4. Amira

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Amira acordou sendo atacada. Algo atingiu seu rosto, e seus instintos a fizeram levantar rapidamente e mover seus pés para base difícil de ser derrubada. A velocidade fez com que pontos pretos escurecessem sua visão, fazendo ela perder segundos essenciais. A pessoa estava armada ou tinha sido um ataque corporal? Ela treinou, mas ela nunca tinha estado em uma luta de verdade, o medo tinha a paralisado e aquela seria a sua queda.

   Nos segundos seguintes, ela percebeu que não estava, de fato, ferida. Quando o mundo entrou em foco novamente, ela percebeu um travesseiro no chão perto dela, e Cassiopeia a sua frente segurando um outro. Quando ela viu que Amira estava olhando para ela, ela largou o travesseiro imediatamente.

   — Olha só quem acordou!

   — Meio difícil não acordar -ela disse, sem folego- Você poderia tentar um método mais sutil da próxima vez?

   — Eu tentei te chamar. Não funcionou.

   — Você poderia só encostar no meu ombro.

   Cassiopeia fez que não com a cabeça.

   — Eu acabei de descobrir que você não tem registros médicos. Eu não encostaria em você nem se eu estivesse sendo paga para isso, o que eu não estou. Ninguém sabe por onde você passou.

   — Nem todas as doenças passam só por toque. E eu não estou contaminada com nada.

   — Você não tem permissão para falar da sua vida passada, não é? - do jeito que ela falava parecia que Amira estava morta antes de entrar na Academia- Eu não tenho como ter certeza.

   — Você encostou no meu braço ontem!

   — E eu não pretendo cometer esse erro novamente. Agora chega de enrolação. Vamos lá, Aurora, o sono da beleza acabou.

   — Meu nome é Amira- ela disse, esfregando seu olho.

   — Eu sei, foi uma... não importa- ela fez um gesto de "esquece" com a mão- Tem uniformes no seu armário, foi você que trouxe eles ontem? - Amira negou com a cabeça. Algo obscuro passou pelos olhos de Cassiopeia.

   Olhando pela janela, Amira notou que o Sol já estava alto no céu, ela tinha acordado tarde demais. Culpa a tomou por não ter visto o primeiro nascer do Sol depois que seus pais se foram. Ela veria o próximo, nem que ela precisasse ficar a noite toda acordada para ter certeza de que ela não iria perdê-lo, e dedicaria uma reza para eles. Era tudo que ela podia fazer agora.

   Ela foi atingida novamente, dessa vez com uma camiseta preta com gola polo.

   — Menos "encarar o nada", mais ação- disse Cassiopeia- O resto do seu uniforme está no armário, caso você não saiba. Você sabia? - quando Amira balançou a cabeça negativamente, Cassie ficou alguns segundos encarando o nada, até quebrar seu transe tão repentinamente como tinha o começado- Se troque rápido, eu ainda tenho que te levar para a enfermaria e eu não quero perder o café da manhã por sua causa.

   Tanto as calças quanto as saias no seu novo armário eram vermelhas e douradas, e Amira achava que conhecia a combinação de cores de algum lugar, mas não sabia dizer de onde. Ela colocou uma das saias correndo e seguiu sua colega, que saiu do quarto assim que percebeu que ela estava pronta.

   Para conseguir curar alguém, Amira precisava conseguir absorver o dano feito por um período, mas absorver sua própria dor não faria nada além de criar um looping de dor e desespero, o que significava que ela poderia e ficava doente, mesmo que raríssimas vezes. Mesmo assim, era estranho estar em uma enfermaria. Quando ela estava mal, era sempre seus pais que cuidavam dela, nunca uma equipe abarrotada de pessoas encarando e encostando nela. A sala e as roupas dos profissionais eram brancas, o que fazia ela se sentir em um ambiente desconfortavelmente distópico, mas a pior parte com certeza eram agulhas. Uma delas estava tirando sangue do seu corpo, e Amira explicou para uma das mulheres de branco com olhos arregalados que o sangue deveria ficar dentro do corpo, não fora. A mulher ignorou o pânico dela e apenas riu, o que fez Amira se preocupar ainda mais e considerar correr para a saída.

Sangue e SeivaOnde histórias criam vida. Descubra agora