014

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MAIS UMA VEZ me revirei de um lado para outro na cama, Maria permanecia em seu sono tranquilo sem notar minha inquietação. Minha cabeça se fez um mar de confusões aonde qualquer um se afogaria, meu sono espaireceu e meus olhos não se grudaram por todo esse tempo. Me levantei e com celular nas mãos visualizei as exatas 03:20 da madrugada na tela do objeto, senti minha boca seca e numa tentativa de ser silenciosa desci até a cozinha.

Abri a geladeira em busca de algo para beber, com o corpo inclinado e a cabeça quase que dentro da mesma não notei ninguém se aproximar e de repente um copo é colocado em cima da mesa. No susto me indireitei fechando quase que de imediato a porta, me virei para trás sabendo que era alguém da casa na intenção de assustar mas minha boca se abriu e fechou varias e varias vezes sem saber o que dizer.

O motivo da minha tempestade estava ali.

      O que foi? Vou querer água também.

      Nossa garoto, vai se fuder!       Mais uma vez abri a geladeira em busca da garrafa.       O que custava dar sinal de que tava' entrando?

      Não era a intenção te assutar, minha linda.       Riu.       Mas sem zoeira, quero água mesmo.

Em silêncio servi a bebida em dois copos, cada um com o seu nos encostamos na bancada um do lado do outro vagando igualmente os olhos pelo cômodo. O olhei por alguns breves segundos, assim que desviei o vi fazer o mesmo pela visão periférica, dar um suspiro pesado e questionar:

      Não dormiu?

      Não.       Minha resposta foi breve.

      Também não.

      Porquê?       Perguntei passando minhas mãos por alguns dos meus fios de cabelo.

      Problemas parça, não aguento mais.       Emitiu uma risada fraca.       Não tá com sono mesmo?

Neguei com a cabeça.

      É Japa, mente vazia oficina do diabo!       Pela primeira vez tive coragem de direcionar meu olhar ao garoto.       Acho que minha solução é voltar a tomar remédio.

      Ta ligada que não precisa né?       Devagar colocou o copo na mesa e estendeu sua mão para mim.       Vamo' dar um rolé no RJ.

      Que imitação de sotaque merda ein?       Fiz careta.       Esse rolé seu aí não pegou.

Coloquei minha mão na sua e Apollo me guiou até o lado de fora da casa, caminhamos lado a lado pela pequena estradinha que era preciso passar para ir a praia. No céu havia varias estrelas e estava mais azul que nunca, aparentemente sem nenhuma nuvem vagando. Eu ainda não entendi o porque de vir aqui, eu poderia conseguir ler Apollo várias e várias vezes, mas em momentos assim é impossível o decifrar.

      Vamo' sentar ali ó!       Apontei para uma parte perto do mar.

      A maré vai subir.

      Vem logo.       Soltei nossas mãos e fui até o local me sentando na areia.       Aqui fica pertinho do mar, olha que foda!

      Foda tá esse céu.       Sua voz pareceu se aproximar e logo ele estava sentado ao meu lado.       Deveria ter trago alguma coisa de comer, idiota!

      Idiota é você, sai assim sem mais nem menos.       Revirei os olhos.

      Quer que eu pego lá?       Questionou e eu apenas murmurei um não.

O silêncio reinou entre nós.

      Sempre quis ver o céu a noite na praia.       Minha voz saiu mais baixa que o esperado.

      É o mesmo céu que o da sua casa, esquisita.

      Se você continuar assim, te faço comer essa areia todinha.

      Você gosta quando eu te implico.       Aos poucos um sorriso de canto se formou em seus lábios.

      Vou te chamar de Rogério.       Ameacei.

      Parei!       Exclamou por alguns segundos ficando calado antes de prosseguir.       Você gostou mesmo da pulseira?

      Claro, cê sabe o quanto eu gosto de tudo que envolve o céu.       Afirmei.

      O céu me lembra você, seus olhos parecem brilhar mais com a luz da lua.

O garoto deixou de observar o céu estrelado e de maneira delicada passou seus olhos por todo meu rosto, no final descendo os mesmo até minha boca. A atmosfera que estava calma pareceu se enlouquecer, o vento soprou mais forte e meus cabelos voaram por todos os cantos, mesmo que distante era notável o corpo de Apollo se aproximando aos poucos.

Meu corpo se inrrigesseu, eu não fazia a mínima ideia do que fazer mas o mar resolveu fazer por mim. A maré subiu com força total, eu e o garoto fomos arremessandos para trás bebendo litros de água. Retomando minhas forças me levantei de pressa olhando para os lados a proucura de Apollo, ao me virar, o vi sentado no chão tossindo e rindo ao mesmo tempo o que me fez rir também.

      Que porra foi essa?!       Passou a mão pelo cabelo.

      Você tá muito vermelho!       Ainda rindo fui até ele com a mão estendida.       Vem, levanta daí.

Sua mão foi de encontro com a minha e em um impulso o ajudei a levantar, quando de pé, ficamos frente a frente, a aproximidade pareceu abalar ambos, dessa vez eu parecia saber e - ter certeza - do que eu queria.

Eu queria ele.

Eu quero ele.

Lutei contra eu mesma para tomar iniciativa, julguei ser tarde demais pois o mesmo se distanciou me puxando pela mão.

      Acho melhor a gente ir, o vento frio vai fazer mal depois.       Continou a caminhada.

      A maré virou nossa inimiga agora.       Na tentativa de descontrair, eu disse.       Queria muito que ela tivesse te levado.

Ele parou, se virou para mim e murmurou:

      Se você tivesse ido, meus problemas teriam acabado.       Rimos, mas só depois entendi o peso da frase.

𝐄𝐍𝐈𝐓𝐄𝐍𝐒𝐈𝐃𝐀; ᴀᴘᴏʟʟᴏ ᴍᴄOnde histórias criam vida. Descubra agora