— Lorena Rodrigues, é isso? — a mulher levanta os olhos do papel.
— Sim, senhora — balanço a cabeça, não só para afirmar como também para espantar o nervosismo. Aquela era minha primeira entrevista de emprego desde que fui informada carinhosamente, pelos meus antigos chefes, de que eles não precisavam mais dos meus serviços.
— Então, Lorena, está dizendo aqui que você se candidatou a nossa vaga de auxiliar do período da tarde. Vamos conversar um pouco sobre isso. Primeiro, o que te levou a essa decisão? — ela me encara, de terninho colorido, um sorriso leve e um olhar desafiador.
Sorrio de volta o meu sorriso mais simpático, elevando minhas sobrancelhas até quase atingirem a raiz dos meus cabelos. Toda a sua linguagem corporal de confiança e superioridade não iria me atingir. É preciso de muito mais para deixar Lorena Rodrigues com medo.
— Essa vaga é perfeita pra mim. A carga horária é ideal para os meus estudos e é fácil de chegar. Sabe, eu tô precisando de um emprego desde que os donos da loja de tecidos, em que eu trabalhava, mudaram de cidade. Eu coloquei o número deles como referência caso vocês queiram entrar em contato.
A mulher assentia. Flávia, era como ela havia se apresentado. Era a codiretora dali e gostava de resolver os assuntos relacionados à contratação de novos funcionários pessoalmente. Assim, a primeira fase — as entrevistas — eram todas feitas com ela, que se descrevia como criteriosa e cautelosa em suas escolhas, afinal, é minha responsabilidade zelar pelo bem das crianças.
Mas ela não me enganava. Vi sua expressão de triunfo quando a outra candidata à vaga saiu cabisbaixa de sua sala, antes dela me chamar. Tinha certeza que por baixo de todo aquele rosa-coral, se escondia uma sociopata.
Sorte minha que minha genitora também era uma. O que me tornava uma especialista no assunto.
Olho pros seus dedos entrelaçados sobre a mesa. Não sinto que a persuadi o suficiente, então continuo.
— Eu pesquisei bastante antes de me candidatar e vi que a creche Jardim Encantado oferece a melhor estrutura da cidade. Além de ser um espaço tão lúdico, organizado e limpo. Faz sentido vocês estarem procurando por mais auxiliares, deve dar muito trabalho pra manter esse nível de qualidade. Se eu tivesse filhos, com certeza os colocaria aqui para que eu pudesse trabalhar. Hoje em dia, a maioria das mulheres não querem abdicar de suas carreiras para ficar em casa cuidando das crianças. Um lugar de confiança e conforto como esse é essencial.
Um dos cantos da boca de Flávia se ergue, esticando mais seu sorriso. Isso!
— Você tem razão, nós temos muito trabalho aqui e um trabalho sério. Como você pode ver, funcionamos até em dia de feriado.
Balanço a cabeça.
— Sem problemas pra mim.
Flávia assente, desvia os olhos para sua prancheta e faz uma anotação. Me seguro para não esticar meu pescoço, mas acredito que estava indo bem.
— Você disse que escolheria essa creche pros seus filhos se fosse mãe. Pretende ser algum dia?
Quase rio de sua sagacidade para me fazer a pergunta — aquela que poderia me desqualificar como funcionária, dependendo da minha resposta. Porque é assim que as coisas são. Quem iria contratar alguém que planeja ter filhos?
Se fosse pra ser verdadeira, não. Mas Bryan não diria o mesmo. Seus pais diziam o tempo todo o quanto eram doidos pra ser avós, o que talvez fosse para compensar alguns vazios. Quer dizer, imagina ter um filho único e ele ser... o Bryan. Deve ser muito triste, mas não mais do que mini Bryans dentro de mim.
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Cada Segundo
RomanceLola quer escapar da sua vida de qualquer maneira. Com a ajuda do seu namorado, Bryan, a garota planeja se casar após se formar no ensino médio, para enfim sair de casa e se livrar da sua mãe, com quem possui uma relação desafiadora. Porém, Lorena R...