°Nos vemos° MR 2

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•|𝚈𝚞𝚛𝚒 𝙰𝚕𝚋𝚎𝚛𝚝𝚘|

O ônibus carrega consigo um sentimento de tristeza, já que sou sempre o último a embarcar. A demora para me recuperar da crise de choro e da vontade avassaladora de não continuar existindo me torna o último a entrar. A jornada de menos de vinte minutos parece uma eternidade incerta, repleta de dúvidas se conseguirei conter as lágrimas e a turbulência emocional durante esse curto trajeto.

Minha subida pelas escadas é vagarosa, como se o peso da tristeza ainda se apegasse a cada passo. Os bancos estão todos ocupados, e meus olhos percorrem o interior do ônibus em busca de um refúgio vago. Finalmente encontro um assento livre, um alívio momentâneo. Não estou próximo de Roger Guedes, mas à frente dele, me deixa mal, mas não tem outra opção. Ao meu lado encontra-se Renato Augusto, cuja presença traz certo conforto.

Com cautela, afundo no assento, permitindo que a sensação do banco envolva meu corpo. Observo Renato Augusto fazer o mesmo, um movimento que denota uma rotina dominada pelo ato de se sentar. Seu olhar parece distante por um momento, talvez perdido em pensamentos que transcendem o interior do ônibus. Suas mãos repousam sobre o colo, e sua postura revela uma serenidade que contrasta com a agitação que sinto dentro de mim.

- Você está bem, cara? - A voz de Renato soa gentil enquanto ele se acomoda no banco junto à janela. Seus olhos encontram os meus e sua mão repousa reconfortantemente em meu ombro, revelando uma preocupação genuína.

- Não- Minha resposta escapa com dificuldade, um nó na garganta me acompanha- Eu só queria não estar mais aqui.

O silêncio de Renato fala mais do que palavras. Sem hesitação, ele me envolve em um abraço caloroso. O desconforto do divisor do banco pressionando minha barriga é minimizado pela sensação de segurança que seu abraço proporciona. À medida que a penumbra toma conta do ônibus com as luzes apagadas, o abraço parece criar uma barreira entre nós e o mundo exterior. Quando finalmente nos separamos, um sorriso afável ilumina o rosto de Renato.

- Das experiências homossexuais que já tive- Ele brinca com um toque de humor- Essa foi, sem dúvida, a melhor- O brilho travesso em seus olhos indica claramente a natureza da provocação.

- Experiências homossexuais? - eu rio, ecoando suas palavras de forma provocativa - homossexuais? - minha voz ecoa em um tom zombeteiro, transformando a situação em um momento descontraído.

- Ou quer que eu seja mais explícito e diga 'experiência de penetração anal'?- Renato começa a dizer, mas minha risada abafada o interrompe antes que ele possa completar a frase. Em meio a risos compartilhados, a tensão se dissolve e o ônibus se transforma em um espaço de conexão genuína.

- Fica quieto- solto uma risada leve enquanto retiro a caixinha dos meus fones de ouvido do bolso.

- Vai escutar música de corno? - Renato ri de modo brincalhão, virando-se em minha direção. O ônibus ainda não deu partida, e uma sensação sutil de desconforto me faz pensar que Roger pode estar captando nossa conversa.

- Existe outra opção?- minha resposta vem com um sorriso, enquanto seguro a caixinha dos fones em minhas mãos.

- Empresta- Renato pega rapidamente meu celular e desbloqueia a tela. Fico momentaneamente surpreso, como ele sabe a minha senha? Tento recuperar o celular, mas ele é ágil demais. Observo atentamente enquanto ele navega pelo Google. -OnlyFans?- ele lê a última pesquisa - nem fudendo.

-Ei- Faço uma tentativa de recuperar meu celular, mas ele se esquiva habilmente. Fico calado, apenas observando suas ações. Ele acessa o site e começa a explorar. Minha incapacidade de impedir isso me deixa intrigado.

MY MIND- MATIAS ROJAS &YURI ALBERTO⚣Onde histórias criam vida. Descubra agora