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— Está ficando maluco? — Empurro o ombro de Matheus, que estava parado na área externa de casa enquanto mexia no celular, aposto que estava doido para fumar.

— O que eu fiz? — Faz de desentendido, levantando as mãos.

— Você insinuando para os meus pais que estamos namorando.

— E você dizendo que tenho problemas?

— E você está achando que eu ia sair por baixo? — Digo um pouco mais alto. — Matheus, o que está acontecendo com você? Uma hora me beija, uma hora me ignora...

— É complicado, gatinha... — Ele coça a cabeça olhando para o chão.

— O que é complicado, Matheus? Me explica? — Peço quase ajoelhando, eu só queria entender a cabeça dele.

Mas ele fica em total silêncio, respiro fundo tentando controlar o ódio que eu estava sentindo dele.

— Tem como você ir embora da minha casa? — Pergunto com o coração acelerado e ele me olha espantado.

— Sério?

— Sim, Matheus... — Lhe olho, esperando ele se retirar. — Você não vai chegar na minha vida, me fazer gostar de você, me ignorar e depois ficar aparecendo na minha casa e ainda contando mentira para os meus pais.

— Você gosta de mim? — Ele tem um sorriso faceiro no canto dos lábios que me faz repensar nas minhas últimas palavras e arrepender de ter dito.

— Eu não disse isso. — Me recuo envergonhada.

— Disse sim, você disse "me fazer gostar de você"... — Se segura para não rir.

— Caramba, Matheus, tem como você sair da minha casa? — Repito.

Ele concorda com a cabeça, mas sem deixar seu sorriso de lado e se aproxima de mim, ele leva a boca até meu ouvido, me fazendo sentir o seu cheiro.

— Eu também gosto de você, gatinha. — Sussurra no meu ouvido e sai andando.

Paraliso por alguns minutos ali sozinha.

— Viu um fantasma? — Juliana chega se escorando na porta. — Os meninos já foram embora, Matheus quis sair rápido demais, aconteceu alguma coisa?

— Eu o mandei ir embora. — Saio do meu transe e vendo Juliana fazer uma cara de interrogatório. — Não quero perguntas, preciso dormir.

Saio andando para dentro de casa e eu mesma começo a fazer um interrogatório na minha cabeça, se ele gosta de mim, por que fica assim? Se ele gosta de mim, não era melhor ter falado antes? Se ele gosta de mim, por que foi embora e não ficou? O que se passa na cabeça dele?

Minha cabeça chegou a sair fumaça de tanto pensar até dormir.

...

— A Tomorrowland está chegando e eu estou tão ansiosa. — Comento com Pedro que mexe em seu computador focado.

— Vai sozinha? — Pergunta sem me olhar.

Estávamos na nossa sala, sentados na mesa central, passando o tempo, já que não havia nada para fazer naquele momento.

— Sim, mas lá eu nunca fico sozinha. — Respondo empolgada. — Pedro, eu vou ver o David Guetta, você tem noção?

— Você é a única irmã estranha. — Ele finalmente me olha.

— Você que é estranho, nem música você ouve! — Implico indignada.

— Melhor não ouvir do que gostar de eletrônica. — Ele ri.

Ignoro seu comentário e me levanto da cadeira, caminhando até minha mãe, que estava sentada em sua mesa.

— Beatriz, me ajuda aqui, como que coloco essa legenda colorida? — Ela me entrega o celular e acabo soltando um riso.

— Aperta aqui e depois escolhe a cor. — Mostro no celular para ela.

— Hum... Estava na minha cara. — Diz brava por não enxergar o ícone. — E você e o Matheus, estão namorando mesmo?

— Claro que não, mãe, eu nem o vejo, como pode achar que estamos namorando?

— Namoro à distância? — Ela para de mexer no celular para me olhar e retira os óculos.

— Não temos nada, mãe. — Confirmo pela última vez. — Além disso, estou indo para Ibiza e cogito conhecer muitas pessoas.

— Que dia você vai? — Pergunta.

— Semana que vem já. — Respondo sorridente.

— Tinha me esquecido, vou ter que chamar a Marina para ficar no seu lugar. — Responde bufando e eu concordo, segundos depois escuto baterem na porta.

— Beatriz? — Antônio, um dos porteiros, aparece ali abrindo a porta. — Uma entrega para você.

Caminho até a porta, vendo-o pegar um buquê de flores enorme do carrinho, já que ele provavelmente não conseguiu segurar, era muito grande, muitas rosas.

— Eu tentei procurar um cartão, mas não achei, deve ter caído na entrega ou não veio mesmo. — Diz e agradeço, tentando pegar o buquê.

Quando me viro, todos estão me olhando, inclusive meu tio.

— O quê? — Pergunto, tentando segurar a risada e ainda tentando entender o buquê de rosas enorme.

— Como me diz que não está namorando? — Minha mãe se levanta com as mãos na cintura.

— Juro que não estou mãe, eu não sei de quem são. — Coloco o buquê na mesa, ocupando quase metade do espaço.

— Sei... Mas adorarei colocá-las nos potinhos de todas as mesas aqui. — Dona Karla diz já se aproximando das rosas.

— Que isso? — Juliana chega fechando a porta atrás de si.

— A Beatriz acabou de ganhar flores do admirador secreto. — Pedro zoa.

— Não é o Matuê? — Pergunta tentando procurar algum cartão.

— Não sei, não tem nada.

— Manda mensagem perguntando. — Ju diz como se fosse óbvio.

— E se não for, vou ficar com qual cara? — Pergunto já imaginando a vergonha que seria.

— Com cara de toma otário, você não quis, mas alguém quis. — Juliana responde, fazendo minha mãe olhar feio para ela.

— Que isso, Juliana? — Karla pergunta, me fazendo gargalhar.

— Mãe, é assim que funciona as coisas hoje em dia. — Juliana responde sem medo do perigo.

— Vou contar para o seu pai que você está falando assim e veremos o que ele achará. — Karla diz como se não fôssemos todos maiores de idade.

Então batem na porta novamente.

— Beatriz? Desculpe interromper novamente, mas tem mais uma entrega que era para fazer com as flores, mas não chegou a tempo. — Antônio aparece ali novamente com uma caixa de madeira em mãos.

Caminho até ele, pegando a caixa e agradecendo mais uma vez, vejo Juliana segurar o riso. Coloco a caixa pesada na mesa, que não havia nada escrito, apenas um fecho de metal na lateral para ser aberto. Assim que abro, vejo uma garrafa de Pasión Azteca toda cravejada e com dois copinhos de shot ao lado, grudado na tampa, por baixo um bilhete:

"6.500 diamantes encrustados na garrafa ainda é pouco perto do que você merece. Espero que goste!
Matuê."

— Beatriz? — Juliana me olha, arregalando seus olhos enquanto estou com um sorriso bobo nos lábios.

O Demônio Veste PradaOnde histórias criam vida. Descubra agora