Amira se sentia uma idiota por deixar com que a noite anterior a encantasse. Por se deixar divertir e por acreditar que Cassiopeia seria capaz de a tratar com respeito, ou até mesmo com amizade só porque ela pagou algumas bebidas.
A quem ela estava enganando? Cassiopeia tinha dado sua experiência mais próxima da liberdade, o mais perto de normal que ela já teve, e isso a fez esquecer que ela só tinha ganhado isso por meio de chantagem. Cassiopeia não era realmente sua amiga, e nunca seria. Ela estaria sempre em busca de uma vantagem, Amira não poderia se enganar e deixar com que ela conseguisse.
E aquilo não importava no final. Ela sobreviveu sem amigos sua vida inteira, ela conseguiria manter o padrão. Mas era diferente. Ela não precisava ver crianças e adolescentes conversando e correndo um atrás dos outros, tendo a vida que ela sempre quis ter e sabendo que, mesmo ali, mesmo depois de tudo, ela nunca a teria. As pessoas sempre seriam simpáticas com ela e nada mais- e nem mesmo isso, quando ela virava as costas.
Ela entrou em uma das salas, uma na qual as crianças ficavam, julgando pelos desenhos nas paredes. Em um canto, tinha um bloco com folhas de papel. Ela pegou algumas e um marcador colorido- se ela ficaria andando e sentindo pena de si mesma, ela poderia aproveitar e começar o raio daquele mapa.
Ela rapidamente descobriu que não tinha a habilidade necessária para se tornar cartógrafa. Estava ficando horrível e ela duvidava muito que conseguiria se localizar com aquela merda.
Talvez ela poderia pedir ajuda para alguém. Ajudar uma garota perdida seria a coisa simpática a se fazer, não é?
— Amira!- ela parou de olhar para a folha para ver Órion se aproximando- O que você está fazendo?
— Tentando me ajudar a chegar nos lugares mais rápido.
— Achei que Cassiopeia estava sendo sua guia.
— Ela é uma pessoa muito ocupada- a voz dela saiu amarga, com razão.
— Eu não me importaria de ajudar ela com isso. Se ela tiver tempo, podemos até fazer um tour conjunto!
Amira riu.
— Se você se oferecer, ela provavelmente vai só te passar o trabalho. Eu ficaria feliz por ter alguém interessado, mas parece que todos aqui me veem como um grande trabalho!
— Aposto que se a Diretora desse pontos para quem te ajudasse você já saberia até em qual época cada parte da Academia foi construída. Não leve a mal, é só um ano tenso para todos nós, não é nada contra você.
Quando Amira não respondeu, Órion se aproximou e colocou seu braço em volta do seu ombro.
— Mas eu ficaria feliz em ficar ao seu lado... te dar um tour, fazer você se encaixar melhor com o pessoal... se você me ajudar a me aproximar da Cassiopeia.
— Você... quer namorar ela ou alguma coisa assim?- Amira perguntou, se sentindo desconfortável.
— Credo, não. Isso significa que eu tenho outras prioridades se não os nobres, eles não gostam disso. Não, eu só quero me aproximar dela.
Amira tirou o braço dele de si.
— Por que, exatamente?
— Não pode ser porque eu quero fazer novas amizades?
Amira não conseguiu deixar se soltar uma breve risada.
— Vocês nasceram aqui, praticamente. Se ela não quis ficar próxima de você nos últimos dezoito anos, não vai ser agora que ela vai mudar de ideia.
— Não sozinha, mas com a dia ajuda...
— Esqueça. Eu sou a pessoa errada para você pedir isso. Ela prefere ser enterrada viva do que ficar um segundo a mais do meu lado do que o necessário.
— E você? Sente o mesmo?
— Não acredito que seja da sua conta.
— Não é, eu só estou curioso.
— Se for só isso, acho que eu estarei indo.
Amira se virou, mas antes que pudesse dar um passo, Órion gritou:
— Espera! Se você mudar de ideia, sabe onde me encontrar. Gostando dela ou não, tenho certeza que conseguiremos arrumar um acordo bom para ambos.
Mandar ele ir se foder não é o que uma futura nobre faria, mas definitivamente era o que ele merecia.
— Sua oferta de guia era condicional então?
— Tudo é condicional, Amira. Quanto mais cedo você aprender isso melhor. Mas o que eu posso te dar de graça é um conselho: você não deveria ficar sozinha aqui. Relações são poder, e em um lugar onde tudo é igual, você é uma novidade. Todos comentam sua presença aqui, até os mais novos. Use isso antes que o momento passe.
Amira ficou em silencio por um tempo, até se questionar por que caralhos ela não estava concordando com seu acordo. Cassiopeia a trairia em um piscar de olhos, Amira não tinha dúvidas de que ela estava tentando. Ela não tinha nenhum motivo para recusar a oferta, e não estava exatamente na posição de negar aliados. Ela tinha que encarar a realidade como ela era, parar de se comportar como uma adolescente e tentar conseguir as informações que precisava.
— Gostaria de ter um mapa da Academia- ela disse- se você fizer isso para mim, eu fico te devendo uma.
Ele sorriu.
— Eu sabia que chegaríamos em um acordo.

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Sangue e Seiva
FantasyAmira não deveria existir. Não era sua culpa, claro, seus pais sabiam que nobres não podiam ter filhos. Mas o culpado pouco importava. Eles foram pegos e Amira foi enviada para Academia, onde crianças escolhidas eram treinadas para entrar para a nob...