human

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human by Christina perri

Nossa querida Rosinha precisa do apoio de vocês.

...

Rosamaria POV

Só pode ser um pesadelo. Depois de começar meu tratamento nas férias, achei que nunca mais sentiria essa sensação de novo. Mas me vi em um dejavu quando me faltaram forças durante o treino, a dor no abdômen causando ânsia de vômito, a visão querendo escurecer. Nesse momento, só me viam as palavras do meu médico, "o tratamento não é uma cura". Queria ter voltado no tempo e não ter bebido aquele shot de tequila na sexta, os efeitos dele misturado com meus remédios fizeram um reboliço em mim durante o fim de semana e ainda não passou, pelo visto.

Não abri a boca pra nada desde que Roberta me arrastou da quadra e me levou pro quarto, ligou o ar condicionado no máximo e ficou me abanando e oferecendo água e uma banana. A verdade era que se eu falasse, ou tentasse comer algo, eu iria vomitar e depois que eu começo, não tem previsão pra parar.

Nesse meio tempo, eu consegui cochilar de tão baixa que minha pressão estava. Acordei não muito tempo depois com Roberta me sacudindo, abri os olhos assustada e vi que ela tinha minha bolsa de remédios na mão.

"Qual desses você toma?" Ela perguntou como se adivinhasse que eu os tomava frequentemente. Me sentei quando percebi que meu estômago já não revirava dentro de mim. Ela abriu o zíper da bolsinha e eu peguei as três cartelas que tomava no horário de almoço. Ela arregalou os olhos mas disfarçou quando eu a olhei, pegou a garrafa d'água e tirou as cartelas da minha mão me ajudando a tirar os comprimidos.

"Brigada." Falei engolindo os remédios com ajuda da agua.

"Brigada nada, cê vai me contar agora mesmo o que tá acontecendo!" Ela falou colocando a garrafa com agressividade em cima da mesinha de cabeceira. "Desde que você chegou de BH que você tá assim."

"Comi alguma coisa que me fez mal-." Tentei uma desculpa e ela logo me interrompeu.

"Se fosse isso você ia tá se cagando e não quase desmaiando em um treino. Vai, Rosamaria, eu tô falando sério, me conta!" Ela cruzou os braços e insistiu. Eu suspirei e passei a mão na têmpora tentando ignorar a dor de cabeça. "Eu não vou contar pra ninguém." Falou mais suavemente e sentou na minha cama.

Meus olhos encheram de lágrimas, mas não por tristeza porque eu já tinha me conformado, mas por temer como seria aquela conversa. Odeio pessoas me tratando como se eu fosse debilitada, como se eu tivesse uma doença terminal ou como se eu tivesse que parar de jogar pra sempre. Fora o olhar de pena e o tratamento diferente que passa a acontecer depois que a verdade sai. Pensei bastante se deveria ou não contar pra ela, até porque já tinha decidido que não ia contar pra ninguém da seleção e do trabalho em geral, mas não contava com os sintomas voltando forte dessa forma. Depois que eu contasse pra uma, a corrente da fofoca começava. Eu sei porque foi assim na minha família, contei pra uma tia que é médica pensando que ela iria me ajudar e foi passando de boca em boca até que a palavra que todo mundo me falava quando me viam era "melhoras" ou "sinto muito". E nem é algo tão grave e comprometedor assim, imagina se fosse algo pior.

Olhei pra Roberta que tinha as sobrancelhas arqueadas esperando pra que eu falasse algo. Eu não queria mesmo contar, mas senti que ela precisava saber. Ela era minha companheira de quarto, ia ver muita coisa mesmo se meus sintomas não estivessem tão ativos. Esperava que ela não me decepcionasse.

"Descobri que tenho endometriose." Sussurrei coçando a nuca. Ela pôs a mão na boca mas logo se recompôs. "Não é nada demais."

"Mas cê passa mal por causa disso? Uma prima minha tem mas ela só sente cólicas. Como tá sendo pra você?" Acariciou minha mão e segurou firme demonstrando apoio.

NocauteWhere stories live. Discover now