Capítulo 21

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MARIA EDUARDA.

- Nós podemos conversar sobre isso depois do café. - ele me falou e eu assenti. Dona Jane voltou pra perto de nós com algumas coisas pra comer mas eu sinceramente não sentia fome.

Mas mesmo sem fome nenhuma eu comi alguns pães de queijo com café preto que estava uma delicia, Rafael comeu em silêncio assim como eu.

Dona Jane ficou na cozinha e Rafael e eu fomos pro quarto pra conversar, como o combinado, ele parecia nervoso e tenso, e por isso eu também fiquei nervosa com  que ele queria contar.

- Então... - o incentivei quando sentamos na cama.

- Eu quero que você me ouça, ouça com atenção. Porque não vai ser fácil fazer o que eu vou fazer agora. Eu vou abrir o jogo com você, algo que eu não fiz com quase ninguém. - assenti e fiz sinal pra que ele continuasse. - Porra eu não sei nem como falar isso sem te assustar. Mas eu não sou quem você pensa que eu sou, eu escondi isso porque minhas intenções com você eram outras, mas acabou que nada deu certo. - ele respirou fundo. - Eu não tenho empresa nenhuma, não trabalho com isso, na verdade eu... sou comandante do tráfico de drogas do Rio de Janeiro, trabalho pro PCC, Cauê e Felipe que estavam aqui ontem são meu braço direito, meus irmãos. Cauê foi quem drogou você na noite da festa da faculdade, a atitude dele não foi das melhores, mas hoje ele se arrepende e não tem orgulho do que fez.

Meus olhos se arregalaram e minha cabeça não queria processar o que eu acabei de ouvir.

"Comandante do tráfico de drogas do Rio de Janeiro"? Caramba.

- Quais eram suas intenções? - perguntei e na minha voz eu só conseguia demonstrar a raiva que eu sentia. Decepção, rancor, chateação. - E porque deu errado?

- Madu... - ele negou com a cabeça como se dissesse que eu não gostaria da resposta.

- Me responde. - falei mais irritada ainda.

- Minha intenção era atingir teu pai através de você, ele também não é flor que se cheire, não tá nem perto de ser alguém que merece respeito. Deu errado porque na verdade eu descobri que você não é como ele em nada, porra você é foda demais, tava te curtindo e acabou acontecendo o que aconteceu, mas eu não me arrependo de nada.

Nada do que ele dissesse anularia a raiva que eu tava sentindo agora, era como se nos últimos dias eu tivesse vivido uma mentira. Sou grata por ele ter me tirado de casa, mas eu não podia ficar aqui, não poderia me colocar em risco desse jeito. Quem garante que ele realmente não quis dar continuidade no plano maluco dele.

- Eu quero ir embora. - falei baixo olhando nos olhos dele.

- Você não precisa, Madu. Pra onde vai? - ele disse e tentou pegar minha mão mas eu recuei.

Pensei e não poderia ir pra casa de Clara porque meu pai vai saber que eu fui pra lá, e muito menos posso voltar pra casa como se nada tivesse acontecido. Eu estava em um dilema difícil de resolver.

Diana poderia me acolher por enquanto, pelo menos até a poeira baixar.

- Eu vou ficar um tempo na casa de Diana. Lá o meu pai não vai me procurar.

- Ele veio aqui hoje, ele tá louco atrás de você Madu. É arriscado que ele te ache e faça pior do que fez dessa última vez. Ele sabe que você tá aqui, mas é impossível te tirar desse prédio sem que eu saiba, enquanto você estiver lá fora, você vai estar correndo risco. Eu não vou te prender aqui, mas preciso te alertar que se sair, não vai estar mais sob a minha proteção e eu não vou poder fazer nada pra impedir seu pai de te pegar de novo.

Assenti compreendendo, mas eu ainda queria ir embora.

- Eu entendo o seu lado, mas eu não posso ficar aqui Rafael. Não posso depender de você. Eu mal conheço você, e depois de tudo o que você me disse, aí que eu não conheço mesmo, não é prudente que eu fique aqui.

- Você tem razão, eu vou te deixar ir mas com uma condição. Você vai ficar em uma casa na Rocinha, onde eu consiga te acompanhar.

- Rafael...

- Essa é a minha condição.

Suspirei me dando por vencida antes de responder. - Tudo bem, eu aceito.

- Eu vou pedir pra arrumarem tudo pra você ir pra lá hoje a tarde. Foi mal por ter escondido de ti, tenta entender meu lado.

- Eu entendo, entendo sim. - falei simples e me levantei pegando minha mochila e guardando minhas coisas.

- Não se distancia de mim não, Madu. Eu tava curtindo o que a gente tava desenrolando. - eu o olhei e ele tava perto de mim, podia ver sinceridade nele, em tudo o que ele falava.

- Eu só preciso pensar, Rafael. Só isso...

- Eu vou deixar um celular contigo com o meu número salvo, me manda mensagem. Eu vou te levar lá, espera só eu ligar pra alguém ajeitar pra você.

Assenti e ele saiu do quarto me deixando sozinha com meus pensamentos. Dona Jane entrou no quarto alguns minutos depois e eu já tinha terminado de arrumar minhas coisas

- Já vai minha filha? - ela perguntou dobrando alguns lençois.

- Daqui a pouco, estou esperando o Rafael. - ri pra ela e a ajudei com algumas outras coisas mesmo ela resmungando que não precisava.

- Ele é um menino de ouro, conheço ele há muito tempo e sempre teve esse jeito de menino, mesmo tendo muitas responsabilidades.

Me perguntei se ela sabia da verdadeira identidade dele, mas acredito que não saiba de nada.

- Ele é sim. - dei um meio sorriso e continuei dobrando as roupas que ela deixou em cima da cama.

- Não precisa dobrar não, filha. Pode deixar comigo.

- Não dona Jane, eu vou ajudar. - ela bateu na minha mão e eu ri mas não parei de dobrar.

O CHEFE DO TRÁFICOOnde histórias criam vida. Descubra agora