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— Lembre-se sempre de que cada não é apenas um passo mais próximo do sim. Rejeições e obstáculos fazem parte do jogo, mas é a sua resiliência que irá diferenciá-lo. — Meu tio João Adibe fala, durante uma reunião. — Acredite em si e na sua capacidade de conquistar clientes. Visualize o sucesso, veja-se alcançando suas metas e trabalhe com diligência para torná-las realidade. Lembre-se sempre de que o seu potencial é ilimitado e você pode alcançar grandes resultados.

Mais uma de suas reuniões em que ele se dava de coach e eu era obrigada a participar, meu relógio do celular já marcava 21:02 da noite e minhas pernas não conseguiam ficar quietas de ansiedade para ir embora.

— Sucesso não aceita preguiça! É com essa frase que terminamos a reunião de hoje. — Ele encerra e eu sou a primeira a levantar, fazendo minha mãe me olhar reprovando.

Após agradecer imensamente por chegar rápido em casa, consigo tomar meu banho e deitar na minha cama, era o que eu mais queria. Fazia em torno de 3 meses que eu havia voltado do Rio com Ju e 3 meses que Matheus não falava comigo. Eu até o entendia, mas não sabia o que poderia ser feito, então para mim só foi uma coisa passageira, um lance, como dizem os jovens de hoje.

— Bia, você tem certeza de que não quer ir mesmo? — Juliana chega abrindo a porta do meu quarto.

— Amanhã tenho que ir cedo para a fábrica. — Me aconchego nos meus travesseiros, soltando um grunhido de prazer.

— Eu também tenho que trabalhar, mas depois do show já vou embora, eu acho que o Teto dormirá aqui. — Se senta na minha cama.

— Que terror, por favor, geme baixo. — Peço imaginando o caos.

— Tenha santa paciência, nossos pais estão aqui, não sou tão escandalosa. — Ela segura o riso. — Vai ser muito legal, se você for, eu não te chamo mais para nada.

— Mas eu já estou deitada, Ju, dizem que se você deitou para dormir e depois resolve sair, é porque a morte está te chamando. — Ela junta as sobrancelhas com minha frase.

— Que horror, Beatriz, péssimo. — Bufa. — Vamos!

Espremo os olhos tentando pensar em uma próxima desculpa.

— Vou pegar uma roupa para você, é só se levantar e se vestir. — Juliana se levanta e sai andando até meu closet.

— Você jura que vai ser só o show e vamos embora? — Grito para ela escutar, da onde estava.

— Eu juro! — Grita de volta e me dou por vencida, me sentando na cama e soltando um longo suspiro.

— Foi bom por alguns minutos caminha. — Passo a mão pela cama, já começando a me arrepender.

— Veste essa roupa. — Juliana deixa uma roupa em cima da cama e sai dali. — 20 minutos já venho bater aqui para irmos.

Concordo com a comandante e pego a roupa vendo o que ela havia escolhido, era um vestido preto de tubinho que ia até meus tornozelos, então coloquei a peça de roupa e nos pés uma bota de cano alto preto. Optei por deixar meu cabelo solto mesmo do jeito que estava e passei um blush no rosto para não parecer morta, com um lip tint e gloss nos lábios. Antes de sair do quarto, pego uma jaqueta de couro preta para caso eu sentisse frio e borrifo mais perfume em mim.

Ainda com a cara fechada para sair, fomos de carro até o lugar do show onde Teto se apresentaria. Alguns seguranças na porta, ao reconhecer Juliana, nos levaram até o camarim dele e ao longo do caminho sempre havia alguns olhares sobre nós duas, olhares de curiosos. Entramos na sala que não me surpreende por estar cheia de gente. Ju sai costurando as pessoas até enxergarmos Teto.

— Que demora! — Teto diz assim que a vê.

— Estava convencendo uma pessoa a vir. — Ju diz e então sai da minha frente, fazendo Teto me perceber ali.

— Caralho, tu a tirou de casa? — Teto me dá um abraço enquanto sorria feliz.

Nesses três meses, Teto visitou várias vezes minha casa, mas eu nunca quis sair com eles. Essas foram as semanas em que mais trabalhei na vida devido a um lançamento de um produto novo na empresa que bombou, então tudo que eu queria no final de semana era descansar.

— Não precisa exagerar também. — Abraço-o de volta, olhando para trás dele, vejo Matheus em um canto fumando e conversando sorridente com uma garota, meu coração gela. — Não sabia que ele viria. — Sussurro para ele.

— Essa praga está de folga esses dias, sem show. — Teto diz abraçando Ju, então concordo com a cabeça ainda encarando ele, que me encara de volta e parece surpreso ao me ver ali.

Desvio o olhar rapidamente para o casal na minha frente. O ditado é que se você se levantar da cama para sair depois que você já está pronto para dormir, quer dizer que é a morte te chamando, mas no meu caso acho que foi o demônio.

— Daqui a 10 minutos começa o show, vocês preferem ver lá de baixo, ali onde ficam os seguranças ou do palco? — Teto pergunta para nós duas e Ju responde por mim.

— Pode ser do palco mesmo, não vamos dar o trabalho de descer até lá.

Teto concorda e se afasta de nós após um homem puxar papo com ele.

— Você sabia que ele estava aqui? — Sussurro para Ju.

— Eu não sabia, juro, o Teto não me falou nada! — Ela parece sentir meu arrependimento.

— Mas estou tranquila, só não sabia que ele viria. — Respiro fundo, não vou mentir que sentia uma leve saudade de conversar com ele e da maneira como ele me tratava.

— Tudo bem, vamos aproveitar o show do Clériton e depois vamos embora. — Ju diz, me fazendo concordar com ela e rir do nome do Sávinho.

O show começou e ficamos ali no cantinho do palco, eu nunca havia ido a um show do Teto e eu amei, era muito animado e as músicas não nos deixavam paradas, contagiante.

Começou a tocar uma batida e pude sentir somente um vento passar por mim. Matheus passa correndo ao meu lado e entra no palco cantando a música que havia começado.

— Ninguém paga minha luz por isso que ela é minha... — Matheus canta a mesma letra que cantou para mim no barco na viagem ao Rio.

Por milésimos de segundos, ele olha para mim com o microfone na boca e depois volta a pular com Teto no palco.

— Essa música o Wiu também canta, não é? — Pergunto.

— Sim, acho que ele está em Minas Gerais, por isso não veio. — Juliana responde vidrada no show.

A música acaba e os meninos agradecem saindo do palco. Matheus passa por mim, me encarando, quase levando minha alma junto.

— Fica ruim se eu tomar banho no seu palácio? — Teto pergunta para Ju assim que voltamos à salinha.

— Claro que não! — Ela responde.

— Vocês podem ir primeiro, então vou assim que eu finalizar com a rapaziada aqui, ainda tirarei foto com uma galera. — Sávinho explica e concordamos. — Fernandão, acompanhe-as até o carro, por favor?

Ele chama a atenção de um grandão que havia ali e ele concorda, nos chamando para sair do local. Ele nos acompanha até o carro e depois seguimos direto para casa sem antes passar o caminho inteiro fofocando.

Tiro minha bota, colocando os pés no meu tapete felpudo, sentindo um enorme alívio, era tudo que eu queria. Coloco meu pijama e vou até o banheiro, lavar o rosto e escovar os dentes para finalmente dormir.

Acordo no meio da noite com minha boca extremamente seca e decido descer para buscar água, maldita hora em que me xingo por não ter um frigobar no quarto. Desço as escadas no escuro e caminho até a cozinha, sendo levemente iluminada pela luz da lua. Pego um copo preenchendo com a água do purificador. Era como se eu não bebesse água há um mês, encho novamente o copo para levar para o quarto e faço o caminho de volta para subir as escadas.

Assim que termino os lances, sinto meu corpo se chocar com outro corpo. Água se espalha pelo corpo inteiro e o chão. Sinto o cheiro que para mim era reconhecível a 10 km de distância.

O cheiro do perfume de Matheus.

O Demônio Veste PradaOnde histórias criam vida. Descubra agora