Capítulo 2

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Nos finais de semana, eu dormia na casa do meu namorado, e o namorado da minha mãe dormia em nossa casa

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Nos finais de semana, eu dormia na casa do meu namorado, e o namorado da minha mãe dormia em nossa casa. Sendo assim, o fato de eu não ter saído para dar total privacidade a eles era ainda mais desconfortável quando as nossas paredes eram tão finas que eu conseguia ouvir o ranger da cama de casal, do outro lado do corredor.

De qualquer forma, eu duvido que eles tenham percebido que eu estava em casa. Ou que eles se importariam de fazer menos barulho por isso. Então, depois pensar em tantas formas de morrer, saio do meu quarto e desço as escadas para ir até cozinha, o lugar mais distante e seguro possível.

Ao menos era o que eu pensava.

Puxo a porta da geladeira com força. Todo vez que faço isso é como se estivesse esperando por um milagre, mas, como sempre, estava vazia. Mônica simplesmente não fazia compras. Ela também não cozinhava, não limpava a casa e não fazia nada que uma mãe convencional normalmente faz.

Não porque ela era uma mulher feminista, lutando contra os padrões opressivos da sociedade, muito longe disso. Na verdade, Mônica era uma pessoa completamente egoísta e descolada da realidade: o seu mundo era sempre o marido de outra. É por isso que, desde que minha avó faleceu, devido às complicações de sua diabetes, quando eu tinha apenas doze anos, e eu tive a infelicidade de voltar a morar com minha mãe, eu tenho que me virar sozinha pra tudo. Principalmente pra ter o que comer.

Mas não era como se ela esperasse que eu cozinhasse. Como eu poderia fazer isso sem qualquer item básico no armário ou em qualquer outro canto da cozinha?

Eu também não podia comprar. Havia perdido meu emprego numa loja de tecidos, há dois meses, depois que os donos fecharam e se mudaram pra outra cidade. Nunca mais consegui trabalho algum, por isso, não dou conta das minhas necessidades. E Mônica nunca se preocupou com elas.

Então, nesses dias que não há nem um macarrão instantâneo vencido, perdido entre as prateleiras, é que eu sinto ainda mais saudade de vender botões para idosas parcialmente surdas. Ou de me escorar em Bryan e na sua família, na sua casa e em todo o conforto oferecido por lá.

Pego uma garrafa de água da geladeira e a fecho. Sinto Soneca se esfregar entre minhas pernas, enquanto sirvo um copo. Eu nem havia percebido que ele viera atrás de mim, mas era só assim que o meu gato se sentia seguro pra sair do quarto. Ele tinha medo de Mônica. Mas quem não teria?

No começo, eu pensei que fosse por intuição. Talvez ele pudesse sentir a energia negativa que a mulher emanava, o cheiro podre do cigarro e da falta de caráter. Então, um dia, eu cheguei em casa e flagrei a mulher perseguindo a porra do meu gato, com um chinelo na mão. Agachada, ela tentava fazê-lo sair debaixo do armário para bater nele. Fechei a porta em um estrondo, fazendo-a se assustar e o bichinho conseguir escapar. Eu encarei Mônica com sangue nos olhos, mas não fiz nada. No dia seguinte, ela não entendeu porque suas roupas saíram cheias de necessidades felinas da máquina de lavar.

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