Capítulo 58

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RAFAEL DIAS - duas semanas depois...

Porra, finalmente eu estava em casa. Eu deveria ter pego alta há uns dias, mas deu complicação nos meus exames e eu precisei ficar mais tempo no hospital. Mas hoje eu saí e estava feliz pra caralho. Mesmo tendo perdido tudo, eu ainda tinha tudo, minha mulher e meu filho comigo.

E materialmente falando, a única coisa que ainda estava comigo eram três dos meus carros que eu não coloquei no meu nome, as casas nos morros, e a metade do valor que eu tinha colocado em uma conta da Madu sem ela saber, se ela souber vai me fazer mil questionamentos e eu prefiro explicar tudo pra ela.

Falando nela, a minha mulher estava radiante com o nosso bebê e feliz da vida com o bebê de Ester que tinha nascido no dia que eu acordei no hospital, e nós dois fomos escolhidos pra ser padrinho. Preciso nem dizer que Cauê ficou morrendo de ciúme, mas já superou.

Era um molequinho, Henrique. Felipe estava bobo demais e eu não poderia zoar muito porque eu seria o próximo.

Nossa menina estava bem, saudável. De acordo com a médica, Madu precisaria ir no médico uma vez por semana pra ver a neném e pra ver as vitaminas que ela precisa tomar.

Na volta pra casa ela estava em um chororô por eu estar finalmente saindo do hospital, dizendo ela que estava chorando de gratidão, mas eu sabia que eram os hormônios.

Ela dirigia tranquila enquanto eu ia no banco do passageiro, sua mão tava na minha perna e eu coloquei a minha por cima. Não dirigir era horrível pra mim, eu gosto de estar no volante, mas até que ela não dirigia tão ruim.

- Linda... - chamei a atenção dela que me olhou rápido e voltou a atenção pro transito. - Você ainda aceita fazer aquela viagem pra Floripa?

- A gente precisa né? - ela falou e eu concordei com a cabeça. - Vamos amor.

- Quando eu não precisar dessa porra de moleta pra andar nós vamos. Eu te prometo. - eu disse e ela sorriu.

- Vou te lembrar. - ela brincou e seguiu viagem.

Os próximos minutos foram longos, mas logo estávamos na nossa casa na Rocinha. O morro era independente, porque não tinha mais conselho, não tinha mais ninguém com eles. Rei estava aqui na Rocinha, sendo torturado todos os dias, passando frio, fome e bem perto de morrer. Hoje ainda eu iria lá com Madu, ela fazia questão de ver como ele estava e o único pedido dela foi dar o tiro que mataria ele.

Obviamente eu não deixei, até porque ela estava em uma gravidez de alto risco, não podia se estressar. Por isso, eu mesmo atiraria. Sem pudor, como ele disse.

Ela saiu do carro e eu peguei as duas muletas no banco de trás me apoiando e indo em direção a casa.

- Precisamos de uma casa nova. - falei e ela me olhou.

- Eu meio que resolvi isso... - ela deu um sorriso amarelo e eu olhei sem entender. - Peguei uma parte do dinheiro que você colocou na minha conta, juntei com um dinheiro que eu tinha e comprei uma casa. Num condomínio de alta segurança em Angra. Longe de tudo, mas perto dos nossos.

- Por isso eu te amo, mulher. - beijei a cabeça dela e parei pra pensar. - Como descobriu do dinheiro? Você nem usava aquela conta. - me sentei no sofá.

- Eu tentei pagar a conta do hospital com o seu cartão e não passou, mas passou com o meu que tava na minha carteira. Fiquei em duvida e abri o meu banco pelo seu celular. - ela explicou e eu ri negando a cabeça.

- Eu deveria ter colocado em outra conta. - falei e fechei os olhos ouvindo o som da risada dela.

- Eu ia descobrir de qualquer jeito.

(...)
- Vamos linda. - peguei as benditas muletas e andei até a porta da casa que ela abriu a porta. - Tão cavalheira.

- Os papéis estão invertidos por enquanto.

Rimos e ela foi até o carro abrindo a porta e me ajudando a entrar, mas sem fazer esforço.

Estamos indo no Felipe ver o bebê dele que já estava em casa. E eu aproveitaria a carona pra acabar logo com Rei, o cara merecia sofrer até implorar pra morrer, e foi isso que fizeram, mas o filho da puta ainda sobreviveu.

- Tô tão animada pra ver o pitoco de gente. - ela apelidou ele e eu sorri. - E pessoalmente, não mais por foto.

Ela deu partida no carro e chegamos rápido na casa de Felipe que estava na frente nos esperando.

- E aí, família. Saudade de vocês. - essa era a primeira vez que estávamos nos vendo desde que tudo aconteceu. Ele fez toque comigo e me abraçou de leve sem apertar muito. - E aí buchudinha, preparada pra ver teu afilhado?

- Nasci pronta. - ela brincou e entramos na casa.

- Ester foi só trocar a roupa dele, mas senta aí pô. - ele apontou pro sofá. - Como vocês estão?

- Estamos bem, nos recuperando.

- E a bonequinha? - ele olhou pra barriga de Madu. - Irmão tu tá ligado que se meu filho quiser namorar tua filha no futuro, eu vou deixar!

- Eu não tô ligado coisa nenhuma. Minha filha não vai namorar. - eu falei e Madu gargalhou. Olhei pra ela sem entender e ela me olhou rindo.

- Nossa filha tem uma mãe legal e vai deixar ela namorar, mas depois dos dezoito. - ela me encarou e eu revirei os olhos.

- Não quero falar sobre isso, a criança ainda nem nasceu. - eu bufei e cruzei os braços.

Felipe olhou divertido pra Madu e eles riram da minha cara.

- Acho que daqui consigo ver um cabelo branco na sua cabeça cara. - dei o dedo do meio pra ele e ficamos em silêncio quando Ester veio com um pacotinho nos braços e colocou o indicador na frente da boca pra que a gente ficasse quieto.

A primeira a pegar ele no colo ainda sentada no sofá, foi Madu. Com muito cuidado e meio sem jeito ela o pegou e cheirou sua cabecinha. O bebê deu uma mexida que deixou ela assustada, mas logo voltou a dormir tranquilo.

O CHEFE DO TRÁFICOOnde histórias criam vida. Descubra agora