Coincidências do amor

Marcas Evidentes

Dias atuais, quatro anos depois.

1° de agosto de 2019. Fazenda da família de Rodolffo, Anápolis.

Cantávamos "parabéns" animado para o meu pai e era sempre uma alegria comemorar essa data, meu pai é um grande homem.

- parabéns pai. Que Deus ilumine muito a sua vida.

- ôh fi... Te amo bastião. - ele me deu um abraço apertado.

Era um dia alegre em minha família, mas tinha algum tempo que eu não conseguia me alegrar verdadeiramente. Desde março de 2016 precisamente.

Foi no dia 27 desse mês que tudo começou a desmoronar na minha vida e a que eu perdi a mulher que mais amei e que estava disposto a compartilhar uma vida.

Juliette pôs um ponto final no nosso relacionamento de mais de um ano por causa de uma armadilha, uma mentira e uma situação que não consegui me explicar.

- irmão... Se anima. - minha irmã dizia fazendo carinho no meu ombro.- Rodolffo não gosto de te ver assim pensativo.

- tem dias que eu me pego pensando como seria se ela tivesse vindo pra cá... Se a gente tivesse casado... - eu não conseguia falar muito disso.

- ela não te deu uma oportunidade de explicar que não era nada daquilo. Eu achei que ela foi injusta.

- eu estava deitado na cama com outra Izabella. Você também não perdoaria. Já tinha dois meses que a gente não se via e a Camila fez a cabeça dela, o covarde do Rubens me atraiu para aquele lugar e eu fui dopado com um copo de água.

- você foi muito burro, mas ela sabia que você era lesado, mesmo assim nem quis te ouvir.

- ela chorava do outro lado do celular e eu deveria ter morrido naquele dia por que perder a Ju dói demais. Eu sinto falta dela, do quanto éramos amigos, da nossa conexão e de tudo que foi bom entre nós. Quando fecho os olhos ainda sinto o cheiro do seu cabelo.

- se ainda a ama, pode procurá-la. Nem tudo está perdido.

- ela não me quer... Não adianta mais.

...

São Paulo, Clínica de Ginecologia e obstetrícia.

- vejo que conseguimos um bom resultado com o tratamento. Diminuiu muito a sua endometriose. - a médica me dizia aquilo e eu me alegrava.

- graças a Deus. Foram tantos anos para conseguir um tratamento eficiente.

- não é preciso mais fazer a retirada do útero. Eu te falei que essa seria a nossa última alternativa.

- e eu pedi tanto a Deus para não permitir que isso acontecesse. - eu enxugava as lágrimas do rosto.

- pois agradeça muito, não é mais necessário. E acho que pode planejar o seu bebê, se quiser obviamente.

- eu quero. Não quero esperar ficar mais velha, ou ter outros problemas para planejar o meu bebê.

- então vamos começar os procedimentos. Mas ainda te darei tempo, pode ser que conheça alguém especial.

- não vou conhecer. Eu não quero conhecer e meu coração é ferido por pessoas que não sabem o quê é respeito. Não vou me permitir ser machucada de novo, então serei mãe sozinha. Graças a Deus eu tenho como ter um filho e mantê-lo com o meu trabalho.

- eu sei que é uma excelente advogada.

- sou sim e me orgulho disso.

Terminei minha consulta e sai daquele ambiente com o coração feliz.  Eu não estava totalmente curada, mas eu não precisaria mais me envenenar com tantos hormônios e anticoncepcionais.

Foram onze anos de luta, mas agora eu me sentia muito melhor e pelo menos eu poderia contar essa vitória na minha vida.

Caminhava pelas ruas da capital até que peguei um taxista. Mas me arrependi na hora que sentei no banco do carro.

- a senhora deseja ir pra onde?

O sotaque goiano fez meu corpo arrepiar e eu fiquei muda.

- ôh moça... O trem tá contando aqui... Levo pra onde?

Disse meu endereço e ele seguiu.

- a senhora tá bem? - ele me perguntou com um rosto preocupado.

- o senhor é de onde?

- uai... Sou do interior do Goiás moça e ocê?

- do interior da Paraíba. Eu quase fui morar no Goiás.

- uai... Mas a senhora ia vê um trem bão.

O motorista me falava entusiasmo sobre coisas do seu estado e da culinária do lugar. E o meu pensamento viajava nas lembranças do passado e das vezes que estive no Goiás.

...