Capítulo 5

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Eu não esperava muito de Bryan: não esperava que ele fosse romântico, não esperava que ele fosse sensível, não esperava nem mesmo que ele fosse fiel. Na verdade, achava até injusto querer esperar alguma coisa de uma pessoa tão limitada.

É por isso que eu não entendia por que ainda ficava chateada. Por que ainda me sentia tão mal, como um pedaço de lixo, quando ele fazia alguma merda. Como se quisesse, apesar de tudo, que ele realmente me amasse. Mas nem mesmo eu o amava. Como poderia ser tão egoísta assim?

De qualquer forma, eu era fiel ao nosso relacionamento. Não por minha causa, na verdade. Afinal, se o professor Henrique não tivesse me rejeitado completamente, eu não iria me importar de viver o lindo romance proibido que fantasiei por várias noites com ele. Mas o que quero dizer é que, em vista da minha investida não dar certo, eu permaneci fiel, já que aquela foi a única vez que tentei algo do tipo.

Bryan, porém, era incapaz de se contentar apenas comigo. Ele estava sempre à procura de mais em outros lugares. À procura de outros corpos para se satisfazer, outras mulheres para tocar. Acho que era isso que me incomodava: me sentir insuficiente. O que era engraçado do mesmo jeito, porque eu também nunca esperei muito de mim mesma. Muito menos ser boa o bastante para outra pessoa.

Minha mãe foi a primeira a me ensinar minha incapacidade de ser amada, de fazer alguém feliz. Meu pai, anônimo e indiferente, também. Por causa deles, eu sabia disso como ninguém.

É por isso que eu perdoava Bryan todas as vezes. E iria continuar perdoando até conseguir me livrar dele, até conseguir tudo que ele ainda me devia. Não iria terminar com ele de mãos vazias. Queria uma casa longe daqui, mobília, dinheiro, comida nos armários, um marido pra me proteger, uma vida vazia, mas segura. Não é isso que a maioria das pessoas sonham?

Porém, para perdoá-lo tão facilmente, eu precisava esquecer. Precisava agir como se nada tivesse acontecido. Precisava ter coragem de olhar pra sua cara outra vez e de sorrir pra alguma gracinha. E eu só iria conseguir fazer isso se me vingasse novamente. Se me sentisse por cima de novo.

E eu já tinha o plano perfeito pra isso.

— Boa tarde! — digo, encostando na mesa que Fred organizava.

— Priminha, quanto tempo! — ele levantou os olhos. — Posso saber o que te traz aqui, em meu templo sagrado?

— Eu vim falar com o Danilo. Ele tá aí?

— Deu sorte. Ele tá lá dentro se arrumando pra ir embora. Já deve tá vindo.

Na verdade, eu sabia exatamente a hora que Danilo largava o serviço. Ele me disse na noite passada o horário em que trabalhava: de 10h às 17, e eu passei o dia todo me programando para estar ali na hora certa.

— Você quer marcar alguma perfuração? — Fred perguntou, risonho.

— Até parece, você sabe muito bem que eu tenho medo de agulhas.

— Ah, sei... dá pra ver pelas suas oito tatuagens.

Faço uma careta pra ele. 

— É diferente. Eu confio em você.

Meu primo sorri, enquanto guarda algumas coisas em uma gaveta.

— Preciso pegar uns materiais lá dentro. Você se importa de vigiar aqui pra mim?

— Não. Vai lá.

— Valeu!

Fred entra pela porta que dá para o resto do estúdio e desaparece. Olho ao redor, percebendo que a recepção não tinha mudado nada desde da última vez que eu tinha vindo. O papel de parede ainda era bordô e preto, assim como as poltronas. Ainda havia um mural de decalques à direita que deixava qualquer fã de tatuagens hipnotizado. E, à esquerda, grandes molduras de fotografias penduradas: Fred tatuando, as turmas de seus cursos e uma foto minha em tamanho quase real, que o próprio Fred havia registrado. Era a maior de todas ali. Nela, eu aparecia sentada em cima da mesma mesa à minha frente, de lado, me apoiando em meu braço esquerdo, repleto de tatuagens dele. Atrás de mim, a logo da Olimpo Tattoo na parede.

Cada SegundoOnde histórias criam vida. Descubra agora