Capítulo 9

23 2 3
                                    

— Aqui ele não vai te achar — assegurou Danilo, fechando a porta de aço do estúdio de tatuagem, junto ao vento frio lá fora.

Suspiro alto. Minhas mãos ainda tremiam e eu me perguntava se tinha sido mesmo uma boa ideia fugir com o garoto à minha frente. Na maioria das vezes eu só parecia corajosa, mas por dentro estava morrendo de medo. Não queria que a minha atitude causasse o fim definitivo do meu relacionamento com Bryan.

Danilo parecia perceber meu nervosismo.

— Você tá bem?

Faço que não com a cabeça e, por um momento, me sinto estranha por não conseguir mentir pra ele, como faço com todo o resto do mundo.

— Relaxa. Não vou deixar ninguém chegar perto de você.

Uma onda gelada passa pelo meu estômago, mas eu não estava mais com tanto medo. A sensação de não estar sozinha era diferente. E reconfortante.

Eu só não sabia por quanto tempo duraria.

— Obrigada, Danilo. De novo — digo, desapontada.

Danilo me dá um sorriso leve, de conforto. Ele caminha pra dentro da Olimpo até parar em frente a uma das fotos emolduradas na parede. A foto que fizera ele me reconhecer na festa de Maurício, que fez a gente se conhecer e ele me tirar de uma situação terrível por duas vezes.

— Você parece tão confiante nessa foto. Nunca imaginaria que essa mulher namoraria alguém tão babaca.

Meu rosto arde, tamanha a vergonha.

— O Bryan não é um babaca.

Grande hipócrita. Como se eu mesma não chamasse meu namorado de babaca e outros mil sinônimos pelo menos umas dez vezes ao dia. Pra mim, já havia se tornado uma espécie de terapia.

— Ele só tava confuso e nervoso — explico. — E com ciúmes de você.

Danilo arqueou as sobrancelhas e as baixou, fingindo compreender.

É difícil lidar com pessoas que não se contentam com as coisas como elas são. Não precisava de muito tempo com Danilo pra perceber que ele era esse tipo de pessoa. E é por isso que nós nunca iríamos dar certos juntos.

— Ninguém é perfeito — digo, encolhendo os ombros, tentando convencer a nós dois.

— Se você tá dizendo... — ele responde, ainda que parecendo decepcionado com as minhas justificativas. — Tem que ter mesmo algum motivo bom pra você ainda estar com ele.

Abraço meu próprio corpo, desconfortável com a conversa. Sim, havia um motivo. Mas ele não era bom. Ele era forte e doloroso, e me deixava constrangida.

O silêncio tomou conta do lugar por alguns minutos, enquanto Danilo caminhava até uma das salas particulares do estúdio. Ele abriu a porta, acendeu as luzes e me olhou, como se me chamasse para segui-lo.

Vou atrás dele, com cautela, e entro no cômodo mais iluminado. A sala, onde eram dadas as aulas do curso de Fred, tinha diversas mesas compridas, repletas de materiais para o treinamento. Nas paredes, haviam, colados, uma série de desenhos em grafite. Me aproximei para admirá-los.

— Tá com sede? Quer alguma coisa? — Danilo pergunta, abrindo o frigobar. — Tem refrigerante, energético, água, suco...

— Tanto faz — balanço a cabeça pra ele.

Danilo retorce a boca e puxa duas garrafas de água. Logo depois, estende uma pra mim.

— Você deve tá com maior calor, não é? Com esse vestido? — ele se senta em uma das cadeiras.

Cada SegundoOnde histórias criam vida. Descubra agora