Capítulo 16 - O fim de uma era

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Tremendo. É assim que passo a maioria das minhas noites quando estou em crise e me sinto um bobo. Abro a janela do quarto e olho pro céu estrelado, respiro fundo, pensando no que vou fazer depois de sair do internato. Faltavam poucos meses e eu teria que me decidir. Volto para a casa dos meus pais? Fico por aqui mesmo? Arrumo um emprego? Faculdade? São as perguntas mais frequentes em minha cabeça.

Eu definitivamente não poderia voltar para a casa dos meus pais, por mais que já tivesse passado um tempo desde do incidente do hospital, meu pai não ia querer me ver nem pintado de ouro e eu muito menos queria ver ele perto de mim. Todo esse tempo em terapia me ensinou muita coisa e uma dessas coisas foi não me sentir culpado por não querer manter contato com uma pessoa que me fez mal no passado. Ficar por aqui não seria uma boa opção, porque não faria muito sentido para mim. O resto das perguntas eu não conseguia responder, apenas pensar sobre elas. Eu almejo terminar o meu ano letivo em paz e ver o que a vida me proporcionará no futuro depois disso.

Eu e Christopher não nos falamos faz uns dois meses, acredito que ele esteja muito ocupado na Itália, o mesmo está construindo a sua própria galeria de arte, o italiano não me contou muitos detalhes, mas fico feliz por ele. Eu não sei quando nos encontraremos de novo, meu coração anseia por esse momento, meus sentimentos por ele nunca se dissiparam, apenas aprendi a amá-lo do jeito certo.

Não sei se ele me ama, se ainda me deseja, se dorme pensando em mim, eu realmente não sei. Abro a última carta que ele me mandou há alguns meses atrás.

Querido Benjamin, não mostre essa carta ao Henry, mas eu preciso dizer que sinto a sua falta todos os dias, amore mio. Você é a minha necessidade diária, sem você eu não sou completo, eu sou metade, algo que não quero ser, eu quero ser inteiro. Você tem em seus olhos o mais incrível brilho da estrela vivída, eu faria de tudo para estar ao seu lado agora, fazer você feliz, cuidar da sua alma e de cada canto existente em ti. Meu querido Ben, você é o meu vênus, meu sol, meu universo, minha felicidade, eu vou voltar por você.

Christopher.

Eu carrego essa carta comigo para todo o lugar que vou, na esperança que ele volte pra mim. Que ele me faça feliz, que cuide da minha alma, porque eu preciso dele o tanto quanto ele precisa de mim.

Aprendi italiano o suficiente para conseguir conversar de uma forma simples, o italiano até me ensinou umas gírias engraçadas.

Henry se remexe na cama me assustando subitamente. O ignoro e volto a olhar o céu, por mais que eu odeio negar, Henry tem sido um ótimo amigo nesses últimos tempos, ele foi muito paciente comigo. Antes ele estava grudado em mim o tempo todo como chiclete, mas ao passar da minha época sombria da minha vida, ele foi relaxando e me tratando novamente, sem parecer como uma mãe desesperada.

Comecei a escrever, uma das boas formas que arranjei para libertar os meus sentimentos, pois como Clarice Lispector disse uma vez: "Perdi muito tempo até aprender que não se guarda as palavras, ou você as fala, as escreve, ou elas te sufocam." Eu também aprendi.

" Eu também aprendi

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É hoje. O dia que tenho que me despedir do internato de uma vez por todas. A maioria dos alunos já estão partindo, mas eu aproveito o tempo que me resta para visitar todos os lugares possíveis pela última vez.

Primeiro passo no refeitório, o lugar onde tomei os melhores cafés pela manhã, bem perto dali vou até a árvore onde conheci Henry, durante uma boa época eu me encostei ali e li meus livros durante horas. Caminho até a sala de artes onde tive as melhores memórias com Christopher, as pinturas dele ainda estão penduradas na parede. Me despeço do máximo de pessoas que consigo, logo após, subo para o quarto, que acredito que seja para mim, um dos lugares mais difíceis de dizer adeus. Nesse quarto eu vivi tantos momentos de alegria e de tanta dor.

Os pôsteres do Bruno Mars e do Van Gogh continuam no mesmo lugar que Christopher deixou, começo a retirá-los com cuidado, até mesmo as pinturas, pois sei que os estudantes que se apossarem desse quarto irão tirar de qualquer jeito. Guardo tudo em uma bolsa junto com as minhas coisas que irei levar para o meu apartamento, sim, você não leu errado, minha mãe conseguiu alugar um apartamento simples na minha cidade Natal e para lá irei. Ainda não descobri qual curso que eu poderia fazer na faculdade, então por enquanto, estarei procurando um emprego. Olho ao redor me despedindo mentalmente daquele lugar, pego minhas coisas e fecho a porta. "Eu nunca irei me esquecer desse lugar." Digo para mim mesmo.

Entrego a chave do quarto a senhorinha da recepção e me despeço dela também com um longo abraço. Quando já estou fora do internato, encontro Henry parado encarando o chão.

─ O que tem de tão interessante no chão? ─ Pergunto o encarando. Ele me olha de imediato e solta uma risada fraca.

─ Ah, eu só estava refletindo.─ O loiro diz dessa vez olhando os carros passarem na avenida.

─ Em que? Me conta.

─ A gente passou anos da nossa vida aqui e agora estamos dizendo adeus.

─ É doido, né? Principalmente se acostumar com uma nova rotina. O que você vai fazer depois daqui? ─ Pergunto chutando uma pedra qualquer.

─ É, eu vou voltar para minha cidade Natal e tentar a faculdade de medicina.

─ Nossa, Henry. Isso é incrível! ─ Digo surpreso, eu não fazia a menor ideia desse interesse do rapaz.

─ É mesmo, né? Quero ajudar as pessoas.

─ Tenho certeza que você vai conseguir.

─ Obrigado, Ben.

Ficamos em silêncio. E agradeço mentalmente por ele não perguntar o que irei fazer, pois não parece nem um pouco incrível comparado ao que ele quer.

─ Você acha que ele vai voltar? ─ Ele pergunta baixinho.

─ Ele quem?

─ O Chris, você sabe...

─ Ah, eu realmente não sei, ele nunca mais mandou notícias. ─ Percebo que Henry sente tanta falta do Christopher quanto eu.

─ Uma pena. Espero que ele volte.

─ Eu também, de verdade. ─ Digo segurando firme as minhas coisas. ─ Eu tenho que ir agora, não posso perder o metrô.

─ Tchau Benjamin. ─ Ele me abraça e o abraço também.

─ Tchau Henry, até algum dia. Obrigado por tudo. ─ O abraço novamente e vou embora.

Chego a tempo de pegar o metrô tranquilamente. Me sento perto da janela para observar a praia, onde tenho memórias incríveis também. Sinto um sentimento de tristeza misturado com alegria. Vou sentir muita falta do internato, mas nem tudo na vida dura para sempre e está tudo bem. Me agarro às boas lembranças e cumprimento a nossa fase da minha vida. A fase adulta.

A cor mais quente em VênusOnde histórias criam vida. Descubra agora