A Vida Como Ela É

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Capítulo 8

Dra. Lucélia Santana - Psico- Terapeuta***

Para hoje com os meninos, como são chamados aqui, preparei umas coisas bem legais para passarmos a tarde juntos.
As pessoas com doenças mentais, ao meu ver, são pessoas infinitamente inteligentes e com um potencial muito elevado.
São fáceis de se socializar, de aprender e de ensinar.
São indivíduos que vivem em um mundo paralelo ao nosso, mas, que no fundo estão mais aqui do que as pessoas que se julgam "normais".
Com o tratamento em dia e com a sua própria ajuda, o paciente pode e deve levar uma vida socioeconômica com qualquer outra pessoa.
Não há restrições para ele, podendo trabalhar, casar- se, ter filhos e participar da comunidade como um todo.
Por outro lado, vemos o quanto este projeto é de total importância para os pacientes e para seus familiares.
Mas, para que isso possa acontecer, necessário é, que a participação da família, amigos e os profissionais da área médica, estejam acompanhando de perto e inclusive o próprio paciente.
Sendo assim, o paciente se sentirá seguro de continuar a levar a vida adiante.
A psicoterapia é uma parte fundamental para o crescimento eficaz e tratamento, uma parte onde o paciente se encontra consigo mesmo e descobre onde é fantasia de sua mente e onde é real e o que está acontecendo.
É na psicoterapia que o indivíduo acha o caminho para a realidade e começa a se esforçar para não entrar no mundo da fantasia ou alucinações.
A partir do instante que o paciente consegue distinguir esses momentos, realidade X alucinações/fantasias, ele começa então, a colaborar consigo mesmo para o controle da doença, pois, ele mesmo identificando esta transição, as pessoas ou ele mesmo, toma as providências cabíveis. Evitando assim, a crise, o descontrole emocional e agressividade por parte do paciente.
Foram com esses pensamentos que fui ao salão de atividades com os meninos, ao chegar lá, observei que minha mãe estava com os garotos e ela me disse:
- Boa tarde Lucélia! Digam boa tarde para a dra . Lucélia.
Os meninos, um pouco tímidos com a minha presenca, disseram juntos:
- Boa tarde, dra. Lucélia!
Achei lindos demais. Fiquei a imaginar, como uma atitude destas, de fazer um projeto, pode melhorar e muito as pessoas.
- Boa tarde, meninos!
Disse isso e sorri, o que eles fizeram o mesmo.
Peguei um saco cheio de peças de montar e joguei no chão.
Eles ficaram olhando meio sem jeito e eu disse:
- Vamos montar várias coisas, a começar montando uma casa. É um ajudando o outro, tudo bem?
Eles balançaram as suas cabeças concordando.
Depois de ter montado a casa e outras coisas mais, disse eu empolgada:
- Gente, chega de montar, vamos jogar bola, mas antes, vamos guardar tudo no saco.
O que eles fizeram prontamente.
Nos quatro jogamos bola, o Alídio, o Waldir, minha mãe Dircinha e eu. Foi muito gostoso ver eles felizes da vida, como dois moleques jogando bola na rua.
Os pais dos meninos estavam nos assistindo e sempre nos aplaudindo, foi maravilhoso ver a alegria de cada um, durante uma simples partida de bola.
Não tem coisa mais gratificante do que fazer parte desta transformação, de poder devolver a vida a quem de fato pertence.
Após jogarmos bola, fomos tomar bastante líquido e fomos tomar o lanche da tarde.
E eles conversavam com os seus familiares, dava para ver a alegria estampada em seus rostos, tanto dos filhos como dos pais.
A coisa mais sublime que eu tenho visto neste projeto, é a união destas famílias e o forte desejo de quererem ajudar e participar.
Talvez seja este o grande motivo do crescimento dos pacientes, um crescimento que dá até para dizer, rápido.
Eles estão bem animados e medicados corretamente, graças ao apoio dos familiares.
Nós aqui do Hospital, podemos fazer bastante coisas, mas, se não houver um apoio pesado das suas famílias, tenha certeza que nada do que estamos vendo hoje estaria feito.
As famílias foram dispensadas e fiz o relatório pra o dr. Braga e fui embora para minha casa.
Sexta feira tem mais, vou preparar muitas coisas legais com estes meninos e vai ser muito bom.
O dr. Braga me convidou na saída para tomarmos alguma coisa, mas, para variar eu recusei. Estou ansiosa para conversar com o meu querido do telefone, o Raimundo.








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