Capítulo 7

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Balanço a cabeça pela milésima vez no dia para afastar meus pensamentos.

Não acreditava que aquilo estava realmente acontecendo e estava quase perdendo a cabeça desde que eu descobrira que Danilo, o amigo de Fred, com quem ele dividia seu apartamento, o carinha que me deu carona e dançou Browns comigo na frente de um bar inteiro, era amigo de infância do meu professor de inglês, que eu havia feito me beijar à força, quase perder o emprego e me odiar.

Sinto meu corpo inteiro tremer de vergonha e me sento na ponta da cama, incapaz de me manter em pé. Meu Deus, levo as mãos à cabeça. Eu estava completamente perdida.

Dessa vez, tinha certeza que deveria dar um jeito de evitar Danilo de vez. Para sempre. Afinal, ele poderia descobrir o que aconteceu a qualquer momento e... aquela seria a situação mais constrangedora de toda a minha existência.

Respiro fundo, recuperando meus sentidos outra vez e pego os tênis no chão, ao meu lado. Encaixo eles nos pés e caminho até o armário, abrindo a porta para me olhar no espelho de dentro. Checo minha imagem, tentando decidir se parecia aceitável.

Havia feito uma maquiagem simples. Nada de batom vermelho, apenas gloss. Os cabelos castanhos soltos, somente penteados. Um vestido vinho e justo, de mangas cumpridas, que com certeza me faria passar calor — era o único que eu tinha, comprado na estação passada, junto aos tênis brancos, quando ainda trabalhava.

O bom é que seu modelo era de costas nuas. O que o deixava sensual, sem apelar para um decote. Coisa que eu não queria, já que sabia que os meus peitos atraíam muitos olhares. E, embora tenha perguntado a Bryan se poderia me vestir como quisesse, eu me sentia mais segura assim. Não queria chamar muita atenção, para não nos deixarmos desconfortáveis e a noite ficar mais leve.

Não era como se eu tivesse alguma motivação para isso também.

Por fim, não consigo resolver se estava ou não bonita. Talvez estivesse ok, mas também não saberia dizer. Até porque, toda vez que me olhava no espelho, via uma estranha à minha frente. E, quando me arrumava, ela se tornava ainda mais desconhecida. Como se aquela fosse uma fantasia.

Nesses momentos, sinto falta de poder contar com uma opinião feminina. E já que eu não tinha uma mãe decente e a minha avó havia me deixado, precisaria de uma amiga que pudesse perguntar qual bolsa usar ou se minha sobrancelha estava parecendo ridícula. Mas eu só tive poucas amizades no fundamental, o que foi difícil, pela minha falta de habilidade social. Eu gostava das outras meninas e até tentava me aproximar mais, participar das conversas sobre primeiros beijos e discutir as provas de matemáticas. Mas eu era péssima nisso e, no fim, acabava só sorrindo e concordando com outras. Aos poucos, era deixada de lado e esquecida. Eu era muito tímida. Tinha medo. Medo de falar, medo de fazer alguma besteira, medo delas. Um medo desesperador de rejeição.

Quando minha avó morreu, foi o fim. Eu já não tentava mais me aproximar de ninguém ou sorrir, usava fones de ouvidos para ignorar as pessoas, preferia comer sozinha na hora do intervalo e me sentia bem melhor isolada.

Até que o Bryan apareceu, no ensino médio. O camisa 10 do time Três Marias, arrancou os fones do meu ouvido e me fez olhar pra ele. Me fez querer sorrir. Me disse que o mais gostou em mim foi o meu jeito, quietinha, na minha. Ele implicou comigo e me tirou do sério até sair com ele. E é claro que eu dei uma chance. É difícil ignorar a única pessoa no mundo que te enxerga. Ainda que sua personalidade seja questionável.

Com o namoro, as amizades se tornaram impossíveis. Todas as garotas descobriram que eu existia ao mesmo tempo, e os cochichos e risinhos quando eu passava pelos corredores se tornaram diários. Aparentemente, boa parte delas passaram a me odiar. Mas no Twitter eram super contra rivalidade feminina.

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