Capítulo 10

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Passei a noite em claro com medo de pegar no sono e Cauê acordar sem eu perceber, mas ele permaneceu imóvel desde que eu entrei no quarto. Se não fosse pela máquina de batimentos cardíacos, eu diria que ele tava apagado de vez.

- Bom dia, vim trazer as medicações dele. - a enfermeira entrou no quarto, me olhou de cima a baixo e molhou os lábios.

- Bom dia. - respondi a olhando descaradamente também. Não tô morto. - o doutor responsável pelo Cauê mandou eu te entregar isso. - ela me estende uma sacolinha transparente com as duas balas que eu pedi ontem.

Meu celular tocou, vi que era dona Jane me ligando. Pleno sábado, porque ela estaria ligando?

- Fala, dona Jane. - atendi e ouvi sua voz chorosa.

- Meu filho, onde você tá? - ela perguntou com a voz trêmula e eu me preocupei.

- Eu tô no hospital com Cauê. E a senhora? Tá tudo bem?

- Eu tô aqui na UPA, eu... tô te avisando porque não fui trabalhar hoje, eu acabei caindo da escada, me bati toda.

- Caiu da escada? - perguntei desconfiado.

- S...sim, agora pouco. Acho que quebrei alguma coisa.

- Se preocupa não, tira essa semana de folga, vai num hospital particular e me envia a conta depois.

- Claro que não, Rafael. Já vou ser atendida aqui. - ela contextou.

- Vou mandar um carro aí onde a senhora tá e não questiona não, UPA vai só passar remédio e mandar a senhora pra casa. Vai pro particular e qualquer coisa pode ligar. - ela suspirou.

- Tudo bem, filho. Eu vou esperar. - ela se deu por vencida e eu logo liguei pra um dos meus contatos ir até lá buscar ela na UPA e levar no hospital.

Fiquei no quarto algum tempo ainda, até que Cauê finalmente acordou e mal conseguia falar porque estava com a garganta seca. Pedi pra trazerem água pra ele e ele bebeu desesperado.

Falei pra Felipe avisar alguém da família dele e viessem acompanhar ele aqui durante os dias que ele vai ficar, porque não tem condições de eu ficar aqui vinte e quatro horas, eu tenho compromissos a serem cumpridos.

A tia dele chegou alguns minutos depois, apertou minha mão e garantiu que cuidaria de Cauê. Saí do hospital direto pra casa, no primeiro sinal vermelho deixei uma mensagem pra Maria Eduarda.

"Tô indo pra casa, minha noite foi longa. Rola uma praia amanhã?"

Bloqueei o celular e continuei dirigindo até meu prédio. Outra mensagem chegou e eu peguei rápido pra ver de quem era a mensagem, vi que era o vapor que eu mandei buscar dona Jane na UPA.

"Chefe, isso não foi queda de escada não. Até o olho dela tá roxo, e ela não quis que eu chamasse ninguém pra acompanhar. Tá estranho isso."

"Deixa que eu resolvo. Valeu." - respondi a mensagem dele e fiquei pensativo. O que será que dona Jane anda escondendo?

Segunda feira eu iria tirar isso a limpo.

(...)

MARIA EDUARDA.

Acordei no sábado com Diana batendo na porta pra limpar meu quarto, isso me fez acordar estressada mas logo eu tomei um banho e o estresse passou. Eram nove da manhã quando Clara chegou na minha casa pra contar uma fofoca do trabalho do meu pai que ela ficou sabendo porque um primo dela trabalha lá.

- Sabe o que aconteceu na sexta? Que o seu pai teve que sair tarde da noite pra resolver?

- O que aconteceu? - perguntei.

- Marcos disse que uns caras mascarados entraram pra roubar um material deles na delegacia e eles atiraram pra cima dos ladrões. Um ele acha que morreu. - ela conta animada.

- Ainda bem que eles conseguiram revidar. E os caras conseguiram levar o material?

- Conseguiram, levaram tudo de lá. Por isso seu pai foi chamado, porque ele era o responsável.

"Tô indo pra casa, minha noite foi longa. Rola uma praia amanhã?" - meu celular notificou essa mensagem chegando e meu coração bateu mais forte.

Não respondi na hora pra não parecer desesperada, mas alguns minutos depois eu mandei a minha resposta.

"Rola sim, nos encontramos lá?" - digitei.

- Que sorrisinho é esse? - Clara sussurrou.

- Nada. Algo engraçado que eu vi. - ela me olhou desconfiada e se aproximou do meu celular pra tentar ler a mensagem.

- Seu algo engraçado se chama "Rafael"? - ela quase grita. - Você não me conta mais nada, quem que é esse cara?

- Te falei sim. Conheci ele depois da festa de sábado passado. Estamos nos conhecendo, saímos ontem, nos beijamos. - falei rápido a última parte pra que ela não entendesse, mas entendeu.

- Você beijou ele? Meu Deus eu não acredito. Finalmente tirou as teias de aranha da boca, agora só falta de outro lugar, se é que me entende. - ela subia e descia as sobrancelhas com uma cara sacana.

- Cala a boca. - eu ri dela. - Eu beijei ele, e ele beija muito bem por sinal. Amanhã vamos sair de novo.

- Amanhã você vai dar pra ele? - olhei de cara feia pra ela. - Não me olha assim, eu sei que você quer, se não quisesse não teria beijado ele.

- Eu não sei, acabamos de nos conhecer. Não posso confiar de primeira, você sabe que eu não sou assim. - ela assentiu e eu dei graças a Deus por não dar seguimento ao assunto.

"Eu passo pra te buscar. Dez horas vou estar aí."

Respondi com uma figurinha e guardei o celular.

Clara me fez companhia no almoço, Diana almoçou com a gente também, depois de muita insistência. Conversamos enquanto comia o filé a parmegiana que a cozinheira havia feito.

Clara ainda me chamou pra uma festa de noite, mas eu recusei porque precisava descansar.

Passei o dia inteiro assistindo série, comendo pipoca e mexendo nas minhas redes sociais. Ás oito eu já estava com sono, por isso me recolhi e apaguei.

O CHEFE DO TRÁFICOOnde histórias criam vida. Descubra agora