Capítulo 23

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MARIA EDUARDA.

Rafael tentou dormir aqui essa noite de todas as formas mas eu não quis, então ele foi embora assim que eu deitei na cama que era extremamente confortável e ainda tinha seu cheiro, me obrigando a lembrar dele toda vez que eu respirava.

Se me dissessem que hoje eu estaria hospedada na casa de um quase desconhecido, numa favela, que eu estava fugindo do meu pai e que esse desconhecido seria o comandante do tráfico do Rio, eu iria rir da cara da pessoa. Porque isso tudo é uma revira volta e tanto na minha vida.

Acordei no dia seguinte mais disposta, tomei um banho e lavei meus cabelos com os produtos que tinha ali. Eram todos masculinos mas deu pro gasto.

Andei pelo corredor até encontrar a cozinha e tinha de tudo nos armários, eu sabia fazer o básico na cozinha, meus pais me acostumaram a sempre ter gente fazendo por mim e isso acabou me deixando dependente dos outros.

Fiz meu café da manhã e comi, peguei o celular que Rafael deixou e vi que tinha uma mensagem dele.

"Bom dia, linda. Já tomou café?" - neguei com a cabeça, ele está agindo como se nada tivesse acontecido.

"Bom dia. Já sim!" - ele visualizou na hora e começou a digitar.

"Deixei o armário abastecido pra umas duas semanas, mas se faltar alguma coisa me avisa."

"Pode deixar"

"Daqui a pouco vou aí, quer alguma coisa?" - mesmo estando muito chateada, eu reconhecia que Rafael era um cara atencioso, podia ser o que era, mas sabia como tratar uma mulher.

"Acho que não, mas obrigada!"

"Não esquece da consulta no postinho, marquei pra onde horas."

Eu mandei um beleza pra ele que visualizou e não respondeu mais. Saí da casa ás dez e meia, indo até o postinho de acordo com as informações que Rafael me passou. Fui rapidamente atendida quando falei meu nome e a recepcionista acelerou o processo. Fiz exames, passei com uma médica que me deu algumas broncas e me receitou os medicamentos e suplementos pra repor o tempo que fiquei sem comer.

Agradeci e ela pediu pra eu não demorar pra voltar. Voltei pra casa caminhando novamente, tomei outro banho pra tirar o cheiro de suor e hospital e voltei pra sala. Já eram quase meio dia, estava um sol lá fora e vi que aqui na frente tem uma sorveteria que vende açaí. Peguei um trocado que estava na minha mochila e fui lá.

Fiz meu pedido, paguei e me sentei pra comer.

Um grupo de meninas entrou e me olhou de cima a baixo, uma delas se aproximou e se sentou na cadeira da mesa que eu estava sentada.

- E tu, mona? Veio da onde? - olhei estranho e continuei comendo meu açaí ignorando a presença delas. - Tô falando contigo piranha.

- Ei, eu tenho nome. Tá me chamando assim porquê? O que eu te fiz? - ela riu debochada e as amigas dela também se aproximaram da mesa.

- Eu vi tu chegando aqui com o Rafa ontem na casa dele. Abre o olho, viu, princesinha? Se eu ver você dando em cima do meu homem tu vai ver só. Fica esperta.

Olhei pra ela séria e ignorei de novo voltando a comer meu açaí, mas ela bateu na minha mão fazendo o copo de açaí virar na minha blusa branca. Eu já não estava num dia bom, essa garota veio me testar, só pode. Eu demoro pra me estressar, mas quando me estresso, ninguém aguenta.

- Qual teu problema garota? - eu perguntei me levantando. - Que saco, vai estudar, fazer alguma coisa da vida ao invés de ficar batendo de frente comigo por causa de homem. Eu não devo satisfação de nada pra você, nem te conheço, mal sei teu nome e nem me interessa também. A ultima coisa que eu vou fazer na vida é roubar macho dos outros, eu tenho dignidade o suficiente pra ser primeira opção, não a segunda, terceira e daí por diante. E eu sinto muito se você se submete a essa posição.

- Você tá avisada. - ela apontou o dedo na minha cara e eu ri anasalado negando com a cabeça, saindo dali com ódio. Odeio discutir, mas também odeio que me tratem com a falta de respeito que aquela menina me tratou. Ela me tirou do sério.

Atravessei a rua no mesmo momento que vi o carro de Rafael virando a esquina. O grupinho começou a cochichar e eu revirei os olhos entrando em casa. Tirei a camisa suja e joguei no cesto pra lavar depois, Rafael entrou em casa e eu estava só de sutiã bufando ainda com muita raiva.

- Eita, gostei disso - ele riu.

- Não enche, Rafael. - falei indo pro quarto e senti que ele veio atrás de mim.

- Ei, o que eu te fiz? O que rolou? Vi que tava na sorveteria e saiu de lá parecendo que ia matar alguém. - eu olhei pra ele que olhou pro meu peito e eu tapei com a mão. - Não tem nada aí que eu já não tenha visto.

- Vê se controla essas garotinhas que você namora. - apontei e continuei andando.

- Eu não namoro ninguém, linda. Não tô entendendo.

- Uma garota que veio bater de frente comigo por causa de você, mandando eu parar de dar em cima de você. - fui pro guarda roupa procurar outra camisa e ele sentou na cama.

- Deve ser a Bianca, ela me irrita. Nunca nem ficamos e nem vamos ficar. - ele disse deitando relaxado, me irritando ainda mais.

- E ela sabe disso? Porque ela tem certeza que você é dela. - ele riu e continuou me olhando.

- Ela não precisa ter certeza de nada. Eu não sou de ninguém. - agora ele levantou da cama e veio até mim, afastando meu cabelo e abrindo espaço pra beijar meu ombro e subir pro pescoço.

- Dá pra você parar? - me afastei e ele me olhou sem entender. - Tá aí fingindo que nada aconteceu. Eu falei que queria pensar, mas é difícil com você aqui.

- Eu avisei que viria aqui, linda. E você não falou nada, quem cala consente, certo? - cerrei os olhos e bufei irritada, eu sabia que ele estava certo.

A verdade é que não importa o quão longe de mim ele esteja, eu não consigo pensar em outra coisa. Rafael ainda ia me deixar louca.

- Como foi a primeira noite aqui? - ele passou a mão na minha cintura que ainda estava nua porque eu estava sem camisa e me virou pra ele.

Me mantive intacta, não me movi. O infeliz sabia o que me causava e usava isso contra mim.

- Foi boa, sua cama é confortável. - resolvi entrar no jogo dele e falei baixinho contra sua boca.

- Quer experimentar outra coisa além de dormir nela? - ele riu sacana e eu revirei os olhos empurrando ele.

- Tarado, você não pensa em outra coisa? - ele negou com a cabeça e tentou me roubar um beijo mas eu virei o rosto e ele beijou minha bochecha.

Vesti outra camisa e sentei na cama, ele ficou me olhando.

O CHEFE DO TRÁFICOOnde histórias criam vida. Descubra agora