Seja a Luz na minha Escuridão

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"Como você caiu dos céus, ó estrela da manhã, filho da alvorada! como foi tirado à terra, você, que derrubava as nações!..." Isaías 14:12



– Você... – Crawley falou primeiro quebrando o silêncio. Seu olhar afiado e amarelo como uma cobra não mostrava mais nenhum brilho de inocência. Aziraphale anda para mais perto da criatura. Seus cabelos vermelhos ao vento escondiam uma parte do rosto dele, mas sem sombra de dúvidas era o anjo estelar. O que ele fazia aqui na terra, com essas roupas? Sua presença agora é maligna, uma sensação de perigo devia alertar Aziraphale, mas nada ocorreu. Ele sabia que muitos anjos estelares tinham caído, só não imaginava que o *seu* anjo teria caído também.

– Suas asas... – Aziraphale finalmente falou. Aquelas lindas asas puras agora estavam manchadas de preto.

– Oh, deve ter sido o enxofre. – O anjo caído fala com calma em tom de piada dando uma olhada nas suas asas.

– Bom, não que esteja reclamando, foi o que amorteceu a queda de mil anos-luz.

– Você não é mais o anjo que conhecia, certo?

– Você sempre foi um bom observador. – Crawley sorri olhando novamente para o anjo, que agora estava bem próximo dele. Sua espada flamejante caída, arrastava a ponta no chão de pedra do muro. A conversa é interrompida quando ambos sentem outra presença no local. Eles olham para baixo e vêem um humano, o primeiro de sua raça, andando pelo jardim. Era como um observatório, por onde o humano nu andava, entre as árvores, com deslumbre.

– É ele que deve proteger? – O anjo caído pergunta.

– Não, devo apenas observar aquela árvore. É a única regra do jardim. Aqueles frutos proibidos, não podem ser consumidos.

– Acho que já ouvir falar no assunto. – O demônio dá um sorriso malicioso sabendo bem qual a sua missão. O primeiro pôr do sol estava prestes a começar, o céu sem nuvens começou a sangrar. Ambos olhavam agora para a outra direção e em seguida para um para o outro. Crawley viu aquele anjo "branco e puro" na sua frente, seus olhos azuis brilhantes o fitavam como se fosse o próprio sol. Aquilo o intrigava, tinha certeza de que sabia tudo sobre as criações de "Deus", mas dentro dos olhos dele tinha um sentimento que ainda não foi criado.

Aziraphale, envergonhado, olhou para baixo e depois olhou para Crawley como se não pudesse deixar de olhar. Era estranho, em vez de sentir medo por ver um demônio pela primeira vez ou até tristeza por ver aquele anjo estelar agora caído, sentia felicidade, felicidade em vê-lo. Sabia que teria que ficar na terra a partir de agora observando a sua evolução. Vê-lo na sua frente era como um presente divino. Seus olhos serpentinos dourados, seus cabelos de fogo, suas grandes asas que ainda tinham o mesmo brilho de antes. Ele sorri, porém no mesmo instante põe a mão esquerda em sua boca, enquanto a direita agarra mais forte a bainha da espada.

– Qual a graça, anjo?

– O pôr do sol disputa com a sua beleza. E pensar que essa criação levou tanto tempo para ser feita. – O anjo nunca mentia, mas ficou surpreso em falar isso em voz alta. O demônio ficou mudo e o anjo se envergonhou mais.

–Ah, d-desculpe. – Aziraphale abre suas asas, fazendo seus pés descalços saírem do chão. Ele começa a voar, saindo de cima da muralha e indo em direção ao jardim. A espada nem por um minuto foi levantada diante daquele que era adorado pelo anjo.

O segundo dia da terra começou. O nascer do sol também era bonito, mas em vez do céu sangrar tudo parecia banhado em ouro. Aziraphale estava de pé olhando para o jardim quando Gabriel apareceu.

Good Omens - Obcecado por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora