Capítulo 8

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Eu já tinha perdido a conta de quantos copos havia bebido. Não importava. Eu queria esquecer: dos últimos acontecimentos, do lugar onde eu estava, de quem eu era. Qual a graça de encher a cara se não for pra isso?

Porém, por maiores que fossem meus esforços, havia uma coisa que eu não conseguia tirar da minha cabeça e nem da minha visão turva. Aquele garoto insuportável e aquela garota tão bonita que me dava raiva, há alguns metros de nós. De onde eu estava, tinha um ângulo perfeito para observar os dois pombinhos e simplesmente não conseguia parar de olhar, mesmo com Bryan nas minhas costas, numa tentativa falha de dançar comigo, se esfregando em mim como se estivesse no cio.

Viro o copo na boca outra vez. Nem sabia mais o que estava bebendo. Mal sentia o gosto.

Já eram duas da manhã, um funk carioca tocava agora e a batida animava todo mundo. Os amigos de Bryan se dispersaram pelo ambiente, aparecendo vez ou outra com um sorriso besta e a boca manchada de batom. Em alguns momentos, eram as garotas que vinham até eles, os beijavam na nossa frente, sem qualquer pudor, e os abandonavam logo depois. É claro que eu sentia uma pontada de inveja delas, que podiam aproveitar o quanto quisessem daqueles rostinhos bonitos e sem cérebro e largar quando não fosse mais necessário, agindo exatamente como os homens fazem com a gente o tempo todo.

Mas eu não tinha esse privilégio. Eu não podia simplesmente aproveitar a vida e fazer coisas só para me divertir, sem pensar no amanhã. Porque o meu amanhã era um pesadelo e eu precisava acordar dele de alguma maneira. Nem que fosse entrando em outro, menos pior.

Era por isso que eu tinha de aceitar os beijos frios de Bryan. Já fazia muito tempo que já não sentíamos mais a adrenalina, a euforia, o desejo. E os nossos beijos eram assim: sem graça, secos, rápidos. Quando ele bebia, parecia mais interessado. Mas eu mesma, não sentia mais nada.

Mas a questão era que, já eram duas da manhã, as melhores músicas estavam tocando, todo mundo já havia se beijado e o casalzinho que eu vigiava ainda não havia feito nada. Nem uma chegada mais próxima, nem um aperto na cintura, nem uma passada de mão maliciosa. Eles só conversavam, no ouvido um do outro, e riam o tempo todo, e só aquilo já estava me tirando do sério.

Quer dizer, a garota era perfeita. Seu cabelo era longo, grosso e escuro, sua pele parecia apenas um tom mais clara do que a de Danilo, e quando um feixe de luz passou pelo seu rosto, pude ver seus outros traços indígenas: o nariz achatado, a boca carnuda e os olhos amendoados. Ela usava um vestido dourado, de um ombro só, tinha pouquíssimas curvas e ainda assim era a maior gostosa que eu já tinha visto. Sua energia e confiança emanava isso até mesmo àquela distância.

Eu não precisava pensar muito pra entender porque Danilo se interessara por ela e não por mim, mas ainda podia torcer pra eles não ficarem juntos.

— O que você tanto olha, hein? — Bryan segurou meu queixo, me fazendo olhar pra ele. Ele estava fazendo aquela cara de quando se importava o suficiente para tentar me seduzir. Sua mão me puxa pra outro beijo e solta meu rosto. — Adorei o seu vestido, sabia? Comportado e ousado na medida certa.

— Eu também adoraria, se não tivesse fazendo uns 40 graus aqui dentro — respondo, tentando ignorar o tempo todo as gotinhas de suor que escorriam por baixo da roupa.

— Você fica bem mais bonita assim, Lorena.

E você fica maravilhoso quando está mudo, penso. Mas, ao invés de responder, apenas viro o meu copo mais uma vez.

— Aí, cara! — Lucas volta à mesa, suando também. — Bora lá embaixo comprar mais um balde? A ruivinha da garçonete nunca mais voltou, depois que o William deu em cima dela.

Cada SegundoOnde histórias criam vida. Descubra agora