Os dias eram comuns para Aziraphale, todos os dias ele seguia em sua rotina diária na livraria, não que ele odiasse, mas também não existia nada de extraordinário.
Um anjo que sempre vivia distraído agora estava com a cabeça nas nuvens se fechando totalmente para o mundo lá fora, sem exceções desta vez.
Ele escrevia notas de organização sobre os livros.
Ele suspira olhando a caneta dourada que estava segurando, ela deslizava terrivelmente em sua mão, ele se incomodava com ela, o que é estranho, já que era uma caneta sofisticada clássica, além de ser brilhante, tudo que ele gostava, ele largou a caneta na mesa com uma certa raiva.
Ele pegou a caneta e pegou uma clássica azul que tinha um design comum das canetas daquela época.
O anjo estava pensando demais de novo.
Aziraphale não sabe quantas horas se passaram, ele apenas suspira e olha para a janela vendo que já estava de noite.
A luz do seu abajur de forma obediente brilhava mais forte de acordo com a necessidade do anjo.
- Obrigado, querido. – O anjo diz para o príncipe, seu companheiro de estudos nesses anos todos. Ele ficou preocupado quando não viu o príncipe durante 90 anos, mas se sentiu aliviado quando viu que ele o esperou como um bom menino. – Aqui seu pagamento.
Aziraphale assopra com carinho perto do abajur fazendo o ar tocar na luz. Isso faz o seu brilho ser mais alegre e em seguida voltar ao normal.
Sopro de vida, geralmente é usado quando os anjos querem oferecer faíscas de sua alma, como pequenas bênçãos, uma parte da sua luz agora estava na alma o purificando aos poucos. Geralmente nenhum anjo fazia isso, pois seria muito desgastante tentar purificar almas condenadas.
Almas são complicadas.
São como vidro, alguns grossos, outros finos, mas quando se quebram é basicamente a mesma coisa para todos, não existia forma de consertar.... Ao menos que os moldar novamente.
Os fragmentos vão para a fornalha e saem em um formato livre, mas não existia forma de uma alma quebrada ser exatamente como era antes, algumas vezes, muitas vezes, faltavam fragmentos que teriam que ser substituídos por outros, partes "não originais". Se a forma livre seria melhor ou pior para a alma, dependia dos fragmentos extras que foram preenchidos e o que eles substituíram no lugar.
A única certeza era que quanto mais tempo o vidro for temperado, quantas mais vezes ele entrou e saiu da fornalha era mais difícil de se moldar.
- Espero que se purifique logo, antes de ser uma alma velha. – A luz piscou. – Sei que é um bom menino em não querer me deixar sozinho, querido, mas uma hora ou outra vai ter que ir. Você é um humano, as almas humanas são muito frágeis.
O anjo suspirou tocando no ombro.
O fato dele ajudar a alma mesmo com a sua está desgastada?
Ele sentia simpatia por ele, sentiu empatia pelos seus sentimentos não correspondidos e agora por sua alma precisando ser consertada.
Ele olha o documento deixando o resto de lado.
Gabriel por sorte o deixou livre essa semana não aparecendo. Ele lembra do Gabriel brigando com ele na semana passada.
Gabriel sempre foi assim, desde o começo.
Aziraphale ainda como um aprendiz era obrigado a andar para lá e pra cá. Gabriel o obrigava a ficar horas desenhando animais e plantas que não faziam o menor sentido.
- Falta uma raiz nesse animal.
- Oh, mas senhor... – O anjo olhava nervoso para o pedaço de papel com dois olhos aparecendo a mais na sua bochecha. – Eu acredito que os animais não têm raízes.
- Não seja tolo, Aziraphale. Por acaso eu não já te expliquei como funciona...
O anjo o escutava com atenção como ele explicava de forma errada sobre o livro de criação. Arcanjo deve ter confundido a fauna com a flora. Mas o anjo nunca falaria isso, afinal, anjos supremos não podem se confundir.
Gabriel só o deixou em paz depois que Aziraphale fez um animal quadrúpede com chifres que lembram raízes.
Mas só piorou depois da criação da terra, ele obrigava Aziraphale a desenhá-lo quase sempre e seu trabalho ficava cada vez pior.
Às vezes ele só o chamava para intimidá-lo ou diminuí-lo, como quando tocou em sua barriga algumas vezes falando que precisava correr. Ou como era misericordioso por o Aziraphale ser um inútil guerreiro.
Mas não podia negar que mesmo com seu jeito errado, Aziraphale foi muito ajudado por ele durante esses anos.
Ele termina de preencher os documentos quando o sol nasce lá fora.
Aziraphale se levanta para recomeçar sua rotina.
Nenhum pensamento de Crowley passou em sua cabeça. Ele não dava chance para isso e sempre se mantinha ocupado.
Uma semana se passou e ele decidiu parar de ser um covarde e ir logo para o céu, ele precisava entregar os formulários de três meses acumulados.
Essa também era sua função já que nenhum anjo tinha autorização para descer na terra e fazer algo tão trivial. Aziraphale também não se atrevia a esperar que Miguel o arcanjo descesse só para fazer isso.
Ele sai da livraria indo para uma floricultura que tinha do outro lado da rua, assim que abre a porta ela se transforma em um portal para o céu.
- Up Céu -
O elevador fala com sua voz calma.
Saindo do elevador tinham muitos anjos correndo de um lado para o outro.
Aziraphale lembrou da guerra.
- Já está tão evoluída assim? – Ele não sabia já que estava preso na livraria.
Ele andava até a mesa de Miguel e colocou os documentos lá.
- Oh, Aziraphale anjo terreno guardião do portão do Leste, certo? – Um anjo pequeno o perguntou sorridente.
- Sim, é um prazer. Estou em busca de Miguel.
- Oh, sim, sim. – O anjo sorri olhando os documentos na mesa colocando as mãos nas costas. – Certo.
- ....Oh, sim claro. Isso foi uma iniciativa para me dizer onde ele está. – Aziraphale suspira lembrando de como os anjos são.
- Ah! Onde ele está? Em reunião!
-...Demora muito? – Aziraphale sentiu pena do anjo que não tinha iniciativa.
- Acredito que sim. – Ele sorriu mais. – Eu não ousaria perguntar isso para o arcanjo.
- Certo, querido, eu entendo.
Aziraphale viu o anjo nervoso olhando para o seu ombro. Provavelmente deve saber a história.
Incomodado ele dá meia volta saindo de lá.
- O diga que deixei isso aí, sim? – Ele acena querendo voltar para terra o quanto antes. Ele queria evitar de esbarrar com o Gabriel.
Entrando no elevador ele aperta para a terra e as portas se fecham.
"Up Céu"
Ele ouviu errado? Ele já estava no céu.
Ele apertou para a terra de novo, mas o elevador ficou parado.
- Está quebrado? – Ele suspira.
Deve estar sobrecarregado.
Ele apertou mais uma vez, mas se assusta quando o elevador balança um pouco e dá uma sensação de se mover para cima.
Cima? Mas ele já estava no topo... a não ser que.
Ele aperta mais algumas vezes para a terra.
O elevador estava por engano o levando para o andar da administração.
Ele olha para a parte de cima do elevador vendo que saiu do 2 para o 3.
- Não, oh, céus. - O 3º andar era só do o a trono para cima.
Ele se afasta da porta colocando as mãos na parede ficando assustado.
Esse estupido elevador, o que ele estava fazendo?
O elevador não se segurou e continuou subindo e subindo.
Os números começaram a se mover de forma rápida ao ponto de não poder mais vê-los.
Até que o símbolo do infinito apareceu na tela.
"Porta abrindo"
Fora do elevador era frio e claro. Névoa pesada entrou tocando em suas pernas e ele olha para frente.
Dentro tinha um lugar que não era uma sala, estava mais para um campo aberto.
O céu era perfeitamente azul e as nuvens fofas, mas não havia vento e nem ar.
Ele ficou um pouco paralizado, mas apertou o botão de novo.
"Terra" o elevador falava sem se mexer.
"Terra" o elevador disse mais uma vez quando ele apertou de novo.
- Oh céus... – O anjo nervoso começou a andar de forma cuidadosa. A Névoa impedia dele ver o chão.
Ele andou e andou tentando procurar alguma forma de sair de lá.
Ele sente que o que ele pisa é macio.
Ele olha para baixo e tenta afastar a névoa balançando as roupas, o que ele pisava era uma água. Como uma grande piscina de borda infinita. Ele andava sobre as águas sem entender como estava fazendo isso.
- A-Alguém? Olá..Eu me perdi, aqui... Acredito...
Nenhuma resposta.
Ele continua andando, mas nada mudava naquele cenário.Até que.
Na sua frente ele vê um pequeno altar.
Ele dá uma olhada.
Quando chega perto, percebe que tinha um livro aberto em cima do altar no meio do nada.
Ele se aproxima mais ainda em alerta.
- Um livro?
Ele toca na folha acariciando.
Um livro simples.
Ele começa a ler na página aberta.
"Indrigado e inseguro ele entrava na sala de número infinito tendo apenas a incerteza do que viria a seguir como sua companheira.
- Alguém-Olá-Eu me perdi - Ele disse quando olhava ao redor.
- Acredito - ele fala para si mesmo como se não sentisse certeza nem mesmo se fez isso por que quis.
Ele pensou consigo mesmo que seus supervisores dariam um jeito de culpá-lo por esse terrível e inconveniente engano"
Aziraphale para de lê estranhando a situação. Isso parecia muito com o que estava acontecendo agora. E como aquele livro sabia seus pensamentos?
Ele olha para a capa.
"Livro da Vida: Anjo Aziraphale guardião da terra, guerreiro, observador, dono de uma livraria e da espada flamejante"
- Isso... É um livro da vida? – Aziraphale já ouviu falar disso, mas sempre achou que era mito.
Ele olha ao redor, por que justamente o dele estava ali? Era porque era o único naquele local?
- Bom. – Ele suspira tentando tirar leveza da situação. – É um título bem grande.
Ele pega o livro e olha que em relevo tinha a silhueta dele mesmo atrás do título com seus olhos fechados.
Se ele levasse aquele livro, seria considerado roubo?
- Alguém está aqui? – Ele fala baixinho não querendo ser pego, mas querendo ser educado o suficiente para perguntar primeiro.
Deus, será que Deus está aqui?
Ele olha para cima.
Mas nenhuma resposta veio. Nem mesmo uma presença.
Como pode ser tolo em pensar que Deus estaria ali?
Ele olha novamente para o livro dourado em sua mão.
Um barulho faz ele olhar novamente para o altar.
O altar vazio volta a ficar cheio.
Outro livro? Ou uma cópia dele? O livro aberto o mostrava o presente.
"Dormindo no trem o demônio irritado exalava sua aura fazendo o pobre senhor que pensou sentar ao seu lado se afastar, ele estava irritado por odiar trens, por odiar o dia claro batendo em seus olhos e principalmente por não querer fazer nada, mas suas funções o chamavam"
- Crowley? – Ele tocou o livro. No mesmo segundo Aziraphale foi sugado pela água que até a pouco tempo estava andando em cima.
Como se estivesse de cabeça para baixo agora era de noite. Ele olha para o céu estrelado cheio de nebulosas, era basicamente o mesmo cenário, apenas visto de outro ângulo.
Ele olha o altar e toca nele novamente, nada acontece.
Ele fecha o livro e o vê na capa.
A capa tinha detalhes em prata nas quatro pontas da lateral, a cor principal era preto com relevo a o título era amarelo lembrando a cor dos seus olhos. "Livro da vida: Crowley Demônio da 3º casa, representante do inferno na terra, ex-anjo, dono da engrenagem de tempo e espaço, pianista"
- Pianista? – O anjo sorri sem querer. Ele perguntou quando o demônio tinha essa função na terra, em que momento isso aconteceu. Ele adoraria ter visto isso.
Ele volta para o elevador e por sorte, mesmo estando de cabeça para baixo ele ainda estava lá. Ao entrar ele tenta mais uma vez apertar na terra.
"Terra"
A névoa pesada em suas pernas se afasta do elevador e a porta se fecha.
Ele suspira aliviado e agradecido.
Ele olha para os livros que segurava com medo de ser pego.
Por que estava aberto lá? Alguém estava lendo?
Impossível... quem leria?
- Oh céus. – A sensação de está de ponta cabeça era estranha, ele não sabia se o elevador estava subindo mais ou finalmente descendo.
Mas ficou aliviado em apenas o elevador funcionar.
Quando o elevador se abre ele estava na floricultura.
Ele sai do portal apressado como um ladrão.
Ele tranca a livraria e coloca os dois livros na escrivaninha.
Depois de olhar inquieto, Aziraphale começa a andar para cá e para lá aflito.
Por impulso ele pegou o livro da vida de Crowley.
Mas abri-lo não seria como ler o seu diário? Ou pior!
Ele pega o livro querendo ver de novo, mas decide apenas segurar os dois livros e ir para o fundo da livraria.
Ele ia escondê-lo em um cofre e nunca mais falar sobre o assunto de ler sobre a vida privada do demônio de novo... Ele pelo menos queria que fosse assim.
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Good Omens - Obcecado por você
RomanceVocê nasceu para ser meu destino. Eu sou seu vicio, seu desejo, sou tudo que precisar. Por isso, seja tudo meu também, me dê tudo o que é seu. Caia em mim, para nunca mais voltar.