Maldito Vigésimo Andar

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Toque, toque
Devo bater?
Com as caixas ainda na porta
Tentei me oferecer
Para ajudá-la
Mas você nem sequer reparou em mim

Toque, toque
Posso saber?
Há um segredo no armário?
Perguntei-me
Enquanto o via ser
Levado para dentro de sua morada

Moça dos cabelos encaracolados
Eu me enrolo
Desatino e sorrio sem graça
Mas você nunca me olha
Só se vive uma vez
E você vive tão escondida
Vizinha que se esconde
No maldito vigésimo andar
Por que se esconde?

Toque, toque
Posso entrar?
Gostaria de saber a verdade
Aquilo que você tem
Tanto medo de revelar
Aos outros, ao mundo, a você mesma

Toque, toque
Devo me entregar?
Sou uma baita encomenda
Isso você não pode negar
Bata em minha porta
Se quiser em meus braços se encontrar

Moça dos cabelos encaracolados
Eu me enrolo
Desatino e sorrio sem graça
Mas você nunca me olha
Só se vive uma vez
E você vive tão escondida
Vizinha que se esconde
No maldito vigésimo andar
Por que se esconde?

Às vezes me sinto
Como aquele sapato empoeirado
Bem escondido no armário
Aquele que já foi usado
Tantas vezes
Que agora está maltratado
Mas o sorriso ainda se faz presente
Pela esperança
De pelo menos
Mais uma vez
Ser usado
Antes de finalmente
Ser descartado
Então, me use
Com responsabilidade
Deixe que eu seja
O seu último vestígio do armário empoeirado
O seu último sapato para enfim a liberdade
Corra, seja livre, seja você
Saia de uma vez do seu esconderijo
Desse armário cheio de pó
Desse maldito vigésimo andar

Moça dos cabelos encaracolados
Eu me enrolo
Desatino e sorrio sem graça
Mas você nunca me olha
Só se vive uma vez
E você vive tão escondida
Vizinha que se esconde
No maldito vigésimo andar
Por que se esconde?

Coletânea de PoesiasOnde histórias criam vida. Descubra agora