Capítulo 08

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Acordo meio desorientado com o sol na minha cara, levanto e vejo um bilhete grudado no barco.

"Bom dia bela adormecida, tem café da manhã dentro dessa cesta aí do teu lado, come e vem até o centrinho que te mostrei ontem."

Abro a cesta e tem diversas frutas, algumas que eu nunca nem comi na vida, um suco, um café frio e um pão. Como e desço do barco atrás dela, assim que eu entro na trilha já vejo algumas pessoas.

—Good morning!.—digo pra todo mundo que passa por mim.

Eles só olham estranho e fazem um gesto de "oi" com a cabeça, vou chegando na parte central e já te vejo de longe, uma regatinha branca, com um shortinho verde e um boné da mesma cor do short, seu cabelo tá preso em um rabo de cavalo, e seu sorriso sempre presente no seu rosto. Você tá tão envolvida com as crianças que estão ao seu redor que nem percebe minha presença se aproximando.

                                   —Luara—

—Bom dia Lua.—escuto a voz de teto e levanto o olhar, me deparando com o garoto de cachinhos segurando uma florzinha amarela.
—Uauuu bom dia.—pego a florzinha e encaixo na minha orelha.—Obrigada.

Lua...esse garoto me surpreende a cada minuto, fazia tanto tempo que não escutava alguém me chamando assim que foi até estranho.

—Os meninos estão encantados com você.—digo escutando eles me enchendo de perguntas.
—Eles entendem se eu falar inglês?.—ele pergunta tentando interagir, dando um "hi five" na mão de cada um.—Eu dei good morning pra todo mundo que eu vi, mas ninguém deu nem papo.
—Os adultos não tem muita ligação com o inglês aqui, as crianças um pouco mais, por que eu andei ensinando algumas coisas, e agora eles estão tendo aula de inglês aqui.—digo abaixando na altura deles.
—Good morning.—ele diz todo fofinho sorrindo pra eles.
—Good morning.—ele é retribuído com um coro.
—Caraiii os pivetinho sabe mesmo.—ele se amarra.
—Football.—uma das crianças grita.
—Oh esse eu manjei, futebol né?.—ele pergunta sério olhando pra mim.
—Sim, eles querem que você jogue, eles acham que todo mundo do Brasil é craque.—sorrio me levantando.
—Bora, cadê a bola?.—ele repete em inglês.—Let's play, where is the ball?.

Eles ficam meio perdidos, mas alguns entendem e correram pra buscar a bola. Eles começam a jogar e teto tenta ensinar eles a fazer embaixadinha.

—Eu já volto tá? Você fica aí? Vou só ali no poço pra ver se tá tudo certo na obra, depois vou passar no escritório pra avisar que volto só daqui dois dias, se precisarem é pra ligar pra mim.—digo tentando chegar perto dele.
—Já é, tô de boas aqui.—ele grita.

Vou até lá ver se tá tudo caminhando direitinho, converso com os meninos que estão ajudando na obra, depois desço pro escritório, converso com o Ramiro que é um dos coordenadores do projeto, me atualizo e converso com ele sobre meu trabalho lá com a 30.

—Okay, bye.—digo abrindo a porta para sair do escritório.

Ando até o centro onde o teto estava, e vejo ele de longe, sentado no meio da praça, tocando violão, é uma roda de crianças se criança ao seu redor, até os adultos estavam escorados ou sentados perto para ouvir. De onde ele tirou esse violão? Não faço ideia, provavelmente é de algum voluntariado. Me aproximo e o escuto cantar, uma voz doce, gostosa, animada. As crianças se levantam e começam a dançar, e ele vai junto, tocando e dançando. Assim que a música acaba, eles correm pra abraçar ele.

—Vamos? Já tá na nossa hora.—me aproximo.
—Como dou tchau na língua deles?.—ele pergunta com uma menininha no colo.
—Hamba kahle.—digo e ele tenta repetir dando sinal de tchauzinho.
—Não queria ir.—ele diz fazendo bico igual uma criança.
—Tem que trabalhar.—digo e ele volta a menina para o chão.

As crianças começam a reclamar, algumas até choram pedindo mais música, eu explico que ele precisar ir, mas que depois ele volta.

—Hamba kahle Teto.(Tchau Teto)—eles gritam.

Ele vai emburrado até o barco.

—Aonde conseguiu aquele violão?.—digo enquanto subo no barco.
—Foi um pivete que me deu, nem sei de quem é.—ele ri.
—Deve ser de algum voluntário.—ligo o motor.—eles te amaram, estão super encantados.
—Eu queria ficar mais, pode me trazer aqui outro dia?Com mais tempo.—ele faz biquinho.
—Trago, só se você cantar de novo.—digo sorrindo.—acho que eu tô meio encantada também.
—Se eu soubesse que era isso tinha cantado antes então.—ele dá aquela risadinha.
—Bobo.—digo cedendo ao sorriso dele.

Luar // TetoOnde histórias criam vida. Descubra agora