Sem expectativas

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Eu saí do banho e estava sozinha no quarto de Rodolffo. Depois da recusa de tomarmos banhos juntos, não me admirava se ele recusasse qualquer outra coisa que eu propusesse a fazer e isso me deixava chateada, mesmo que eu tentasse compreender que tudo tem seu tempo e que ele queria mais um pouco de tempo.

Já não tinha certeza absoluta se eu tinha tanto tempo assim, já próximo aos 30 anos e com o diagnóstico de uma doença sem cura e que poderia se agravar, me levando a uma cirurgia invasiva e que certamente órgãos reprodutores serão retirados, era real que não tínhamos o mesmo tempo e eu começava a acreditar que não partilhamos dos mesmos sonhos.

Cogitar a possibilidade de uma nova separação era uma dor que eu não queria viver. Eu amava tudo que ele era pra mim. Um companheiro, um amigo, um incentivador, um homem que poucas mulheres conseguem ter e eu tinha. Rodolffo nunca me pressionava a fazer as coisas e nisso eu tinha remorsos por que eu imponha as minhas vontades sobre a dele. Eu parava para refletir sobre isso, até ouvir a porta se abrir.

Passava meu hidratante corporal quando ele entrou no quarto.

- a água está ótima... - eu disse pra ele e recebi seu olhar sedutor.

- talvez não devesse usar esse pijama hoje. - ele disse depositando um beijo no meu ombro. - te acho perfeita demais nele.

- obrigada. - disse tocando sua barba.

- não demoro... - ele me deu um selinho e foi tomar banho.

Rodolffo não demorou tanto tempo no banheiro e saiu com a toalha enrolada na cintura. Ele era lindo e eu acreditava totalmente que seu amor era meu. Ou estaria eu vivendo um engano?

Caminhei até ele e o abracei por trás. E senti seu corpo arrepiar e ele segurar minhas mãos.

- linda... estamos cansados ... - ele disse baixinho e eu encostei o rosto nas suas costas.

- seja honesto comigo... Por favor. - eu pedi sentindo a voz embargar.

- eu sou honesto e sempre fui... Eu juro!

Ele fez eu me desgrudar dele e ficou de frente a mim.

- eu ainda não consegui te provar que eu não fiz aquilo, mas eu vou conseguir.

- não estaria aqui se eu ainda duvidasse disso. Não é sobre isso.

- e o quê é?

- não quer ser pai, não é? Eu sei que no passado nunca foi uma pauta entre nós por que eu afirmei que nunca conseguiria e tu me levou em dois bons médicos que me deram o mesmo diagnóstico.

- por que acha que fui pessoalmente naqueles exames e consultas?

- para fazer as minhas vontades. Tu sabia que eu não me conformava com o diagnóstico.

- tá errada. - ele fez um carinho na minha bochecha.

- então por quê?

- por querer o mesmo e sonhar o mesmo. Que homem não quer ter um filho com a mulher da sua vida? Se existem os que não querem, eu respeito, mas eu não sou esse homem. - ele fez uma pausa e continuou. - Doeu ouvir o quê o médico de Goiânia disse, ele não deveria ter usado palavras tão duras e ser tão cruel. Enquanto ele falava eu sentia que um pedaço de mim era arrancado e te ver chorar me fez ter vontade de bater naquele infeliz. Eu quero ser pai Juliette, mas eu tenho medo.

- não acha que somos capazes de vencer qualquer coisa juntos?

- sim. Somos capazes. Mas e se não der certo e se isso tudo te fizer chorar de novo?

- eu vou me conformar, mas não quero desistir antes de tentar.

- eu quero tanto te amar hoje... - ele disse colando sua testa na minha.

- e eu quero tanto te amar e ser amada.

- só vamos nos promete uma coisa...

- o quê?

- que não vamos criar expectativas.

- eu prometo...

- e que se acontecer, vamos ter paciência em cada mês por que...

- eu sei... Não fale. - pedi e ele silenciou. - Sem expectativas.

Era impossível não criar, mas tentarei controlar o meu coração e deixar fluir.

...

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