10. Cassiopeia

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Uma semana se passou até que Cassie se sentisse segura para vagar de noite novamente.

   Apesar dos riscos serem os mesmos da última vez, e ela ter esquecido de separar uma muda de roupa de novo, ela precisava de um escape. O dia não tinha sido tão estressante, se ela estivesse sendo honesta com ela mesma, e pela maneira como ela falava, ela sabia que estava soando como um dos viciados nos bares da cidade.

Existiam vícios piores do que querer escapar de uma prisão.

Ela desceu as escadas, tentando não olhar para trás a cada passo. Ter sido seguida em sua última saída sempre a deixava mais nervosa, mas ela não conseguiria ver alguém nos corredores escuros nem se ela tentasse. Sons denunciavam pessoas melhor.

Ela se apoiou no corrimão, parando para ver se escutava passos. Nada.

Ela não pode deixar de sorrir ao continuar seu caminho.

Uma das melhores partes de morar em um só lugar a vida toda era conseguir andar lá mesmo que vendada. Ela estava descalça e conseguiu sentir quando o chão mudou de mármore para pedra, confirmando que estava seguindo na direção certa.

Aquela era uma área muito antiga, mantida completamente vazia exceto na época da Cerimônia dos Legados, na qual os funcionários a usavam para atender os nobres no quarto andar sem terem sua presença muito notada. Era sua melhor chance de evitar encontrar alguém mais que estivesse quebrando as regras e vagando à noite ou de perceber caso alguém estivesse a seguindo, e depois da noite anterior, ela precisava do conforto que a segurança de precauções extras a traria, mesmo que significasse uma volta maior do que ela daria ao usar a escadaria principal.

Uma das portas no final do quarto andar não levavam a um quarto, ou, no mínimo, o cômodo não era mais um quarto há tempos. O papel de parede estava desbotado — Cassie duvidava que rosa era sua cor original — assim como os desenhos de arabescos, e partes estavam caindo da parede. O cômodo era pequeno e não tão bem limpo em comparação aos outros: ele funcionava como depósito quando os nobres vinham, não precisava ter o mesmo tratamento que os quartos.

Em um dos cantos do cômodo havia um banco de madeira que ia do início até o fim de uma das paredes e cujo topo era removível. Da primeira vez que ela o retirou o fundo estava cheio de teias de aranha, o que significava algo importante: ou ninguém mais sabia que o topo era removível, ou ninguém se importava.

O fundo estava limpo agora, e não mais vazio como naquela primeira vez.

Ela sorriu, e retirou de lá com cuidado sua espada.

Não era como aquelas espadas grandes que ela via em ilustrações de livros infantis na biblioteca. Ela era curta e fina, um pouco menor que seu braço, mas ela era afiada e era aquilo que iria importar, se ela precisasse. Ela não era muito forte, por mais que ela tentasse ser, então a espada ser relativamente leve era uma vantagem e, embora nunca a tenha usado, ela sabia que um furo feito com a lâmina seria o bastante para matar alguém, se ela mirasse no lugar certo. Se não fosse, os Guardas que vigiavam o exterior da Academia não teriam uma igual.

Ter uma arma trazia segurança para Cassie, o que era extremamente contraditório já que se algum dia alguém a descobrisse, ela estaria longe de estar segura, mas ninguém a achou até agora e era um risco que ela estava disposta a tomar.

Ela treinou alguma das posições iniciais – guardas– que ela conhecia, e treinou atacar um oponente que não estava ali.

Ela estava de costas para a porta quando ela a ouviu fechar, o que não seria um problema, se ela já não tivesse feito isso assim que ela entrou. Para uma porta fechada fechar de novo, ela antes precisaria ser aberta.

Sangue e SeivaOnde histórias criam vida. Descubra agora