8. Amira

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Na manhã seguinte a sua expedição, Amira foi acordada com uma almofada sendo jogada no seu rosto. De novo.

    — Mas que porra...- ela deixou escapar antes de acordar totalmente. Em uma tentativa de se salvar, ela emendou- Você poderia parar de fazer isso, por favor?

   Fazia uma semana desde que aquilo acontecia e Amira não tinha sentido falta.

   — Depende- disse Cassiopeia com outro travesseiro já em mãos- Você poderia parar de deixar o caralho dessa cortina aberta?! Eu poderia jurar que eu fechei ela ontem à noite duas vezes!

   Ela tinha fechado. Mas quando Amira voltou para o quarto depois de seguir Cassiopeia de volta da cozinha, ela as abriu de novo.

   — Se você fechar elas, você não vai ver o sol nascer- ela disse, ainda com sono.

   Cassiopeia levantou uma sobrancelha.

   — E?

   Uma única sílaba a fez acordar mais rápido que qualquer travesseiro arremessado conseguiria, lembrando ela de que ser uma Adoradora do Sol poderia ser motivo o suficiente para expulsão. Talvez até mesmo para um bilhete só de ida para fora do Domo.

   — O nascer do sol é bonito- ela tentou- acho que o ver é uma oportunidade única.

   — Não é única se eu estou vendo essa merda há uma semana- Amira tentou não demonstrar a raiva que ela sentiu de ter sua religião reduzida a "essa merda". Mas piorou- E quem liga? Não é como se ele fosse real.

   — O que você disse? - Amira só percebeu o punho na sua mão depois de fazê-lo. Ela o desfez imediatamente, focando em mexer com a manga do seu pijama ao invés disso.

   — Que o céu que nós vemos não é real? É só o Domo o imitando. Ele não deixa passar nenhuma luz para evitar a radiação do lado de fora. Você deveria saber disso, é conhecimento básico...

   — Desculpa se nós queremos ver o mais próximo que nós temos de uma luz!- Amira defendeu bruscamente antes de perceber o que ela tinha dito.

    Cassiopeia abriu um sorriso assimétrico.

   — Nós?

   E foi ali que ela percebeu que tinha se ferrado.

   —Sim. Eu e você.

   — Não, eu não acho que tenha sido isso...- seu sorriso aumentou- Espera aí? Você está com aqueles loucos suicidas? Os "adoradores do sol" ou alguma coisa assim.

   — Eles não são loucos nem suicidas.

   — Querer se livrar do Domo e morrer de radiação soa como loucura e suicídio para mim.

   — Só porque uma parte não tem bom senso não significa que você pode generalizar!

   Cassie ergueu as mãos em redenção.

   — Tá bom. Fique com o seu culto apocalíptico. Eu só acho que existem maneiras mais práticas e menos danosas de morrer.

   — Não é...!!- Amira respirou fundo e tentou se convencer que defender eles agora não iria adiantar muito. Ela ia se entregar e nada mais- Não é meu culto apocalíptico- ela corrigiu- mas não é porque eu não acredito em algo que eu vou tratar com desrespeito.

   — Se algo quer me matar, eu vou tratar com desrespeito- Cassiopeia murmurou, possivelmente só para ter a última palavra, mas pelo menos depois ela trocou de assunto- mas se eles não acabarem com o mundo até semana que vem, nós ainda vamos ter uma valsa para apresentar, e foi para isso que eu te acordei. Vem.

Sangue e SeivaOnde histórias criam vida. Descubra agora