— Cheguei... — Danilo anuncia, ao fechar a porta atrás de si.
— Oi! — desligo a televisão e deixo o controle de lado. — Como foi seu dia?
— Como sempre — ele dá de ombros, com expressão abatida. — A Mayra já foi?
Danilo tira sua mochila das costas e a acomoda na mesa, assim como sua jaqueta roxa. Me sinto um tanto estranha ao vê-lo começar a se despir na minha frente, apesar de ser a coisa mais casual do mundo. Tento não pensar muito nisso.
— Já. Ela queria te esperar, mas estava ficando tarde.
O garoto, então, olha pro visor de seu celular e parece surpreso.
— Nossa, nem sabia que já era isso tudo. O ônibus atrasou...— ele diz. Estava meio aéreo, mas era de se esperar de um universitário e empregado, depois de chegar àquele horário em casa.
Minha cabeça pende pro lado.
— Você parece bem cansado.
Ele dá um sorriso de canto, e a forma como faz isso, me faz ter vontade de pega-lo no colo e cuidar. Cacete, eu estava mesmo esquisita!
Será que estou ovulando?
— Cansado e ansioso — responde, com a voz arrastada. — Amanhã tenho um seminário pra apresentar.
Abano a mão.
— Ah, relaxa. Quantos seminários você já deve ter apresentado durante o curso?
— A questão nem é essa. É que, eu ainda não fiz muitas amizades na faculdade, sabe? E a turma dessa matéria... eu não conheço ninguém. Isso me deixa um pouco nervoso. Inseguro.
Sinto o meu coração se apertar dentro do peito e mordo o lábio inferior, sem saber o que lhe responder.
— É besteira, né?
Tenho vontade de me levantar do sofá e correr para abraça-lo, mas é claro que não o faço. Não sei o que está dando em mim, mas Danilo era um amigo tão maravilhoso que eu só queria retribuir um pouco de tudo que ele já havia feito.
Depois que Mayra havia falado sobre todo mundo ter sua própria cota de coisas ruins, eu finalmente parei pra olhar além do meu próprio umbigo e enxergar Danilo melhor. Estava tão afundada na minha própria bagunça que não tinha parado pra pensar em como ele devia se sentir solitário, longe de sua casa, dos seus amigos e da sua família, tentando levar a vida em outro estado. Em
como ele devia se sentir deslocado e estranho.Eu sempre me senti assim, mas em minha própria casa, com minha própria família, perto de todas as pessoas que eu conhecia. E sei como é uma grandiosa merda.
Talvez fosse por isso que ele também gostava tanto da Kya. Ninguém falava melhor sobre solidão e não se sentir encaixado no mundo como ela, quando lhe deixavam lançar suas músicas íntimas e infinitamente tristes.
— Não, não é.
Danilo respira fundo. Ainda quero abraça-lo, mas isso seria tão embaraçoso.
— Eu arrumei a sua cama pra você — mudo de assunto, afinal. — Mas você vai ter que dividi-la com o Soneca de qualquer jeito, sinto muito. Eu até tentei convencê-lo, mas...
Ele sorri.
— Tranquilo, eu aguento. E você... tô vendo que já arrumou a sua também — Danilo aponta para o sofá, coberto com um lençol e um travesseiro, conforme o combinado do dia anterior. — Tá de boa pra dormir hoje?
— Não tô com sono, mas também não tô sentindo aquela sensação desesperadora de fim do mundo. Então, acho que sim.
— Pera aí — ele diz e então abre sua mochila em cima da mesa, vasculhando-a. — Eu fiz isso aqui enquanto tava na aula do Professor-Ovo-na-Boca.
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Cada Segundo
RomanceLola quer escapar da sua vida de qualquer maneira. Com a ajuda do seu namorado, Bryan, a garota planeja se casar após se formar no ensino médio, para enfim sair de casa e se livrar da sua mãe, com quem possui uma relação desafiadora. Porém, Lorena R...