Naruto Uzumaki
Geralmente, os velórios em filmes acontecem em um dia nublado e sem graça. Ou chuvoso, melancólico, como se o mundo inteiro estivesse chorando junto com a família. No entanto, enquanto Naruto encarava o pão francês recheado com margarina e mortadela, ele sentia o resto do mundo dolorosamente igual. Quer dizer, ele ouvia crianças brincando na rua de trás, o sol brilhava intensamente no céu azul e o despertador tocou às 5:45h. Ele levantou mesmo sabendo que não iria para a aula.
Ele tentou entrar nas redes sociais de manhã, mas foi insuportável. Tinham dezenas de menções e centenas de mensagens, todas lembrando-o de que o pai nunca mais estaria ali. Um suspiro escapou de seus lábios enquanto dava uma mordida no pão e mastigava sem a menor vontade.
Naruto vinha escutando sobre como o pai foi corajoso e morreu defendendo seus ideais e o que é certo. Que tinha morrido em um confronto com traficantes protegendo pessoas inocentes e essa foi uma atitude muito nobre. Que tinha sido um ótimo policial, prendendo inúmeros bandidos. Uma menina o chamou no privado do Instagram para agradecer e dar as condolências. Durante uma ronda, seu pai tinha impedido a garota de ser estuprada. É como se as pessoas estivessem usando todos esses argumentos para convencê-lo de que ele tinha vivido o suficiente, ou aproveitado a vida, ou feito valer a pena.
Não é como se o Uzumaki não sinta orgulho do pai. Pelo contrário, ele sente – e muito. Mas...
Bom, Minato continua morto. E seu peito continua doendo, em uma sensação de vazio que parece nunca ter fim.
Ele sente como se o chão tivesse sido arrancado sob seus pés, deixando-o em um abismo de emoções turbulentas. Há uma mistura de choque, negação, tristeza e raiva que o consome por dentro. Ele não consegue acreditar que o pai se foi e que nunca mais poderá estar com ele novamente.
Uma lágrima silenciosa correu pelo rosto inchado e Naruto largou o pão em cima do prato. Alguém bateu palmas na frente da casa e ele levantou da cadeira, andando devagar e espiando para fora. A vizinha usava um vestido vermelho surrado e segurava um bolo de chocolate em um prato de vidro. Ela sorria, mas tinha aquela expressão. Aquela que todos têm quando olham para ele. É pena, mas como se compreendessem a dor dele. Não entendem.
"Naruto" Ela chama "Kushina está?" O loiro concorda com a cabeça, mas não chama a mãe. Ele desce as escadas até o portão, agradece o bolo, não ouve o que a mulher diz depois disso e volta para dentro de casa. Fecha a porta atrás de si desejando que tudo pudesse ficar lá fora – as pessoas, seus sentimentos, sua dor... Naruto coloca o bolo em cima da mesa e o encara.
Ele teria devorado o bolo sem a mãe ver, mas não sente a menor vontade de fazer isso agora. Minato o xingaria quando chegasse do trabalho, lhe faria cócegas e mandaria ele tomar banho. O garoto sente o estômago embrulhar e, com passos pesados, dá a volta na mesa da cozinha e vai até a porta do quarto da mãe, que continua fechado. Ele ouve a mãe chorando lá dentro e seu peito parece ficar ainda mais dolorido. As lágrimas voltam a cair por seu rosto, incapaz de suportar.
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(Arco 1) Vício Carioca: Raízes
FanfictionAs ruas caóticas do Rio de Janeiro são feitas de muito mais além de funk, cerveja e barzinhos. Em meio à desafiadora passagem da adolescência para a vida adulta, Naruto e Sasuke encontram-se em uma encruzilhada. Enquanto lutam por seus ideais e busc...