, pedindo um copo de água e conversando com os empregados, cumprimentando todos pelo nome. A cozinha estava vazia hoje. Um deles diz que eles estão tendo que treinar uma garota nova. Ela tinha experiência, mas não estava acostumada a uma escala tão grande quanto a Academia exigia, e aquilo aparentemente estava causando alguns problemas. Cassiopeia disse que não estava conseguindo dormir e perguntou se poderia ajudar com algo. Um deles brincou que ela colocaria fogo na cozinha, e Cassie riu como se isso não tivesse ferido seu ego. Ela poderia cozinhar se ela quisesse, ela só nunca precisou.

Depois de um tempo, Cassie fingiu estar surpresa com a hora e subiu correndo de volta para seu quarto.

Ela não conseguiu ver nenhuma sombra ou vulto fora do lugar, o que era uma pena. Ela tinha certeza de que pegaria Órion se saísse da cozinha rápido o bastante. Infelizmente, nem todos podiam enxergar no escuro. Ele tinha ganhado dessa vez.

Quando ela voltou no quarto, sua frustação triplicou ao ver que as cortinas tinham sido abertas de novo. Sem nem olhar para o lado, ela fechou as cortinas com uma agressão que talvez tenha sido desnecessária e se atirou de volta em sua cama.

Sangue e SeivaOnde histórias criam vida. Descubra agora