Surpresas da Vida

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A viagem foi marcada com muita antecedência, Eduardo e Mônika sua irmã gêmea, estão muito ansiosos para o grande dia.
Era a primeira vez que ambos estavam indo para o Rio de Janeiro, e era de carro com sua mãe e seu pai.
Todos os preparativos foram feitos com muita cautela, para que nada pudesse atrapalhar o grande dia.
O carro foi revisado, o Hotel Copacabana Palace reservado e com as diárias pagas há mais de um ano antes do grande dia chegar.
Havia uma grande expectativa no ar, desde do casal de gêmeos até os seus pais, para que chegasse esse dia tão esperado.
Mas, não era para menos, os pais de Eduardo e Mônika,  estavam comemorando, vinte e cinco anos de casamento, ou seja, estavam comemorando a bodas de prata e decidiram que iam passar vinte e cinco dias na praia de Copacabana no Rio de Janeiro.
- Dudu, você pegou todas as suas coisas?
Perguntou o pai dele, já com as chaves nas mãos e pronto para sair.
- Sim meu pai, peguei tudo, estou pronto para sair.
A Mônika foi logo dizendo, lá do carro, já com o cinto colocado:
-Vamos embora, estamos perdendo tempo!
Por incrível que pareça, as mulheres estavam prontas e dentro do carro.
Aí o senhor Renato, não teve outra opção,  a não ser terminar de trancar as portas, janelas, ligar o carro e sair, rumo ao que eles haviam planejado com muito carinho este momento.
Assim que a família Vieira deu um grito vibrante:
- Rio de Janeiro, aí vamos nós!!!!
O senhor Renato, acelera o seu Corola preto.
Renato é um homem muito simples, de bom coração. Sempre lutou para ter o que tem hoje.
Ama sua família e por ela ele é capaz de tudo, mas, de tudo mesmo. Até de dar a sua vida, se preciso for.
Dona Sílvia foi a sua primeira namorada, com a qual se casou, seis meses depois que conheceu a mulher da sua vida, Renato não tinha a mínima dúvida, de que aquela mulher maravilhosa, morena clara, com olhos cor de mel, uma deusa em pessoa, seria a mãe de seus filhos.
Eles sempre quiseram ter filhos, porém a natureza não colaborava com o casal, mas, no final da década de noventa, eles fizeram parte de uma experiência de um laboratório, do qual prometia que a senhora Sílvia poderia ter seus próprios filhos, e isso os deixou animados e trouxe grande esperança para eles serem pais, como eles sempre sonharam a vida toda de casados.
No início, ela ficou com muito medo, mas, a vontade de ser mãe era maior que o medo e ela então,  aceitou o desafio.
Fizeram todos os procedimentos cirúrgicos e conseguiram realizar com sucesso e esperaram os nove meses e nasceram o casal de gêmeos, e como Renato era fã número um dos Legião Urbana, decidiu colocar os nomes do casal de Eduardo e Mônika, nomes esses que a banda tocava em um sucesso.
O casal amava profundamente os filhos, principalmente por vir com muita dificuldade e agora estavam aí com muita saúde e motivo de muito orgulho e felicidade de todos.
Enquanto Renato dirigia o seu carro, passa um filme em sua cabeça, exatamente isso, o dia em que O grande Criador lhes concedeu o privilégio de serem pais e poderem criá-los da melhor forma possível...
Ao mesmo tempo, Sílvia, Eduardo e Mônika, cantavam alegremente a canção que eles todos gostavam.
Que era aquela clássica do Legião Urbana, "Eduardo e Mônica"

"Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?
Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
No outro canto da cidade, como eles disseram
Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
Um carinha do cursinho do Eduardo que disse
"Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir"
Festa estranha, com gente esquisita
"Eu não tô legal, não aguento mais birita"
E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
"É quase duas, eu vou me ferrar"
Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard
Se encontraram, então, no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo
Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol-de-botão com seu avô
Ela falava coisas sobre o Planalto Central
Também magia e meditação
E o Eduardo ainda tava no esquema
Escola, cinema, clube, televisão
E mesmo com tudo diferente, veio mesmo, de repente
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia, como tinha de ser
Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia
Teatro, artesanato, e foram viajar
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar
Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar (não!)
E ela se formou no mesmo mês
Que ele passou no vestibular
E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela
E vice-versa, que nem feijão com arroz
Construíram uma casa há uns dois anos atrás
Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Batalharam grana, seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram
Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
E a nossa amizade dá saudade no verão
Só que nessas férias, não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação
E quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?"
No meio da música, Renato começa a cantar e pára de viajar nos pensamentos, em seguida, é a vez da Sílvia que ficou a pensar de como a família dela é muito feliz e unida e por este motivo, ela é muito grata a Deus e a vida que que Ele tem concedido à eles...
Assim que a música acabou, ouvi- se a Mônika dizendo:
- Pai, por favor, pode parar neste posto para eu ir ao banheiro?
Renato prontamente, atende o pedido de sua filha, mas, vai logo dizendo:
- Duas coisas, o Dudu vai com você e vê se não demora, ouviu?
- Está bem pai, eu vou ser bem rápida.
Eduardo e Mônica, saíram correndo.
Eles logo vieram e entraram no carro e seguiram viagem.
Estavam irradiantes de uma felicidade invejável.
Ainda no estado de São Paulo...
- Amor, cuidado o trânsi...
Era o grito da dona Sílvia, que nem chegou a pronunciar toda palavra, e o Renato tenta desviar do carro a frente e joga o seu carro do lado direito da via Dura, km 63, faltando pouco para se chegar à divisa do estado de São Paulo/Rio de Janeiro.
Daí em diante, a família Vieira não ver mais nada, só no dia seguinte que Renato e Sílvia acordam, num hospital da cidade perto de onde aconteceu o acidente com eles.
- Onde estou?
Indagou o Renato a enfermeira a sua frente, que carinhosamente, respondeu:
- Olá senhor Renato, bem vindo à vida! O senhor está em um Hospital, mais precisamente na Santa Casa de Misericórdia, o senhor e sua família.
Renato quis se levantar para ver onde estão a sua esposa e seus filhos, mas, a dor de cabeça e dor no corpo, não deixaram ele se levantar e a a enfermeira disse:
Shiiiioooo!
Colocando o indicador apontando para cima, num gesto para ele ficar quieto e se acalmar, deitou ele calmamente em seu leito e disse:
- Senhor Renato, está tudo bem. A sua esposa se encontra no quarto ao lado e está se recuperando do acidente e está fora de risco de vida.
Sem quase respirar, Renato falou, ainda esbaforido com a ansiedade de saber notícias de seus filhos:
- Meus filhos onde estão? Eles estão bem?
-Acalme- se senhor!
-Acalmar o caramba! Diga me logo, onde eles estão?
O coração do Renato estava disparado, parecia que ia saltar do peito a qualquer momento.
Neste momento, a porta do quarto se abre de repente e era o o dr. Braga.
- Boa tarde enfermeira Dircinha! Tudo bem?
- Boa tarde dr. Braga, está tudo bem. Somente o senhor Renato está querendo saber de seus filhos. O senhor poderia explicar a ele, por obséquio?
O dr. Braga como sempre, sorridente e de bem com a vida, se aproxima do leito e toca com sua mão direita no braço esquerdo do senhor Renato e diz:
-Boa tarde, senhor Renato, sou o dr. Braga, o diretor e responsável pelo Hospital Santa Casa de Misericórdia.
- Dr. Braga, por gentileza, me diga que os meus filhos estão bem e vão viver sem problemas?!
- Senhor Renato, não posso garantir que não terão nenhuma sequela, porém, posso te dizer que eles estão na UTI e tendo cuidados especiais dia e noite.
O dr. Braga olhando profundamente nos olhos do pai das crianças e diz com todo sinceridade.
- Mas, eles vão viver, né dr. Braga?
- Sim, claro mas, precisamos aguardar os resultados. Assim que o senhor melhorar, vamos levá- lo para ver seus filhos e sua esposa, que aliás, está muito bem, assim como o senhor...
O senhor Renato, se acalmou e agradeceu ao dr. Braga e acomodou a sua cabeça no travesseiro.
Nisso ele volta  dormir.
No quarto ao lado, encontrava- se a senhora Sílvia, respirando sem aparelhos, porém, tinha todo corpo com várias feridas e nenhuma fratura.
Ela estava apenas sedada, para fins de não atrapalhar o progresso de cura das feridas em seu corpo.
Depois do dr. Braga ter visitado vários quartos e diagnosticado paciente por paciente, ouvi- se uma chamada pelo corredor do Hospital:
- Dr. Braga, favor comparecer ao quarto 067. Dr. Braga comparecer ao quarto 067.
Ao ouvir isto, o dr. Braga já tinha acabado de diagnosticar um paciente, se dirigiu ao quarto 067, seguindo a solicitação de sua presença.
Chegando ao quarto 067, se depara com a senhora Sílvia, sentada na cama conversando com a enfermeira chefe, senhora Dircinha.
-Olá boa tarde de novo, enfermeira Dircinha, olhou para a ficha rapidamente e disse, olhando para a paciente:
- Boa tarde dona Sílvia, vejo que está bem melhor! Eu sou o Diretor e responsável pelo Hospital Santa Casa de Misericórdia, dr. Braga.
Ao dizer isso, olhou nos olhos dela e deu um largo sorriso, ao que teve uma retribuída da parte dela e ao mesmo tempo foi dizendo:
- Dr. Braga, preciso saber de meus filhos e marido, a senhora Dircinha me disse que sofremos um acidente e a minha família foi socorrida aqui em seu hospital. Diga- me como eles estão, por favor?
- Pode ficar tranquila,  que eles estão sendo bem cuidados e estão fora de perigo, acabei de diagnosticar o seu marido, o senhor Renato.
O dr. Braga fez todos o processos de exames e concluiu:
- Dona Sílvia, a senhora,  assim como o marido, ainda vão ficar aqui por mais um dia e amanhã de tarde receberão alta.
Ao terminar de falar estas palavras, fraziu o cenho,  deixando transparecer que, apesar da boa notícia do casal estarem de alta, mas, ainda havia uma preocupação.
- Dr. Braga e os meus filhos, não vão receber alta ainda, né?
O dr. Braga, com as duas mãos segurou levemente na mão da Sílvia e disse bem sério:
- Dona Sílvia, assim que vocês receberem alta amanhã, eu os levarei pessoalmente ao quarto deles e explicarei com detalhes o estado clínico de seus filhos, mas, por hora, pode se tranquilizar que eles estão bem e vão se recuperar rapidamente.
O dr. Braga pediu licença e se retirou do quarto 067 e deu prosseguimento ao seu trabalho que estava fazendo anteriormente.
Dona Dircinha, enfermeira chefe, se aproximou da dona Sílvia e disse:
- Pode deixar comigo, eu estarei dando informações todo tempo para você, dos seus filhos e de seu marido, tudo bem para você?
Com os olhos cheios de lágrimas, dona Sílvia concorda com a enfermeira, dando um sinal com a cabeça e um sorriso serrado na boca.
As duas se abraçam e a enfermeira, conclui:
- Pode contar comigo que eu te ajudarei em tudo que precisar.
Ela mal terminou de dizer isto, o som no corredor anuncia:
- Dircinha, por gentileza, comparecer ao quarto 097!
Elas se despedem e a Dona Dircinha sai rumo ao quarto 097.
Dona Sílvia faz uma oração silenciosa, agradecendo por estarem todos vivos e juntos.
No mesmo instante que Sílvia faz a sua oração com toda a sua fé, ela sente uma sensação confortante no peito, que faz com que o seu coração se acalme e fique em paz, confiando que tudo sairá bem.
Mais tarde, ainda naquele mesmo dia, a enfermeira chegou ao quarto de Sílvia, trazendo jantar, mas não era aquela comida, sem graça que geralmente é servida nos hospitais, era um prato muito bem balanceado, do qual continham:
Duas colheres de arroz bem saltinho, um filé de pescada grelhado, com uma deliciosa salada muito colorida, com cortes especiais, dando vida ao prato e muito sabor.
Para tomar havia, um suco sem açúcar de morango com laranja, um suco dos deuses e terminando, havia umas frutas frescas de todo tipo, cortadas com muito carinho.
- Olha que eu trouxe para você, mas, não conta para ninguém, foi especial...
Disse baixinho, entregando com muito carinho para a dona Sílvia.
Dona Sílvia, disse também baixinho:
- Obrigada dona Dircinha, você é um anjo. Pode deixar que eu não conto à ninguém.
A dona Sílvia, começa a comer e dona Dircinha, sai rapidamente.
Depois de meia hora que a dona Dircinha saiu, ela voltou ao quarto 067 e disse a dona Sílvia, pegando em sua mão e a levou ao quarto 163:
- Vamos ver os seus filhos, eles estão no quarto 163.
Dona Sílvia, estava emocionada com a atitude de dona Dircinha, e saíram as duas rápido para ninguém notar a sua saída.
Ao chegar no quarto 163, dona Sílvia ver os dois filhos na UTI, um leito perto do outro, estavam respirando sem aparelhos e pareciam que estavam dormindo e dona Sílvia disse passando a mão no rosto de Eduardo e em seguida no rosto da Mônika, e chorando sem parar:
- Meus filhos, a mãe de vocês está aqui, por favor acordem logo!
- As crianças estão sedadas de propósito e pelos cálculos dos médicos, eles acordam amanhã à tarde.
Disse baixinho, nos ouvidos de dona Sílvia.
Dona Sílvia, perguntou:
- Porque eles se feriram mais do que meu marido e a mim?
Dona Dircinha pensa um pouco para responder e diz:
- Segundo a equipe de resgate da CCR Nova Dutra, os dois estavam sem cinto de segurança e por isso eles rolaram por todo o veículo, por várias vezes e bateram muito a cabeça, muito mesmo...
A dona Sílvia, se despediu dos filhos e pediu:
- Dona Dircinha, a senhora pode me levar até o quarto do meu marido?
Dona Dircinha, pegou na mão de Sílvia e saíram silenciosamente, rumo ao quarto 065 e entraram. Dona Sílvia, abraçou o senhor Renato, beijou demoradamente e ali ficou por uns minutos admirando o marido.
Saíram de lá sem pronunciar uma só palavra, até chegarem ao quarto 067 e dona Sílvia abraçou demoradamente a senhora Dircinha e disse olhando nos olhos dela:
- Olha dona Dircinha, não sei como agradecê - la,  a senhora é um verdadeiro anjo, muito obrigada mesmo.
- Não precisa agradecer, só quis ajudar uma mãe e esposa aflita.
- E você ajudou muito, muito mesmo, serei eternamente grata a você.
Se abraçaram novamente, se despediram e dona Dircinha foi embora; dona Sílvia foi dormir aliviada e com uma grande esperança de tudo melhorar.
O dia amanheceu, com um sol radiante, mas, não só radiante, havia algo a mais neste dia.
Pelo menos para a família Vieira, que a enfermeira chefe chegou bem cedo e pediu para o senhor Renato, se arrumar que hoje ela ia levar ele e a esposa para tomar um café especial.
Em seguida foi ao quarto 067 e disse a mesma coisa para a senhora Sílvia. E completou a sua fala:
- Daqui meia hora eu volto para pegar vocês.
O senhor Renato deu um pulo da cama e foi se arrumar; primeiro fez a barba que a esta altura estava prá lá de grande, ao sair do banho, notou que sua mala de viagem estava ali perto da cama, pegou uma roupa legal e se perfumou e ficou aguardando a chegada de sua esposa Sílvia.
No outro quarto, estava dona Sílvia, que também foi tomar um belo de um banho, se maquiou toda e deu uma escovada no cabelo e também ficou aguardando a senhora Dircinha.
Já estava muito ansiosa, quando dona Dircinha adentrou em seu quarto e disse:
- Hum, como está linda e perfumada! Vamos? Teu marido, vai ter um treco se demorarmos um pouco mais.
Foram as duas até o quarto 065, a enfermeira ficou alguns metros para trás para que a dona Sílvia ficasse mais a vontade com seu marido.
Apesar dos machucados pelo corpo a fora, dona Sílvia andou mais rápido que podia e ao ver o seu amado, pulou em seus braços e se beijaram como dois adolescentes apaixonados.
Depois de alguns minutos, dona Dircinha tossiu, do tipo limpando a garganta e disse:
- Me desculpem estragar este momento muito romántico e especial dos dois pombinhos, mas, podemos ir agora?
Os dois se ajeitaram e o senhor Renato respondeu:
- Sim, claro que podemos, desculpe a empolgação.
Os três sorriram e dona Dircinha saiu na frente e o casal a seguia, de mãos dadas.
Pelo menos naquele momento o casal se esqueceu um pouco da tragédia recente na vida deles.
Entraram no carro de dona Dircinha e ela os levou à uma padaria muito linda e lá sentaram e dona Dircinha foi dizendo:
- Hoje é por minha conta, podem pedir o que vocês quiserem.
Após ter se servido e se fartado, seu Renato perguntou:
- Senhora Dircinha, como estão os nossos filhos?
Dircinha engoliu o último gole de café e respondeu:
- Eles estão ótimos e hoje vamos fazer o procedimento para acordá - los e quero que vocês estejam presentes.
O casal se olharam e deu para ver a alegria estampada em seus rostos.
Depois do café que levou cerca de uma hora, os três voltaram para o Hospital e foram ver as crianças no quarto 163.
Estavam bem animados com a possibilidade de todos saírem do Hospital; ao chegar próximos dos respectivos leitos, ficaram a chorar ao verem seus filhos naquela situação, mas, o choro era de felicidade, apesar dos machucados dos quatro, estavam felizes por não ter acontecido o pior com eles.
- Vou ter que visitar outros pacientes, porém, assim que o dr. Braga me avisar, podem ficar tranquilos que irei nos quartos de vocês e os chamarei.
Esta foi a orientação dada pela dona Dircinha ao casal.
Ao que o senhor Renato, pediu:
- Dona Dircinha, podemos te dar um abraço, como forma de retribuição da ajuda que tem nos dado?
Dona Dircinha, olhou para os dois a sua frente e abriu os braços e disse:
- Claro que podem, adoro vocês.
O casal, então, abraçou a senhora Dircinha e os três choraram juntos.
Em seguida, o casal Vieira se despediu também e foi cada um para seu quarto, onde ficaram a pensar e dirigirem suas preces ao Pai de todos nós.
Às 16:30 em ponto, dona Dircinha, coloca um pé dentro do quarto e bate na porta que estava aberta com um largo sorriso:
Tóc tóc tóc!
- Chegou o momento tão esperado por todos nós, vamos lá ver os filhotes?
Dona Sílvia, deu um pulo da cama e em um segundo, estava na porta dizendo:
- Esperei muito por este momento, vamos sim!
Ao sair do quarto, ela viu o seu marido, animado vindo em sua direção e a abraçou fortemente e deu lhe um beijo.
Lá foram os três, sem dizer uma palavra se quer um para o outro, mas, dava para sentir o cheiro da fé do casal Vieira, dona Sílvia com as duas mãos encontradas próximas de sua boca, fazia as suas preces, dando para visualizar o movimento silencioso de seus lábios.
Senhor Renato, com os olhos serrados, as duas mãos fechadas e com pensamentos firmes, em sua fé inabalável, sabendo que naquele momento, os queridos filhos do casal, estavam nas mãos de seu Criador, que não abandona seus filhos em momentos difíceis, principalmente quando há fé tamanha como a do senhor Renato e de dona Sílvia...
Ao chegarem no quarto 163, o dr. Braga já se encontrava com sua equipe, prontos para fazer o procedimento. 
O dr. Braga os cumprimentou e apresentou a sua equipe de apoio.
Eduardo e Mônika, dormiam como crianças, ou melhor, como anjos celestiais.
Essas crianças, são para lá de especiais. Todos os filhos são especiais para seus pais, mas, Eduardo e Mônika, vieram depois de muita fé, esforço, busca e perseverança no objetivo do casal Vieira.
Foram criados com muito amor, carinho, estiveram sempre presentes na vida deles e deram uma educação fenomenal.
Os filhos são muito inteligentes e dotados de uma série de atributos.
Porém, o momento que a família Vieira está vivendo, é uma situação muito delicada,  ao ver seus anjos ali deitados em seus leitos.
Passa um filme na cabeça de seus pais, mas, o que realmente predomina é a fé que este casal possui.
Já havia umas cadeiras para o casal se sentarem e assistirem o retorno tão esperado de seus filhos.
Como eles não estavam com aparelhos mais, a equipe médica decidiu aplicar uma injeção para o despertar forçado dos pacientes.
Enquanto os médicos realizavam os procedimentos, o casal Vieira estava em total fervor em suas preces.
Na primeira tentativa foi sem sucesso, mas, isso era previsto. A equipe, então, começou a dar micro choque nos dois pacientes simultaneamente, na tentativa de que os dois pudessem acordar juntos...
Todas as tentativas foram inúteis e o dr. Braga concluiu:
- Pessoal, fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, agora é só esperar, todos estão dispensados... Pais,  se vocês quiserem ficar por aqui, podem ficar a vontade.
Os pais das crianças agradeceram em silêncio e a equipe se retirou também em silêncio.
Ao estar somente os Vieira no quarto, em prece fervorosa, eles ali ficam por horas, com a fé inabalável de que a qualquer momento seus preciosos filhos possam acordar e voltar ao normal...
O casal Vieira em pleno ato de favor, em busca do milagre em suas vidas, Eduardo primeiramente e quase que no mesmo segundo, a Mônika começam a mexer os olhos e em seguida começam a analisar o ambiente para se localizarem onde estavam.
Quando de repente, a senhora Sílvia, olha para o Eduardo e vê que seu filho está com olhos abertos e lentamente, com os olhos cheios de lágrimas, vai se aproximando, sem dizer uma palavra e quase que ao mesmo tempo, o senhor Renato também vê a sua querida filha Mônika com os olhos abertos e  começam a chorar e agradecer ao seu ser supremo por mais este milagre na vida da família Vieira.
Ao notar o movimento, a equipe do dr. Braga se locomove rapidamente em direção ao quarto 163, que se depara com uma visão maravilhosa dentro do recinto.
Os pais chorando...em prantos e com os filhos com os olhos abertos...
A equipe por um momento, não se aproxima e fica só assistindo de camarote. Deixando este momento tão especial para eles, o casal Vieira.
Enquanto eles ficam assistindo, dá- se o tempo exato em que o dr. Braga chega para auxiliar a sua equipe.
O dr. Braga pára junto a sua equipe que estava chorando e junta- se ao choro.
- Dr. Braga, eles acordaram!
Disse a dona Sílvia, em prantos de felicidade e o casal abraçou a todos da equipe.
Logo então, começou o procedimento comum, pós coma.
- Boa noite à todos!
Disse o dr. Braga, como forma de quebrar as emoções e prosseguir com o trabalho.
Dr. Braga se aproxima dos leitos que estavam juntados, se dirige ao Eduardo colocando a sua mão direita no ombro esquerdo do paciente, olhando em seus olhos e pergunta:
- Oi, sou o dr. Braga. Você está me ouvindo bem?
O Eduardo movimenta a cabeça para cima e para baixo, em sinal de positivo.
Ao que o dr. Braga responde:
- Muito bem. Eu vou fazer algumas perguntas a você e quero que você as responda o mais rápido que puder, mas me responda com palavras:
- Qual seu nome?
Eduardo pensou um pouco e respondeu:
- Doaredu.
O dr. Braga ficou sem entender e disse:
- Não entendi, você pode me dizer o seu nome?
- Ims. Ume meno é Doaredu.
O dr. Braga e sua equipe, estavam de bocas abertas, não sabiam o que aquilo significava, nem nunca tinham passado por isso antes.
Agora, além da equipe médica estar preocupada e era fácil de se notar isso pelos seus sinais faciais, senhor Renato e dona Sílvia, ficaram atordoados com esta situação.
Apesar de estar meio grogue, a Mônika pergunta:
- o euq táes docenteacon?
Todos na sala calaram totalmente, sem saber o que eles estavam dizendo...
E ninguém responde, a pergunta ficou no ar, pois eles tinham mais dúvidas do que respostas.
Um residente do equipe médica, pegou o celular e colocou no tradutor em várias línguas, mas, não foi possível qualquer entendimento entre eles.
Eduardo olha par Mônika e pergunta:
- Esel noa taoes sno  dodentenen?
- Cerepa ueq ona smome, nhotraes.
Respondeu Mônika, olhando para os lados e mexendo somente com os olhos.
- Sam, ouest dodentenen dotu o euq cevo e esel taoes dolanfa...
Imediatamente,  o dr. Braga, pediu para a família se acalmar dizendo:
- Isso é possível, em alguns casos no mundo, mas, pessoalmente nunca tinha acontecido. Vamos com calma que tudo vai dar certo, o importante que eles estão vivos e muito bem vivos.
O dr. Braga deu um leve sorriso e com isso conseguiu acalmar o casal Vieira.
O dr. Braga se aconselhou com sua equipe, a família só observava os movimentos...
Ao que o dr. Braga se aproximou das camas e olhando nos olhos de Eduardo e Mônika, disse sinalizando com as mãos, achando que eles não consegui entender:
- Vou fazer algumas perguntas e por favor me respondam com gestos, tudo bem?
Os adolescentes, concordaram movimentando as cabeças simultaneamente, para cima e para baixo.
- Muito bem, meninos, vamos lá.
Disse isto e olhou para o pessoal dentro do quarto,  como se tivesse um primeiro entendimento desde que eles acordaram.
- Vocês conseguem me entender?
Os dois deram um sorriso e levantaram o polegar, em forma de concordância.
- Ótimo!
Disse um dos integrantes da equipe, animadamente.
O dr. Braga começou  andar pelo quarto, como se estivesse buscando uma outra pergunta que iria impactar nesse processo de entender o que estava acontecendo.
Pegou uma agulha, desembrulhou, chegou perto e foi dizendo, ao mesmo tempo que fazia alguns pequenos furos nos pés das crianças:
- Dói?
- Ims itomu!
Gritou o Eduardo com uma face nada de bons amigos.
- Por favor Eduardo, faça gesto para eu poder entender, se bem que sei que sentiu dor. Ok, tudo bem.
O dr. tirou as suas conclusões que precisava, pois o mais importante era, no momento, saber que eles estavam bem.
E de fato estavam muito bem, mas, somente não estava dando para entender o que eles falavam.
Então, o dr. Braga disse:
- Família Vieira, minha equipe e eu vamos nos retirar e retornaremos amanhã no primeiro horário. Vocês podem ficar a vontade.
A família agradeceu o dr. Braga e a equipe e eles se retiraram como haviam prometido.
Dona Sílvia, se adiantou e foi logo falar com seus filhos, com  esperança de poder entendê - los.
Ela perguntou:
- Vocês conseguem me entender?
Os dois balançando as cabeças afirmativamente, em uníssono.
A mãe de um largo sorriso e disse olhando para seu marido:
- Eles conseguem me entender!
A Mônika se levantou e abraçou os seus pais, os dois ao mesmo tempo e o Eduardo foi e fez o mesmo.
Não houve palavra alguma, a única coisa que se viu foi uma manifestação de um amor genuíno que emanava de uma família muito unida e amorosa.
Depois dos abraços e beijos, quase intermináveis, os filhos se sentaram no sofá e os pais se sentaram na cama do Eduardo e ficaram ali por um bom tempo se olhando...
O pai Renato, deu um pulo da cama e abaixou- se perante os filhos e disse quebrando o silêncio:
- Vocês têm ideia do que está acontecendo e porque tudo isso?
Mônika sorri, meio apreensiva e diz, passando a mão no rosto de seu pai:
- Onã çofa a manimí e o nhoser, mte magual iadei?
O Eduardo,  vai logo dizendo:
- Ráse euq snó mostaes dolanfa  nêspoja?
Mônika olha para o Eduardo e diz, meio preocupada, relembrando seu irmão:
- Cêvo onã es bralem ueq so cosdimé ramssedi ueq onã mte on rionáciodi, temenvelvapro onã tesxie me garlu umgal?
Eduardo olha tristemente para sua irmã e concorda:
- É dedaver mosme...
Os pais das crianças ficaram só olhando o diálogo deles.
Eles se entendiam, mas, as pessoas ao redor não podem entender nada do que eles dizem.
...É neste momento que vemos que somos muito vulneráveis, que somos tão dependentes um do outro, de todos ao mesmo tempo e muitas vezes não nos damos conta disso, achamos que nada vai nos acontecer, mas, estamos redondamente errados, se assim pensarmos.
Não importa quem você é, quanto você tem no banco, que cargo você ocupa no momento, somos todos iguais, viemos para cá com uma característica peculiar...A vulnerabilidade social...
Ficou a pensar a senhora Sílvia, por um longo tempo.  

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