Capítulo 22

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RAFAEL.

- Cara, vê pra mim aquela minha casa na rua 10. Deixa ela impecável, já tô chegando aí. - falei no telefone assim que Cauê atendeu.

- Bom dia pra você também meu patrão. - ele fez graça.

- Tenho tempo pra gracinha não, Cauê. Arruma pra mim, pra ontem.

- Que porra te mordeu? - não respondi. - Vou mandar irem lá pra ver se tá tudo certinho.

- Beleza, daqui a pouco colo aí e a gente conversa. - ele concordou e desligou em seguida.

Abrir o jogo pra Maria não foi fácil, mas foi necessário. Agora a decisão vinha dela, se ela iria ou não se distanciar de mim. Claro que o que eu quero é que ela fique aqui em segurança, mas também não posso ser filho da puta que nem o pai dela de deixar ela trancada dentro de casa como se fosse uma prisioneira, ela só queria liberdade e eu entendi isso muito bem.

Não queria que ela fosse pra um lugar desconhecido, apesar de eu conhecer o dono do morro da Penha que é onde a amiga dela mora, eu preferia que ela ficasse em um lugar onde eu confiasse de olhos fechados. E confio em Cauê. Difícil vai ser fazer Madu confiar também.

Entrei no quarto onde ela tava rindo de alguma coisa com dona Jane e fiquei feliz por ela estar rindo abertamente assim.

- Vamos? - falei e as duas perceberam minha presença e a mais nova assentiu.

Peguei a mochila de Madu mesmo não querendo que ela saísse.

- Já volto dona Jane.

- Tá bom, meu filho! Até logo, pequena. - ela acenou pra Madu que riu e acenou de volta.

- Foi um prazer conhecer a senhora, até logo.

Me enchi de esperança com essas últimas duas palavras.

Maria passou na minha frente, eu fui atrás com sua mochila. Peguei a chave de um dos carros no armário de chaves e descemos pra garagem do prédio.

Maria Eduarda estava na minha frente e acabou cambaleando, quase caindo. Mas eu puxei sua cintura pra que não se estabanasse no chão.

- Madu...

- Eu só to fraca ainda, desculpa.

- Me promete que não vai pular nenhuma refeição? Vai comer direito e vai se cuidar.

- Eu prometo, vou me cuidar sim.

- Lá na Rocinha tem um posto. Vou marcar umas consultas pra você e uns exames também.

- Tudo bem! - falou e entrou no carro depois que eu abri a porta pra ela.

Dei a volta e sentei no banco do motorista e dirigi até a Rocinha. Estava um silêncio, se eu prestasse bastante atenção, conseguiria ouvir os pensamentos de Madu, ela olhava a janela e não desviava o olhar dali. Estava bem concentrada em ver as ruas do Rio de Janeiro.

Poucos minutos depois nós chegamos e eu fui logo pegando a mochila dela que deixei no banco de trás. Abri a porta pra ela e percebi alguns olhares pra mim e pra mulher que tava andando na minha frente. Madu era pequena em estatura mas seu corpo chamava atenção, ela estava mais magra, mas isso não deixou ela menos gostosa.

- Dá pra parar de me olhar? - ela disse ainda de costas, e eu ri sem que ela percebesse. Ela entrou na casa e olhou cada canto ao redor. - De quem é essa casa?

- Minha. Você vai ficar aqui enquanto pensa bem no que eu te falei mais cedo, qualquer coisa pode mandar mensagem, qualquer coisa mesmo. - entreguei o celular pra ela. - Meu número já tá salvo e acredito que você já sabe que nessas circunstâncias é melhor não dar seu contato pra mais ninguém.

- Não conheço ninguém aqui.

- Na verdade, eu...

- Cadê tu meu patrão? Fiquei sabendo que já chegou no meu... - Cauê chegou gritando mas se calou quando deu de cara com Madu. - Eita, porra. Porque tu não me avisou que ela era a nova moradora, Rafael?

Maria Eduarda olhava pra ele e pra mim com um olhar mortal.

- Rafael... O que tá acontecendo? - ela me perguntou baixinho.

- Cauê é de confiança...

- CONFIANÇA? - ela gritou e eu me assustei porque ainda não tinha visto ela nessa versão enraivada. - O cara que me drogou é de confiança pra você?

- Ei baixinha, eu queria pedir desculpas inclusive. Fiz errado em te apagar, nem pensei nas consequências. Desculpa aí, de verdade. Vou ficar na minha, vou nem chegar perto de ti.

- Fique bem longe mesmo. - ela saiu de perto indo ver o resto da casa e eu olhei pra Cauê como quem dizia "não vou me meter", ele levantou os braços em sinal de rendição e eu ri.

- Mas o que aconteceu pra trazer ela pra cá? - ele perguntou.

- Ela vai precisar ficar fora de casa por um tempo e eu abri o jogo pra ela sobre quem eu sou, ela quer distância de mim também, mas aceitou ficar aqui. - expliquei superficialmente. - Fica de olho nela pra mim cara, tô confiando em você. Não deixa ninguém se aproximar, eu não sei a intenção de ninguém aqui.

- Conta comigo, tu é meu brother. Vou deixar ninguém perto da princesinha não. - eu ri e ele fez toque comigo. - Eu vou indo, irmão. Tu vai aparecer aqui no baile né? - ele foi caminhando pra porta mas esperou uma resposta.

- Venho. - ele assentiu e foi embora.

Procurei Madu pela casa e ela estava no banheiro se olhando no espelho. Cheguei por trás dela e vi que ela tava se segurando pra não chorar.

- Ei, linda... O que foi? - ela negou com a cabeça me olhando através do espelho.

- Não é nada, eu só tô cansada. - ela falou desviando o olhar do meu.

E mesmo sabendo que ela tava puta comigo eu me arrisquei a abraçar ela por trás, passei meus braços ao redor da sua cintura na posição que estávamos mesmo e beijei sua cabeça vendo que ela fechou os olhos.

Ela abriu novamente e estava olhando pra nós dois pelo espelho e eu sorri pra ela.

- Não vem com esses sorrisos fajutos pra cima de mim. Eu ainda tô com raiva da sua cara.

- Mas não consegue se afastar, né? - ela estreitou os olhos pra mim. - Você não tem nada a perder estando perto de mim, linda, eu sou só lucro. - ela riu negando com a cabeça.

O CHEFE DO TRÁFICOOnde histórias criam vida. Descubra agora