Uma sequência de eventos

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-Não posso acreditar que você está fazendo um teste de gravidez só porque ela mencionou um bebê - Laura disse sentada na beira da minha cama, enquanto eu andava de um lado para o outro, esperando o tempo necessário para o resultado do teste. -Ela nem deixou claro que era um bebê seu, apenas disse '"bebê". - Disse fazendo aspas com os dedos.

-Você está brincando?- perguntei, encarando-a com incredulidade. - Ela disse que o bebê explicaria tudo! - eu estava desesperada.

-Foi você mesmo quem disse que não acreditava nela? - indagou, cruzando os braços, enquanto eu rolava os olhos em resposta.

-Tudo isso é por sua causa, Laura. Eu estava tranquila, e agora essa situação vai ficar martelando na minha cabeça - reclamei, apontando na direção dela.

-Acho que já passou tempo suficiente - observou, conferindo a hora no celular. Parei de andar, fixando meu olhar no teste de gravidez no copinho com urina, que repousava sobre a pia do banheiro em meu quarto. Mordi meu lábio com força, o gosto do sangue preenchendo minha boca. Aproximei-me do teste lentamente, enquanto sentia Laura se aproximando ao meu lado.

A linha estava única e claramente ausente. Um resultado negativo. Senti toda a tensão que havia se acumulado nos meus ombros se dissipar, e liberei o ar que nem percebi que estava prendendo. Era um alívio imenso.

A última pessoa com quem tive qualquer tipo de relação foi Yuri, e enfrentar uma gravidez indesejada com ele seria um pesadelo. Eu sempre fui responsável e estava usando o DIU, mas nenhum método é 100% infalível, afinal.

-Eu não te falei? - Laura disse, pegando o teste da minha mão. - Era impossível você estar grávida. Olha só para o seu abdômen, está completamente seco. Se você estivesse grávida, considerando o tempo que passou, já teria um certo volume ali.

-Não consigo nem imaginar como minha vida seria se o resultado fosse positivo - suspirei, deixando escapar minha tensão.

-Não é como se o Yuri não tivesse recursos para sustentar mais um filho, não é mesmo, amiga? - olhei para ela com um misto de surpresa e indignação.

-Eu jamais gostaria que ele fosse responsável por qualquer coisa assim - respondi, sentindo a irritação percorrer minhas palavras.

-Ei, eu entendo o que você quer dizer. Não foi nesse sentido que falei. Quis dizer apenas que ele teria meios para oferecer uma boa vida para a criança  - Fiz sinal da cruz de brincandeira e ela riu mas logo a expressão dela tornou-se séria. - Alina, se a situação não é contigo... será que o problema sou eu? - Nossos olhos se arregalaram em sincronia.

E lá fomos nós atrás de um novo teste de gravidez, felizmente eu morava numa região onde tinha de tudo por perto e logo não demoramos pra voltar pra casa e estarmos novamente esperando o resultado do teste. 

Laura estava envolvida em um desses relacionamentos instáveis com um homem rico de São Paulo. O sujeito não valia o que tinha no bolso, mas minha amiga também não estava muito atrás, tornando-os estranhamente compatíveis.

Quando o segundo resultado negativo surgiu, nos jogamos de costas no tapete do meu quarto, observando o teto e rindo de toda a absurda situação.

-Eu disse que era uma charlatona. - comentei, e ela soltou uma risada concordante.

-Pode ser que sim, mas ela mencionou várias coisas que seriam impossíveis para ela saber. Ela não te disse nada? - indagou, lançando-me um olhar lateral.

-Não - menti.

-Vamos lá, Alina. Nada mesmo? - insistiu, e eu soltei um suspiro de exasperação.

-Bem, ela disse que eu ia "explorar territórios estrangeiros" - usei as mãos para enfatizar as aspas - e que teria um atleta no meu caminho - Laura riu alto.

Inesperado | Matías RojasOnde histórias criam vida. Descubra agora