Seja meu Lar

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Aziraphale puxa com mais força a manga da roupa do Crowley.

- Crowley. – A voz sempre doce fez o demônio dá uma boa olhada nele. Seu queixo ainda estava sendo segurado enquanto ele encarava o demônio com seu olhar tremulo. – Isso é demais para mim. Deveria ser para você também. E-esses sentimentos, até quanto vamos nos enganar? Isso não é para nós.

- Acha mesmo isso?
- Como não acharia? Não depende da gente, entende? Apenas vamos nos magoar.
Crowley afrouxa o abraço sentindo um estralo em seu peito. Seu anjo que era sempre impulsivo estava tentando colocar uma linha entre eles.

- Bom. – O demônio olha para baixo e em seguida o encara de novo. – Sendo assim é só me soltar. – O anjo agarrava com força os braços do demônio que o abraçava. – Se me soltar, prometo não tentar mais nada.

Isso fez o anjo sentir um dejavô, a 4 mil anos atrás quando deitaram juntos na mesma cama pela primeira vez o demônio deu a mesma opção ao anjo.




Ele conseguia sentir, o anjo conseguia sentir. Em seu apartamento, do outro lado da cidade, muito longe dele, o cálice que não o seguiu se manteu intacto na mesa de centro, o conteúdo dentro dele começou a encher mais.

- Não consegue me soltar? – O anjo fecha os olhos diante daquela pergunta tão cruel, lagrimas começaram a cair no seu rosto. – M-me perdoe anjo. Eu não queria te fazer chorar. – Crowley solta o anjo e vira o seu corpo para ficar de frente a ele. – Só não chore. – O demônio se sentiu um pouco nervoso vendo o anjo chorar. – Eu vou parar de brincar. Sim? Por favor. – O demônio abaixa um pouco o seu rosto para o anjo olhar para ele.

- Do que adianta? – O anjo colocava as mãos no rosto (O líquido se enchia até a borda do cálice magico) – Do que adianta, Crowley? – Ele repete sem deixar de chorar – Pode durar anos, mas vamos nos separar de novo. Sabe como é difícil para mim? Você já alguma vez imaginou como eu me sinto? – O anjo sentia o seu coração doer. – Eu sinto um pedaço de mim sendo destruído, como se eu não pertencesse a lugar nenhum e quando te revejo é como se nunca tivesse sentido isso. Eu sinto e penso coisas ruim Crowley, sentimentos ruins que estão arranhando minha alma. Eu não posso mais sentir isso. – Aziraphale tira as mãos do rosto e encara furioso o anjo caído a sua frente que estava em pânico. – Eu não vou mais sentir isso.

Sem pegar seus pertences ele se dirige até a porta e sai da casa como um furacão.

Seu olhar furioso paralisou o demônio que só conseguia ver a cena incrédulo. Ele saiu batendo a porta deixando o único pedaço que importava a ele para trás.

"Agora acabou" o anjo andava pelas ruas cobrindo a boca com as costas da mão que estava enluvada. "Agora acabou de verdade".

Ele nunca falou para Crowley sobre seus sentimentos tão abertamente, não é como se ele não soubesse, mas outra coisa era dizer com a própria boca.


Ele andava em passos rápidos pelas ruas, ele só conseguia olhar para frente e apenas se focar na caminhada. Ele andava rápido. Sentia que se pensasse em mais alguma coisa voltaria, mas não tinha lugar para voltar, certo? Era apenas uma ilusão, uma fantasia boba que sentia a anos e agora tinha que arrancar pela raiz. Ele não podia olhar para trás.







Ao chegar em casa sentiu como se estivesse fugindo de algo, ele tranca a porta nervoso e fechas as curtinhas da porta e janelas. Ele estava sem ar, podia dizer que estava hiperventilando. Colocou a mão no peito quando finalmente cobriu a última janela.

Ele hiperventilava se sentindo sem forças até que começa a chorar de novo.

Ele inclina o seu corpo para frente encolhendo o seu corpo.

Sua outra mão tremula segurava sua boca e ele tentou respirar pelo nariz, ou apenas tentou parar de respirar. Ele não precisava disso, quando menos humano ele for, melhor para ele agora.



Ele quase estava se ajoelhando no chão quando toma um susto com um estrondo na porta da frente. Crowley entrou mesmo com a porta trancada e a fechou com força atrás dele. O anjo em pânico não conseguiu reagir quando foi abraçado novamente pelo demônio.

- Crowley – Ele agarrou as costas do demônio tentando segurar suas roupas. – Você não me escutou?

- Eu escutei. – O demônio fala mais alto enquanto encosta o anjo na parede fazendo Aziraphale tremer em seus braços. – Mas não consigo te deixar ir, mesmo que você sofra, eu não quero te deixar ir.

O anjo olha tremulo para o lado vendo o cálice quase trasbordando na mesa bem longe deles...

- Eu posso acabar te odiando.

- Eu aceito tudo, mesmo se for ódio.
- Eu posso acabar caindo e me tornando alguém que não sou eu.
- Eu nunca achei que era como os outros anjos, nem mesmo uma vez.

Aziraphale abraça o demônio com força agarrando o tecido grosso das duas roupas.

- Deixe que eu assuma isso. – O demônio diz enfiando seu rosto no pescoço do anjo enquanto o beije. – Pense nisso como uma tentação. Eu sou um demônio cruel que apenas quer te atentar. Não a nada que possa fazer. Mesmo se um dia me odiar eu ainda vou te caçar e te prender para que seja meu.

O anjo rir entre as lagrimas.


O líquido do cálice teve sua última gota até começar a trasbordar e não caber mais nele. Caindo sobre mesa e por fim fazendo o calice desaparecer.

Os sentimentos impuros que sentia antes retornaram a ele. 



O anjo fecha os olhos aceitando os seus sentimentos, aqueles sentimentos eram maiores do que tudo agora. Maiores do que sua eternidade.

Era tarde demais. Seu destino era o Crowley.

- Fique comigo hoje. – O anjo implora.
- Fico.



Naquela noite os dois decidiram sair mais pela cidade. Foram jantar, mesmo se já tivessem almoçado ainda sentiam fome.

Pegaram um bom jarro de hidromel que encontraram e quando já estava muito tarde da noite decidiram sentar-se em uma cadeira de madeira em uma praça.

Eles olhavam as carruagens passando enquanto tomavam o hidromel pela boca sem copos.

Aziraphale estava sentado perto do Crowley enquanto segurava o hidromel que o demônio o tinha lhe dado depois de tomar dois bons goles.

- A neve está caindo com mais frequência agora. – O demônio diz e o anjo apenas repousa mais o corpo concordando.
- Se não me engano é o Sul que fornece o sal, certo? O sal também ajudaria no derretimento da neve... – O anjo toma um gole tímido ainda olhando para as ruas. – Se a nevasca continuar as ruas serão inundadas de neve não deixando os cavalos e carruagens passarem. Vai ser como um inferno andar pela cidade mesmo que seja a pé.
- O inferno é mais quente que isso anjo – O demônio fala em um tom brincalhão – Mas garanto que aqui é bem melhor. – O demônio segura sua mão na mão do anjo e coloca dentro do bolso do seu casaco. Eles estavam perto um do outro, mas seus casacos disfarçavam sua aproximação inapropriada em público, mesmo que já fosse tarde da noite.
O anjo oferece o hidromel para o demônio que pega com a mão livre. O demônio da um gole entre seus bocejos.

- Desculpe te fazer comer tanto hoje. – O anjo sorrir encostando seu rosto no ombro fofo do Crowley, seu casaco tinha uns detalhes de pele que pareciam acariciar a bochecha do anjo. – Sei que sente sono se comer muito.

- Não se preocupe com isso, não comia a 5 anos, precisava desjejuar. Então, onde vamos dormir? Bom, podemos dormir aqui no banco. – O demônio encosta seu rosto no rosto do anjo que estava apoiado nele no meio do parque escuro. – Mas acho que seriamos congelados.

- Podemos ir à sua casa? A minha não tem uma cama ainda... bom, acho que não é mais uma opção agora que a guerra vai começar.
- Qual vai ser sua função?
- Vou para o palácio pelo que sei e você?
- Serei um mercenário. – O demônio boceja de novo. - O que vai fazer no castelo? Duvido muito que tenha alguma pobre alma precisando de ajuda, bom além da princesa sequestrada, claro.
- Lá será a base de soltados feridos e com isso pessoas querendo ajudar. – O anjo fecha os olhos ficando com sono também. – Mercenário? Não combina com você.
- O que combina comigo?
- ... hm... eu não sei... Acho que ficaria uma gracinha de arqueiro.
- Eu nunca disparei nada antes, anjo. – O demônio sorria fechando seus olhos também. – Mas um mercenário pode fazer trocas entre reinos.
- Oh céus. – O anjo sorrio. – E pensar que passei o mês arrumando minha nova casa para no final ter que morar em um castelo.
- Está reclamando?
- Não, mas... bem. Espero pelo menos conseguir levar alguns livros. – Ele abre os olhos pensando.
- Eu vou ter que acampar anjo, se sinta grato.
- Oh, coisa horrível, com toda certeza minha situação é melhor. – Eles entrelaçam os dedos.

Quando o hidromel acabou eles decidiram ir para casa.

Andavam sem pressa pela cidade medieval nórdica no meio da nevada.

Chegando na casa do demônio o anjo olha para os livros que abandonou e suspira.
- Quer um banho? – Crowley o conforta colocando a mão em suas costas. – Eu posso te preparar.
-Bom... – o Aziraphale volta a sorrir tirando o casaco. – Tudo bem se tomarmos banho juntos?

- Juntos?


Em uma banheira de madeira redonda eles estavam sentados dentro da água quente, o vapor saia do banheiro enquanto um relaxava em frente ao outro completamente pelados.
- Eu precisava disso. – O demônio é o primeiro a quebrar o silencio quando sente o seu corpo todo relaxar.
Aziraphale estava com sua aura celestial cheia de alegria enquanto relaxava.

- Da próxima vez por que não vamos no oriente? – O anjo sugere fazendo o demônio abrir os olhos. – Aqui não se tem o costume nem de lavar as mãos, quanto mais um banho, mas no Japão, ouvir falar que tem aguas termais que fazem maravilhas na pele. – O anjo diz empolgado.

- Claro. – O demônio apenas concorda. – Seria bom da uma olhada.

- Crolwey
- Sim?
- Tudo bem se eu te abraçar?
- Acho que já passamos disso, anjo.
Os dois estavam sentados completamente sem roupa em uma banheira redonda e apertada.

- Acho que está certo. – O anjo se levanta ficando de joelhos. Ele sobe em cima do demônio colocando as pernas entre as pernas de Crowley. Ele se senta no seu colo de frente para ele. Ele se ajeita e abraça o pescoço do demônio afundando seu rosto cansado em sua pele.

O demonio ficou um tempo inquieto. Ele sente uma pontada na virilha e abraça o anjo tentando se acalmar.

- Se for fofo assim, acabarei te devorando.
O anjo só rir como se não se importasse.

Muito cansados eles logo foram para o quarto. O anjo penteou os longos cabelos vermelho do demônio enquanto Crowley só bocejava.

Suas roupas eram leves e seus cabelos estavam secos quando decidiram finalmente se deitar na cama.

Não houve malicia, apenas paciência e cansaço, eles sentiam como se não tivessem dormido direito a anos. Talvez em toda sua existência.

Eles se abraçaram de baixo do lençol encostando um na testa do outro.

E finalmente se entregaram ao cansaço. Ao lado um do outro era seu verdadeiro lar.

Notas FinaisHidromel: Bebida a base de mel ( como vinho que é a base de uva) Considerado em muitos países antigamente como a bebida dos deuses gregos.

Gente obrigada por me acompanhar novamente nesse cap tbm
adoro a todos!

Good Omens - Obcecado por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora