Capítulo 12

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Quando Danilo entra em meu quarto, agora de destroços, eu ainda não me movi. Estava em choque, agarrando contra o meu corpo as partes decepadas dos ursos com os quais eu costumava dormir.

Eu nunca vi Danilo tão surpreso quanto naquele momento, vendo com seus próprios olhos a situação. Eu nunca o vi tão triste.

Ele não fala nada por alguns segundos e nem eu. Na tentativa de se movimentar por entre os entulhos no piso, consegue enfim chegar até mim, sentada no chão. Com cuidado, ele retira os pedaços de pelúcia do meu abraço e substitui pelo seu. Eu não o impeço em nenhum momento, apenas continuo olhando todo o estrago.

Danilo me abraça forte, me cobrindo consigo mesmo, como se eu estivesse à beira de uma hipotermia e ele tentasse me descongelar com o seu corpo quente. Sua ternura me tirava do frio. O abraço de volta e ficamos assim por um tempo, até que ele se afasta e me olha nos olhos.

— Vamos tirar você daqui.

Franzo o cenho.

— O Fred e a Luísa estão lá embaixo, esperando. Pega o Soneca. Vamos.

Percebi como Danilo era especial pra mim quando ele foi a primeira pessoa que pensei em mandar mensagem e ter coragem pra falar o que aconteceu. E então, ele veio às pressas.

Eu não sou do tipo de pessoa que pede ajuda. Não sou o tipo de pessoa que dá o braço a torcer e expõe sua vulnerabilidade. Mas Danilo é o tipo de pessoa que estende a mão mesmo sem você pedir, como na primeira vez em que nos conhecemos e em todas as outras que se seguiram. E, então, ele te ajuda a estabelecer a confiança em sua amizade, até você, efetivamente, conseguir gritar por socorro e ter a certeza que ele vai estar lá. Independente de tudo.

Mesmo que você não tenha mais nada a oferecer. Mesmo que você tenha sido destruída ali, junto com todo o resto que, de uma hora para outra, se tornou lixo.

Danilo foi no banco de trás comigo, Soneca miando dentro do transporte em meu colo e uma mochila com as poucas peças de roupas que permaneceram inteiras, enquanto Luísa dirigia o seu Fiat Uno e Fred me perguntava diversas coisas no banco do carona.

Detalhes, como: Por que ela fez isso? O que ela tinha na cabeça? Vocês brigaram? O que aconteceu?

Eu disse que não sabia de nada. Que provavelmente ela havia surtado, como sempre.

Mas não era tão difícil sacar o motivo real do surto de Mônica, e aposto que Danilo estava pensando o mesmo.

Nós ouvimos quando ela ameaçou se vingar de mim, na noite anterior, pelo Roger ter terminado com ela de novo, provavelmente depois da nossa briga na cozinha. E ela ficou ainda mais revoltada ao ouvir a voz masculina de Danilo e os risos saindo de dentro do meu quarto, àquela hora da noite. Como se a minha alegria a afrontasse.

Em toda a minha vida, eu nunca pude demonstrar qualquer sinal de bem-estar perto de Mônica, porque seu desejo era que eu sempre me sentisse culpada por existir e estragar sua vida. Ela me condenava por todas as coisas ruins que aconteciam à ela. Devia ser um prazer colocar um filho no mundo para ter outra pessoa a quem culpar por ser um fracasso em cada aspecto de sua vida. Pelo menos para Mônica, que era uma piranha estúpida e sádica.

— Não dá pra você continuar morando naquela casa. Sua mãe é perigosa. A gente não sabe o que ela é capaz de fazer — Danilo tenta vislumbrar meu rosto no escuro do carro em movimento e, ao invés disso, o segura. Então, acaricia minha bochecha com o polegar, delicado.

Fecho os olhos e me concentro em seu toque, em como sua mão macia se encaixa perfeitamente em meu maxilar. Respiro fundo e o olho novamente. Os olhos de Danilo estavam baixos. Por alguns segundos, naquele breu, ele parecia encarar meus lábios.

Cada SegundoOnde histórias criam vida. Descubra agora