Verdades rasgadas

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Em meio ao meu desespero, vi meu pai caminhando em minha direção. Seus braços abertos e prontos a um abraço foram o refúgio que eu precisava. Chorei como um menino para tentar aliviar a minha dor.

- calma... Não precisa ficar assim. Tudo vai ficar bem e trago notícias.

- viu o Rafael pai?

- está bem, sua mãe cuida dele e seus sogros já desembarcaram no aeroporto. Já conseguiu comer alguma coisa?

- não quero pai. Está muito difícil, a Ju não lembra da gente e não é só isso, ela tá... - eu fiz uma longa pausa.

- tá o quê?

- grávida.

- sério? - meu pai ficou surpreso, tinha uma cara de espanto. - Mas ainda está nesse momento ou estava?

- ela não perdeu. Está esperando um bebê.

- mas eu achei que ela não teria filhos. Um dia você me disse que não era possível.

- ela se cuidou e a médica achava possível, mas só veio agora. Mas a Juliette não lembra de nada.

- calma. Eu tenho uma informação ainda mais séria.

- o quê foi?

- Rubens entregou a Camila como cabeça da tentativa de sequestro e ela foi detida.

- sério?

- sim. Que absurdo meu Deus, como tiveram coragem?

- ah que tempos difíceis. Não consigo nem pensar direito.

- precisa comer, venha. Vou cuidar d'ocê.

O apoio moral do meu pai me fazia refletir e ter esperanças. Eu precisava ter algo em que me agarrar.

...

Depois de um dia muito longo, a noite caiu e transferiram Juliette para um quarto. Eu estava junto e mesmo que talvez esse não fosse o desejo dela, não sairia do seu lado por nada.

- como se sente? - eu perguntava enquanto ajeitava sua coberta.

- o quê faz da vida hoje? - ela me perguntou me olhando fixamente.

- tenho uma empresa de engenharia e arquitetura.

- não combina com você. - ela deu um riso fraco. - mas eu lembrei que te vi de terno, apresentando alguma coisa num palco.

- lembrou do nosso reencontro meu amor. - eu aproximei e segurei sua mão. - Foi ali que nossos olhos se cruzaram de novo.

- nunca me esqueceu? - seus olhos estavam cheios de lágrimas.

- nenhum dia da minha vida. E eu quero que me perdoe por ter te magoado.

- mas tu disse que eu perdoei.

- mas não foi tão fácil, então eu quero que saiba que um dia vai se lembrar de tudo, mas antes que esse dia chegue quero que me perdoe.

- eu estou me sentindo com sono. - ela disse já fechando os olhos.

- então dorme meu amor. Dorme...

Já com os olhos fechados, ela me disse:

- eu lembro de um bebê. Fecho os olhos e vejo nitidamente o seu rostinho. Quem é? - ela disse abrindo os olhos.

- Rafael, nosso menino. - vi que Juliette se assustou.

- temos um filho? - seus olhos eram pura expectativa.

Eu tinha que usar as palavras certas. Juliette não entenderia tudo de uma vez.

- ele tem oito meses e te ama muito, te chama mamã...

- eu também o amo. Eu sinto isso. Mas eu não consigo mais falar... Eu...

- descansa amor.

Juliette estava tomando muitos remédios e aquilo me preocupava. Eu desejava que nosso bebê fosse forte o suficiente para resistir e ser saudável num momento tão difícil.

Eu tenho fé e esperanças que vamos vencer essa dura batalha.

...

Coincidências do amor Donde viven las historias. Descúbrelo ahora