A noite era impiedosamente tempestuosa, com raios rasgando o céu escuro e trovões ecoando como rugidos de feras selvagens. A chuva caía, criando uma cortina prateada que obscurecia tudo além de alguns metros. O vento uivava como um lamento melancólico, agitando as árvores e arrancando folhas já fragilizadas.
No meio desse cenário emergiam duas figuras. Kayllene que mantinha-se firme em meio ao caos. Seus cabelos castanhos grudavam em seu rosto molhado, em sua bochecha havia um pequeno arranhão como se algo tivesse a acertado de raspão, suas roupas estão coladas à pele por causa da chuva. Em suas mãos, segurava um arco com uma flecha pronta.
À sua frente a alguns metros de distância, uma outra garota de cabelos cacheados e loiros, igualmente empunhava um arco. A chuva escorria por seus cachos dourados, encharcando cada fio. Suas roupas também se moldavam ao corpo e sua postura era igualmente firme.
Os raios cortavam o céu, iluminando momentaneamente as duas. E então, com um movimento ágil e preciso, as flechas foram soltas. Cortaram o ar como feras em disparada. Os olhos das duas garotas permaneciam fixos uma na outra, quase como se pudessem se comunicar através desse olhar intenso.
As flechas encontraram seus alvos quase simultaneamente, fazendo um som abafado pelo barulho da chuva. Um clarão de um raio revelou a cena: as flechas cravadas no solo molhado, a poucos centímetros uma da outra.
Algumas horas antes:
— Acho que vou me aposentar, não tenho mais nada pra te ensinar! — Afirmou Michael com um arco em mãos.
— Percebeu só agora? — Perguntou Kayllene, convencida.
— Se acha né?
— Com certeza.
— Humilde.
— Mudando um pouco de assunto... Se eu pegasse um dos cinco "poderes", qual você acha que encaixaria melhor comigo?
— Você é boa em curta e longa distância. Qualquer um encaixaria com você.
— Mas qual seria a mais eficiente e a menos eficiente?
— Boa pergunta. Imagino que a melhor pra você seja a manipulação da realidade. Não sei quais os limites dessas habilidades novas, mas deve ser muito boa pra todos os tipos de combates.
— Eu tava pensando um dia desses sobre essa habilidade. E criei uma teoria: Será que eu posso criar vários clones falsos meus que se movem e "atacam"?
— Provavelmente o ataque deles não surtiria efeito, já que são apenas ilusões, mas não acho improvável que isso seja possível.
— Será que vale a pena focar em pegar um "poder" logo de início? Você foi atrás do seu no começo também?
— A história tem vários capítulos pra chegar onde estou agora, mas pra resumir bem: alguém teve que morrer pra que eu pudesse ter ele.
— Você matou alguém que possuía o poder? Ou alguém se sacrificou pra você ter esse poder?
— Os poderes são intrasferíveis, então se alguém pegou, ele só some se a pessoa morrer. Eles não passam de um corpo para o outro, já que esses nano robôs especificamente fixam no cérebro e começam a "parasitar" como se fossem literalmente vermes parasitas. Se o cérebro parar, eles param e ficam por lá mesmo. Sabe aquele vídeo que te mostrei no primeiro dia que eu pegava aquela bola de metal, ela abria e eu começava a flutuar?
— O que tem esse vídeo?
— Esse vídeo é falso! Na real é um processo no mínimo estranho. Você sente como se seu corpo inteiro tivesse sido tomado por um monte de formiguinhas que sobem sua pele, mas por dentro dela. Você sente eles passando por sua corrente sanguínea e tudo mais.
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Black Stars
Science FictionO Ano é 2062. A cura do câncer foi "descoberta" há uma década, mas é um luxo reservado para poucos. Privatizada pelo governo mundial, só está acessível para quem pode pagar. A justificativa? Controle populacional em um planeta com mais de dez bilhõe...